Ao quarto semi finalista surge uma Espanha que se torna na única Selecção com um percurso imaculado a chegar a esta fase da prova. Num registo de aposta na continuidade, Aragonês tem uma ideia de jogo consolidada que, como referi após o primeiro jogo, não me parece nada brilhante, mas que é sustentada por um leque de individualidades fortíssimo. Este é, aliás, o grande ponto forte espanhol quando comparado com os restantes semi finalistas. Não encantou colectivamente como a exibição russa frente à Holanda, mas, como se sabe, o peso das individualidades pode mesmo ser o mais relevante para definir o campeão...
Frente à Itália, a Espanha apareceu com Senna numa posição mais fixa como médio mais recuado atrás de uma linha de 3 (tendência natural já revelada durante os primeiros jogos), fazendo sempre o seu jogo assentar na qualidade que os seus jogadores oferecem à posse de bola. Esta é a característica da selecção espanhola que rivalizou, neste jogo dos quartos de final, com uma Itália disposta a não discutir tanto a posse de bola, e optar, antes sim, por um jogo de processos mais simples que tem sempre em Luca Toni uma referência prioritária. O que se viu foi um jogo prudente de parte a parte, sem desequilíbrios posicionais em posse de bola e uma preocupação permanente evitar as tão temidas transições do “inimigo”. Houve oportunidades, é certo, mas o 0-0 não é um resultado nada estranho.
Apesar de entender que o jogo foi bastante equilibrado, tendo em conta as características e objectivos no jogo de cada uma das equipas, parece-me que a Espanha acaba, de facto, por ser o mais justo dos vencedores. A selecção espanhola tem dificuldades evidentes em apresentar movimentos rotinados, tirando, ao invés, partido da já falada qualidade dos seus jogadores, que acabam, umas vezes melhor, outras pior, por compor as jogadas ofensivas. Há ainda uma notória dificuldade em dar largura ao seu jogo ofensivo, com os médios ala a jogarem muito mais no espaço interior e os laterais a aventurarem-se muito pouco ofensivamente. Ainda assim, maiores terão sido as limitações da selecção italiana. É certo que, ao contrário da Espanha, sabe sempre a forma como vai fazer a bola chegar às zonas de finalização, tendo um jogo mais vertical e objectivo, mas o recurso a Luca Toni tornou-se obsessivo e acabou por absorver em demasia as acções ofensivas dos transalpinos. Ora com passes verticais para as costas da defesa (na ausência de Pirlo este recurso foi claramente menos eficaz), ora com cruzamentos largos, sempre à procura de Toni (muitas vezes feitos com a participação ofensiva dos laterais), as jogadas italianas acabavam sempre por morrer na incapacidade que Toni revelou para vencer os seus duelos ofensivos. Com Donadoni a não apresentar qualquer alternativa ao avançado do Bayern, foi a Espanha quem acabou por dar melhor sequência às suas acções.
Vencendo nos penaltis e num dia traumático, a Espanha acredita agora que, quebrada barreira psicológica dos quartos de final, esta poderá, mais do que nunca, ser a equipa vencedora do Euro. Será muito curioso a repetição do embate com os russos, mas não creio que, em caso de derrota, esta seja uma experiência com menos sabor a frustração para os espanhóis...
Breves notas individuais para Fabregas e Aquilani. O primeiro mexeu com o jogo com a sua entrada e será, assim à moda da basquete, o melhor 12º jogador desta prova. O segundo era uma curiosidade que tinha de ver jogar nesta prova. Infelizmente o posicionamento de Aquilani, descaído sobre a direita, acabou por tornar o jogo deste entusiasmante jovem da Roma numa exibição muito discreta... é que nem um rematezinho!