30.6.08

Espanha: Indiscutível!

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O Campeão
Primeiro a nota para o Campeão. A Espanha foi de facto, e indiscutivelmente, a melhor equipa do Euro. As individualidades, já se sabia, eram óptimas e se é verdade que não partilho do exagero (previsível e habitual nestas alturas) de fazer desta uma equipa perfeita do ponto de vista colectivo, creio que teve alguns méritos importantes, também nesse plano. A saber:

- Primeiro, foi uma equipa que assumiu sempre a sua característica, a qualidade da posse de bola. Aqui o destaque vai para a opção por Iniesta e David Silva. Aragonês poderia ter ido buscar 2 extremos de faixa que “encaixassem melhor” no seu 4-4-2 clássico. Assim perdeu largura, mas reforçou uma qualidade genuína da sua equipa que ninguém conseguiu parar.

- Igualmente importante foi a segurança e pragmatismo espanhol no plano defensivo. A transição defensiva é fundamental neste tipo de provas onde um golo faz toda a diferença. Senna e os laterais, pouco aventureiros, garantiram um equilíbrio permanente. Por aqui se começa a explicar o notável registo defensivo.

Creio, no entanto, e esta foi uma critica que fiz no inicio, que o 4-4-2 clássico não era o esqueleto ideal para esta Espanha. Aliás, penso que a lesão de Villa acabou por ser positiva em termos tácticos para a selecção espanhola. Dito isto, não espanta a minha conclusão de que Aragonês, apesar dos méritos que referi (e há ainda um outro que tem a ver com a liderança, mas que não vou abordar aqui), não foi um treinador particularmente brilhante ao nível da visão que demonstrou na estratégia antes e durante os jogos (particularmente pelas suas substituições quase mecânicas).

A Final

O inicio
Confirmado o confronto de 4-5-1 e a ausência de novidades ao nível de individualidades, restava confirmar a postura estratégica, particularmente da Alemanha, já que a superioridade do jogo espanhol e a própria falta de apetência de Aragonês para estas adaptações estratégicas colocavam praticamente de parte alguma coisa específica da Espanha para a final. Os primeiros minutos – e este período durou 15 minutos – mostraram uma Alemanha muito consciente daquilo que tinha de fazer no jogo. Particularmente no que respeita ao posicionamento em relação à primeira fase de pressão espanhola (onde os russos haviam falhado). Com Klose muito próximo da linha média, a Alemanha impediu dificultou muito a vida ao primeiro passe espanhol, forçando muitas vezes a serem os centrais os protagonistas desse momento (outra evidência desta preocupação alemã com a primeira fase de construção espanhola, foi o facto de terem obrigado Casillas a bater bolas longas). Neste período chegou mesmo a dar a ideia de que poderíamos assistir a uma surpresa, com a Alemanha a montar uma teia ao jogo espanhol, mas a verdade é que os alemães acabariam por, rapidamente, evidenciar as suas limitações. A falta de qualidade técnica alemã começou a vir ao de cima e as perdas em posse foram transformadas em oportunidades para o meio campo espanhol pegar, finalmente, no jogo em posições mais adiantadas no terreno. A partir daqui, a Espanha conseguiu o domínio definitivo do jogo e, pode dizer-se, terá colocado a sua primeira mão na ambicionada Taça.

O golo
A vantagem chegaria, curiosamente, numa jogada em construção numa das primeiras vezes em que a Alemanha perdeu controlo sobre Senna e, seguramente, na primeira vez em que o seu meio campo permitiu a invasão do seu espaço entre linhas. Um erro posicional que é recorrente nos alemães e que tinha identificado no jogo com a Turquia, a definição de uma só linha de médios, possibilitou que um só passe retirasse todo o meio campo germânico da jogada. A bola chegou a Xavi que fez mais um passe de rotura. Metzelder colocou-se mal, Torres teve mérito, mas o que fez Lahm é imperdoável, perdeu um lance depois de ter ganho a posição. Depois das debilidades técnicas terem entregue o domínio do jogo aos espanhóis, outra reconhecida debilidade alemã deu-lhes vantagem no jogo: as fragilidades defensivas (neste caso, primeiro em termos colectivos, depois em termos individuais).

O resto do jogo
Francamente, da maneira como vejo a história do jogo muito do que há para dizer termina no golo de Torres. A partir desse momento a Espanha passou a ter todas as vantagens na partida, jogando com os erros de um adversário que era obrigado a arriscar e tendo o acréscimo de confiança fundamental num jogo de tanta pressão. Esta ideia está reflectida na forma como a sua superioridade ficou mais patente a partir do 1-0. Convém, no entanto, mencionar aquele pequeno período de algum fulgor germânico após a entrada de Kuranyi e o restabelecimento do 4-4-2 com que a Alemanha havia debutado o Euro. Na minha perspectiva, esse período deveu-se mais a um crescendo emocional, sustentado por alguns desequilíbrios que partiram sempre de bolas divididas ganhas a meio campo, do que a um desequilíbrio táctico provocado pela alteração de Low – aliás, pelo contrário, o 4-4-2 dava mais poder ao meio campo espanhol. Neste aspecto, discordo ainda com a ideia do brilhantismo atribuído à visão de Aragonês nas substituições. De facto, justificava-se a entrada de Xabi Alonso, mas tendo visto os jogos anteriores da Espanha, diria que as substituições ter-se-iam feito mesmo que Low não tivesse mudado nada.

Desinspiração alemã
Nesta vitória de superioridade espanhola, há que referir um pormenor importante. É que ninguém esperaria que os alemães se destacassem pelo domínio do jogo. Antes pelo contrário, exigia-se que a Alemanha tirasse de novo partido da sua eficácia ofensiva e, em particular, dos lances de bola parada. A verdade, no entanto, é que ao contrário do que aconteceu em praticamente toda a competição, Ballack, Klose, Podolski e Schweinsteiger revelaram-se desastrados nos momentos decisivos. Na área nunca foram incisivos como é costume e, nas bolas paradas, assistimos a uma sucessão de livres e cantos todos apontados de forma deficiente. É impossível deixar de lembrar o contraste com a inspiração revelada frente a Portugal... Assim teria sido bem mais fácil!

Individualidades
Individualmente, podia destacar praticamente toda a equipa espanhola (pelo menos pelo que aconteceu a partir do tal quarto de hora inicial). Casillas imaculado, a defesa sempre concentrada – nota para a coordenação no fora de jogo – e o meio campo à altura da qualidade que se reconhece. O meu destaque vai, ainda assim, para Torres. Sozinho na frente foi decisivo e incansável. Xavi também poderia ser a escolha, mas esta será para sempre a final de Fernando Torres.

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