A primeira nota vai, sem qualquer rodeios, para a forma como Portugal conseguiu a vitória no jogo de abertura. Uma exibição de superioridade, controlo e domínio nos vários momentos do jogo, respondendo sempre de forma superior às adversidades que lhe foram colocadas. Bem vistas as coisas este até nem foi um jogo que se possa dizer, ter corrido bem a Portugal. Um golo anulado e 3 bolas ao poste, 2 das quais antes do sempre importante primeiro golo. Mas, como referi, esta foi uma exibição de superioridade que não ficou dependente da eficácia desses momentos.
Há, no entanto, alguma água na fervura que deve ser colocada na performance lusa, se tivermos em conta aquilo que considero ter sido alguma falta de capacidade estratégica turca. Terim surpreendeu apenas na inclusão de Kazim Kazim no meio campo, recuando Altintop para a função de lateral direito. Como havia referido, num meio campo muito estático com Aurélio (confirmou ser um jogador sem importância relevante na acção ofensiva da equipa) e Emre (bom tecnicamente mas vocacionado para um jogo menos veloz), era importante a presença de Altintop. Ao recuar o médio do Bayern, Terim perdeu o seu “dinamo” de meio campo e o jogador mais forte nos momentos de transição, ganhando em Kazim Kazim mais um jogador forte em posse mas com pouca profundidade. A opção por este jogador pode ter sido justificada por uma tentativa em ganhar superioridade nas primeiras bolas face à baixa estatura do meio campo luso. Era uma solução que já havia identificado no primeiro jogo de preparação turco e que mereceu a aposta de Terim, creio eu, sem representar uma real mais valia para o jogo turco. Terim mexeu no segundo tempo mas, mais uma vez, penso não o ter feito da melhor forma. Esperava-se que a entrada de Sabri fosse para a lateral direita, fazendo Altintop regressar ao miolo. Surpreendentemente Altintop manteve-se a lateral e foi Sabri quem veio para o meio campo, com Kazim Kazim a avançar para extremo. Com isto, ofensivamente a Turquia ganhou pouco e, defensivamente, passou a estar progressivamente mais exposta com Portugal a perceber a tendência de Altintop para sair da sua posição, colocando Ronaldo sobre a esquerda (daí o maior volume de jogo do 7 no segundo tempo).
Se em termos individuais penso ter havido algum lapso de Terim, em termos estratégicos, a minha convicção é ainda mais vincada. A Turquia apresentou-se sem uma transição ofensiva bem preparada, parecendo mais interessada em tentar discutir o jogo pela posse de bola onde, claramente, Portugal ganhava vantagem em termos qualitativos. O resultado desta estratégia do “jogo pelo jogo” turco foi o domínio luso. Sem surpresas porque, de facto, Portugal é mais forte do que os turcos.
Assim, Portugal chegou a uma vitória pela superioridade, mas deve perceber que o trabalho está ainda no inicio e que em embates futuros encontrará equipas mais inteligentes na sua estratégia, que convidarão Portugal a assumir o jogo, criando zonas de pressão onde se torna difícil ter a bola na perspectiva de lançar, a partir daí, transições que tirem partido de alguma exposição territorial lusa.
Individualmente, nota particularmente positiva para 2 jogadores. Pepe, por uma exibição notável, coroada com um golo à Beckenbauer e Moutinho, o mais dinâmico do meio campo português, juntando a esta “hiper actividade” uma qualidade de execução que o caracteriza. Aos 90 minutos lá estava ele a chegar à área contrária, como se o jogo tivesse acabado de começar...