Já aqui tinha deixado uma primeira ideia sobre aquilo que se pode esperar da Rep.Checa, adversário de Portugal no grupo A do Euro 2008. Essa ideia, que resultou do que foi apresentado no particular frente à Lituânia, choca, no entanto, com aquilo que se pode ver mais tarde frente à Escócia. Daqui resulta o primeiro ponto de particular interesse nesta selecção checa: a sua imprevisibilidade táctica. Aqui importa contextualizar esta “ginástica táctica” com o perfil do treinador checo, Karel Bruckner que chega a este Europeu com 68 anos e uma carreira cheia de episódios que confirmam a sua obsessão por esquemas tácticos. Claro que, actualmente, esta variação só é recomendável com uma boa dose de sessões de treino que possam consolidar os princípios sobre os diferentes esqueletos. Tal não será o caso na selecção checa, dada a falta de tempo, mas isso não quer dizer que não seja útil ter dois sistemas preparados (ainda que um pouco rotinado) para uma prova com as características de um europeu.
Com efeito, a exibição frente à Lituânia não fora brilhante, particularmente devido à pouca capacidade do meio campo checo. Frente a selecções como Portugal ou Turquia, mais povoadas na zona central, essa situação pode ser fatal para os checos e Bruckner terá frente à Escócia, creio eu, revelado a sua solução para o problema: Em vez do 4-1-3-2, apresentar um 4-2-3-1.
A forma de abordar a posse de bola fica alterada neste sistema, com o recurso ao jogo directo, recorrente no 4-1-3-2, tirando partido do poderio de Koller, desaparece, em detrimento de um jogo mais apoiado e que tem a particularidade de ser direccionado essencialmente pela zona central, havendo pouca utilização das alas (com a entrada dos laterais Jankulovski e Grygera, talvez essa característica se deixe de notar de forma tão acentuada). No meio campo, a utilização do duplo pivot defensivo concede em alternância mais liberdade ofensiva a um dos dois, algo que não acontece quando actua apenas 1 (no 4-1-3-2), mas o principal realce vai para a mobilidade e, diria mesmo, alguma anarquia posicional do trio ofensivo. Esta característica tem as suas vantagens e desvantagens, sendo que o principal problema para as defesas adversárias está no factor surpresa dessas movimentações.
Quanto a individualidades, referir que o esquema que apresento diz respeito à equipa que foi apresentada na segunda parte frente à Escócia e não aquele que poderá ser o 11 mais provável neste figurino. Assim, na baliza Cech (Chelsea) é presença segura. Nas laterais, Grygera (Juventus) e Jankulovki (Milan) são os mais que prováveis titulares. No centro surge a primeira dúvida: entre Radoslav Kovac (Spartak Moscovo), Ujfalusi (Fiorentina) e Rozenhal (Newcastle) jogará apenas 1, mas qualquer que seja a opção, pode dizer-se que Bruckner está bem servido no seu elenco defensivo. No miolo, Galasek (Nuremberga) e Polak (Anderlecht) deverão ser as opções para o duplo pivot e ambos cumprem bem o papel que lhes é destinado. Também no trio mais ofensivo do meio campo poderá não haver alterações face ao que é apresentado. Com as saídas de Nedved, Poborsky e a lesão de Rosicki, Jarolim (Hamburgo) passa a ser a principal referência deste sector, onde Plasil (Osasuna) e Sionko (Copenhaga) são duas alternativas de qualidade. Aqui destaque para a capacidade de Sionko em aparecer em zonas de finalização, o que faz dele um goleador de respeito. Finalmente, na frente há várias opções da nova geração do futebol checo, mas a opção deverá ser entre os conhecidos Koller (Nuremberga) e Baros (Portsmouth), com o primeiro a levar vantagem pela capacidade que oferece ao jogo aéreo. No 4-1-3-2, as opções principais deverão manter-se, com Koller e Baros a serem os homens da frente, saindo um dos 2 pivots defensivos.
Para terminar, fica a minha projecção de que Bruckner, devido ao 4-4-2 dos suíços menos poderoso na zona intermediária, tal como expliquei ontem, possa optar pelo 4-1-3-2, surpreendendo depois com este 4-2-3-1 nos jogos seguintes. A ver vamos... já falta pouco!