19.6.08

Portugal-Alemanha: Estratégia em 4 momentos...

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Está aí o jogo tão aguardado! Em jeito de antevisão faço uma decomposição da estratégia lusa pelos 4 momentos do jogo. De fora ficam as bolas paradas, porque já aqui abordei em detalhe esse aspecto (particularmente os cantos). Como nota prévia, referir a opção de Scolari em manter o onze, apesar da evidente importância de um pivot defensivo mais posicional (confesso que a minha previsão iria para a inclusão de Meira) e, do lado alemão, a entrada de Schweinsteiger, previsivelmente para a esquerda do meio campo. Ainda sobre os alemães importa contextualizar as palavras de Low, indicando que tentará explorar os desequilíbrios de Portugal em posse de bola e a relevância das dúvidas Frings e Podolski.
Finalmente, e mais importante do que tudo o que escrevo abaixo, estará a concentração competitiva. Diz-se que estes são jogos que se decidem nos detalhes. Eu acrescentaria que os detalhes se decidem, precisamente, na concentração dos intérpretes.

Organização Defensiva
Em circunstâncias normais (e aplico este termo porque pode haver uma alteração estratégica frente a Portugal) esta equipa alemã tenta dominar o jogo através da posse de bola. Em organização defensiva, diria que o ponto chave está em manter superioridade numérica na zona central, forçando os alemães a recorrerem aos flancos para criar as suas jogadas. Isto porque a Alemanha tem os movimentos dos seus principais jogadores orientados para o espaço entre linhas. A saber: (1) Um dos avançados (normalmente Klose, sendo que Podolski deve jogar pela primeira vez na frente) baixa para criar um apoio neste espaço. (2) O médio esquerdo (provavelmente Schweinsteiger) abandona o seu flanco para surgir numa zona interior. (3) E, finalmente, as movimentações do próprio Ballack nunca acontecem para os flancos mas sim para o tal espaço entre linhas.
Creio que é neste momento (organização defensiva) que a exibição croata melhor deve servir de exemplo. Em particular, para Petit ficará o exemplo da movimentação de Kovac, pressionando sempre o jogador que cai na sua zona mas nunca se disposicionando. Se os avançados forem vigiados directamente pelos centrais lusos, Portugal terá sempre forma de fechar as linhas de passe na zona central. Ponto essencial neste contexto (e mais uma vez pego no exemplo croata) poderá ser ainda a acção de Nuno Gomes. Se Portugal definir uma zona de pressão próxima da linha do meio campo, Nuno Gomes não deverá distanciar-se muito dos médios na hora da pressionar. Isto permitir-lhe-á auxiliar na pressão a Frings, caso a bola entre no médio organizador vinda dos centrais, impedindo o organizador ofensivo alemão de pensar o jogo (Olic fez isto bem, facilitando muito a tarefa ao meio campo croata).
Organização Ofensiva
Creio que este será o momento que mais vezes acontecerá no jogo (a não ser que Portugal ganhe vantagem cedo). Isto porque é normal que Portugal se consiga superiorizar perante a organização ofensiva alemã, ganhando a bola e jogando em posse (não faz parte dos nossos princípios tentar dar profundidade às transições de forma sistemática). Mais uma vez, a minha orientação centra-se na importância da zona central. Não que Portugal não possa explorar os flancos alemães, mas creio que essas situações deverão ser mais eficazes em transição e não em ataque organizado, onde vejo muito mais a hipótese de tirar partido do facto dos alemães jogarem com uma linha de 2 homens (Ballack e Frings) na zona central do meio campo. Os alemães deverão, previsivelmente, fazer um dos avançados baixar para pressionar Petit, tentando impedir um 3 para 2 naquela zona. No entanto, se houver diagonais de Ronaldo ou Simão a aparecer nas costas do meio campo alemão, ou se Nuno Gomes baixar para criar um apoio naquela zona, poderemos criar desequilíbrios com passes que ultrapassem, de uma só vez, os médios alemães(1), atraindo os centrais alemães para fora da sua zona (o que é interpretado com muitas dificuldades por estes).

Transição Defensiva
Tendo em conta que os alemães têm na sua transição ofensiva o mais forte dos seus momentos e que, se tudo correr dentro da normalidade, será possível neutralizar a organização ofensiva germânica, então, este é o momento essencial para Portugal garantir o controlo do jogo.
Normalmente os alemães tentam, mal recuperam a bola, recorrer ao apoio de um avançado que serve depois de ponte para uma viragem de flanco que tira partido da permanente largura do sistema alemão. Se as coisas chegarem a este ponto é depois muito difícil controlar os alemães porque rapidamente colocam vários jogadores a aparecer em zona de finalização, onde são normalmente mortais.
O que fazer? Acima de tudo, prevenção. Isto é, em posse de bola é importante (mais do que em qualquer jogo até aqui) ter grande segurança na saída de bola (os passes de risco podem custar bem caro!) e, igualmente, garantir algum equilíbrio numérico, não avançando vários jogadores ao mesmo tempo. Pelo que venho aqui escrevendo sobre Portugal, é claro que este é o momento que mais receio (a par das bolas paradas), tendo Portugal revelado alguma falta de cautela na forma como se adianta no terreno, algo que foi até referido pelo próprio seleccionador alemão.

Transição Ofensiva
Uma das hipóteses a explorar seria libertar um dos alas – Ronaldo, preferencialmente – de acompanhamentos defensivos para aproveitar as subidas dos laterais alemães, mal recuperassemos a bola. Tenho, no entanto, dúvidas que Scolari opte por essa estratégia de forma declarada. Isto porque Portugal não tem grandes rotinas criadas para a fase de transição (pelo menos para fazer desta fase a sua principal arma), optando por jogar mais em posse e, igualmente, porque há obviamente algum risco associado a essa estratégia em termos defensivos.
Ainda assim, cada vez que houver possibilidade para aproveitar o espaço que os alemães libertem nas suas costas, a bola deve chegar rapidamente aos flancos, explorando o tal cariz ofensivo dos laterais (particularmente Lahm) e potenciando a capacidade dos nossos jogadores para desequilibrar no 1 contra 1.

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