É única equipa dos quartos de final que não tinha aqui destacado em algum momento. Pois bem, a primeira coisa que digo é que esta Rússia é a formação mais ofensiva do Euro. Quando faço esta afirmação não estou, obviamente, a recorrer a dados estatísticos, antes sim aos princípios tácticos das equipas. Creio que nenhuma outra formação se desequilibra tanto em posse de bola e esta é uma característica que torna a Rússia num rival totalmente imprevisível.
A forma como Zhirkov e Anyukov aparecem permanentemente na frente como se fossem extremos (repare-se que foram os 2 laterais a fazer as assistências para os golos frente à Suécia), tendo em Semak uma espécie de contra peso para este balanceamento ofensivo faz-me lembrar a tendência táctica que acontece hoje no Brasil, onde a propensão ofensiva dos laterais é compensado, ou por um terceiro central, ou por um médio muito posicional. De resto, esta equipa russa, à imagem do futebol da ex-união soviética é particularmente forte em transições e ataques rápidos, colocando sempre muita gente em acção ofensiva, criando rapidamente situações de superioridade numérica. O outro lado desta “manta” está naturalmente algo destapado. Mais ainda, pode dizer-se que a Rússia junta alguma exposição posicional em posse de bola a algumas dificuldades individuais dos seus defensores, o que faz da sua fase defensiva (sobretudo a transição) o mais fraco dos seus pontos. Aliás, esse risco russo ficou bem claro frente à Espanha...
Não se pode falar desta equipa russa sem abordar algumas individualidades. Primeiro Arshavin, um dos destaques do Euro, a aparecer com grande qualidade (e a equipa melhorou claramente com ele) no terceiro jogo da fase de grupos e mostrar que pode vir a ser um dos destaques da competição, pela técnica e inteligência com que se movimenta (quem diz que já não equipas com verdadeiros número 10?). Depois, nota para a qualidade ofensiva dos 2 laterais, Anyukov e Zhirkov, peças fundamentais nos desequilíbrios ofensivos, para a inteligência de Zyrianov e, finalmente, para a qualidade do ponta de lança Pavlyuchenko. Alguns parece que o descobriram agora, mas já há uns bons anos que é o principal atacante russo e, até, já jogou frente ao Sporting...
No jogo com a Holanda a Rússia vai encontrar uma equipa filosoficamente diferente (apesar dos preconceitos sobre esta Holanda). A Holanda tem prioridades bem diferentes dos russos, sendo segura na posse de bola e permanentemente equilibrada, esperando o momento certo para tirar partido das qualidades dos seus jogadores – já o referi, a Holanda é a equipa que melhor sabe interpretar os vários momentos do jogo. Se Hiddink não adaptar a sua estratégia terá muitas dificuldades a escapar “com vida” deste encontro com a selecção do seu país.