9.8.11

Sporting 2011/12: balanço de pré época

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Ponto prévio, incerteza: Qualquer projecção futura tem, por definição, uma incerteza inerente. Chegar a graus de probabilidade mais elevados é um desafio bem mais árduo do que a maioria das pessoas supõe, mas é esse o desafio que me interessa e aquele que justifica toda a dedicação que destino ao "tema futebol". O caso do Sporting 2011/12, e neste timing concreto, é especialmente interessante, porque pode-se fazer a análise de 2 perspectivas. Uma, mais pessimista, centrada em elementos de pré época e noutros problemas que, a meu ver, são evidentes. Outra, mais optimista, centrada essencialmente nas projecções que se podem fazer a partir dos trabalhos passados de Domingos. Por motivos que adiante explicarei, estou mais inclinado para a segunda, a mais optimista, arriscando numa melhoria substancial de rendimento face aos 2 anos anteriores. O grau de sucesso, não quero aqui precisar porque, em competição, nunca se depende apenas de si próprio. Ainda assim, e sem deixar de assumir as minhas leituras para critica futura, faço questão de começar por confessar alguma insegurança nos elementos que estou a utilizar.

Que sistema? - 4-1-3-2, 4-4-2, 4-2-3-1, 4-3-3... já se falou de tudo um pouco. A diferença, bem vistas as coisas, não é muita. Os princípios são os mesmos, e os comportamentos mudam, essencialmente, num jogador, aquele que joga mais próximo do avançado, podendo ser "mais avançado", ou "mais médio". Em relação ao 4-2-3-1 que se viu em Braga, há uma alteração comportamental no meio campo, perdendo-se a simetria e com um médio (Rinaudo) a assumir uma postura mais posicional. Depois, se o elemento de ligação com o avançado for assumidamente mais próximo deste (como frente à Juventus ou ao Valência), há uma distinção entre o seu papel e o do outro médio, que necessita de fazer a aproximação entre os avançados e o médio mais posicional. Este papel foi interpretado por Schaars. A partir da segunda parte do jogo com o Málaga, houve uma aposta numa estrutura comportamental mais próxima do 4-3-3, com o papel entre os 2 elementos ligação a ser mais simétrico, e com a presença junto do avançado, no pressing, a alternar em função do lado da bola. O papel dos alas no equilíbrio ao centro também fica afectado, já que há, por norma, mais presença, mas o comportamento global da equipa não se altera em nenhum momento. Ainda assim, creio que seria benéfico Domingos encontrar um sistema base, bem como os seus principais protagonistas. Aliás, creio ser essa a intenção do próprio. Arriscaria que, com Matias, o 4-3-3 ganhará maior probabilidade, mas sem o chileno (e sem Aguiar e Izmailov), essa hipótese pode estar mais condicionada.

Aspectos defensivos - Talvez possa ser estranho, mas sou da opinião que um dos aspectos positivos desta pré época, vai para o que se viu da linha defensiva. E, aqui, distingo aquilo que é o posicionamento em altura de 4 jogadores, do produto do sistema defensivo, como um todo. Houve coerência na posicionamento, com poucos exemplos de jogadores a ceder à tentação de desfazer a coerência da linha com acompanhamentos individuais, e com muitos fora de jogo a serem tirados, ao contrário do que aconteceu no ano passado, onde, perante o mesmo tipo de intenção, muito mais erros aconteciam.
Por outro lado, também não vi demasiado espaço entre centrais e laterais, ou mesmo entre sectores, como foi denunciado em diversas opiniões. Vi, isso sim, dificuldade da linha média em controlar o tempo de passe e em controlar zonas de pressão, de onde a bola não deve sair, uma vez entrada. Vi erros individuais em posse, que potenciaram transições muito complicadas de controlar. Vi jogadas estrategicamente trabalhadas para colocar a bola nas costas do lateral (mas raramente não entre este e o central). Vi, por fim, erros individuais em situações de bola parada, e más saídas pontuais dos médios (Rinaudo), na ânsia de corrigir o que a primeira linha do pressing não conseguiu neutralizar (mas não espaçamento estrutural entre sectores).
Várias coisas, portanto, mas não tudo, nem tudo o que se disse. Aqui, e para finalizar, reforço um problema que me parece essencial e que tem a ver com a agressividade da linha média e avançada no trabalho defensivo. Algo que me parece ter convergido para o reforço da linha média a partir da segunda parte do jogo com o Málaga.

Aspectos ofensivos - O que mais surpreende será, talvez, a pouca capacidade da equipa em situações de transição defesa-ataque. Não nas transições curtas, produto de recuperações altas do pressing, mas nas recuperações mais profundas, de onde a equipa raramente se desdobrou com qualidade. A surpresa tem a ver com aquilo que o Braga era capaz de fazer neste momento, e com a valorização estratégica que o próprio Domingos lhe dava.
Ao nível da organização e ataque posicional, também a maior presença de médios (4-3-3) pareceu fazer evoluir a equipa. Particularmente, no jogo com o Valência e primeira parte com o Málaga, a equipa teve muitas dificuldades em construir. O contra-exemplo mais representativo é mesmo a segunda parte frente ao Málaga, já que, quer Udinese, quer Juventus, não apostaram num condicionamento tão forte sobre a fase de construção.
A questão individual torna-se decisiva na melhoria da equipa em toda a sua vertente ofensiva. Os aspectos ofensivos devem ser potenciados em especificidade, partindo das características dos jogadores para as dinâmicas previstas. Aqui, em termos de potencial, parece-me que há um maior condicionalismo na saída em construção. Por um lado, porque se prevê um decréscimo de qualidade na capacidade dos centrais neste plano (será o ponto fraco de Rodriguez, e Onyewu é o mais limitado dos 4). Por outro, não se vê ainda uma grande capacidade na resposta às primeiras bolas aéreas, uma alternativa que o Braga explorava muito em jogos de maior grau de dificuldade.
Tal como referido acima,torna-se importante que Domingos encontre rapidamente a sua estrutura base, para poder evoluir em especificidade.

Competição, precisa-se! - Há um aspecto que não foi avaliado - nem podia - na pré época. Dois, na verdade, mas ambos têm a ver com a competição onde "ganhar" é o objectivo. O lado estratégico do jogo, e a resposta mental da equipa. Estas 2 vertentes foram, indiscutivelmente a grande força das equipas de Domingos, e a grande justificação para os resultados extraordinários que continuadamente o treinador vem conseguindo. Por exemplo - e isto não serve para extrapolações lineares - o Braga havia perdido os seus jogos de apresentação nas 2 épocas sob o comando de Domingos, tendo feito, depois, um arranque fulgurante na época oficial. Este é, já agora, o capítulo que justifica alguma perspectiva de uma época acima das expectativas, por parte dos Sportinguistas. Aliás, com Domingos, e até agora, foi sempre assim, "acima das expectativas"...

Lesões, uma preocupação - Se projectarmos um onze ideal, dentro das actuais soluções, dificilmente alguém excluirá Rodriguez, Matias e Izmailov. Ora, também dificilmente projectará uma época imaculada em termos de lesões para qualquer dos 3. Dito isto, e acrescentando o risco de outras unidades padecerem desse mesmo mal, é bastante provável que o Sporting 2011/12 seja (ou continue a ser) uma equipa com um departamento médico atarefado. Que consequências terá?

Opções individuais - Já várias vezes me expressei sobre algumas unidades, pelo que não quero cair na redundância, neste texto. Exploro, ainda assim, alguns casos.
Primeiro, os centrais. Especula-se sobre a hipótese de o Sporting procurar outro jogador para esta posição. Sendo ou não verdade, entendo que será prudente fazê-lo. Porque Rodriguez, um titular previsível, tem o tal problema do histórico de lesões, e porque Onyewu também o tem, não sendo, por outro lado, uma opção muito credível, a meu ver. E fundamento-me em 2 aspectos principais para a critica ao americano: capacidade em posse (não o critério, mas a falta de capacidade de arrojo mínimo, que se tornará um "alvo" óbvio para qualquer adversário), e capacidade de resposta em zonas onde é necessário antecipar e reagir (jogando alto e de forma mais pressionante). Ou seja, seria, a meu ver, mesmo aconselhável ter outra solução...
No meio campo, o tal problema da falta de reactividade, onde se exclui o caso do incrível Rinaudo. Aqui, destaco as dificuldades, mais previsíveis, de Schaars e André Martins, e mais surpreendente (ainda que reincidente), de André Santos. Creio que nestas contas pode entrar Izmailov, um acréscimo de valor e bom complemento para Rinaudo. Melhor do que Schaars, parece-me, ainda que holandês seja também um bom valor.
Mais à frente, creio que, seja qual for o sistema, Domingos apostará entre Matias, André Martins , Aguiar ou Postiga, sendo Izmailov outra possibilidade eventual. Com Postiga, dificilmente a opção passará por um 4-3-3, ficando, nessa hipótese, a solução muito dependente da disponibilidade de Matias ou Izmailov, já que não entendo haver grande mais valia em Aguiar ou (para já) André Martins.
Nas alas, a boa notícia é a capacidade de trabalho de todas as opções, algo fundamental para quem quer manter-se alto e agressivo no jogo. Djalo é o caso mais forte neste plano, e aquele que garante um estilo diferente dos outros. Mais incisivo e forte em zonas de finalização, e menos fiável em posse. Dos outros, o tempo para opiniões muito vincadas ainda é curto. Jeffren parece poder acrescentar algo em termos de 1x1, algo em que o plantel se encontrava carente. Ele, e Carrillo, uma das surpresas da pré época. Carrillo será, até, o que mais mostrou dos novos extremos, mas fica-me a dúvida sobre a sua resposta no último terço, em termos de definição. Um extremo não pode precisar de 2 "toques" entre si e o golo. Falta ver mais, para estes e para Capel.
Finalmente, na frente. Sobre Postiga, estamos conversados. Podia trazer mais análises de desempenho passado, mas parece-me tão trivial o ponto sobre a improbabilidade do seu rendimento como principal finalizador, que me vou dispensar desse trabalho. Wolfswinkel é a aposta óbvia. Afinal, quem dá 5 milhões não abdica da aposta por 1 pré época. Compreendo a coerência dessa medida, mas, na leitura que já havia deixado, o holandês dificilmente será um finalizador muito eficaz (ainda que valha mais do que o que mostrou). Tinha tudo para ser um problema, não fosse... Rubio. A sensação da pré época pode ser uma das melhores aquisições dos últimos anos. Tem óptima abordagem à zona de finalização, mas foi também o que melhor resposta deu em termos de agressividade defensiva e jogo aéreo (primeiras bolas), não ficando a perder em termos de jogo de apoio, pelo menos face ao que os outros mostraram. Já havia deixado as minhas suspeitas, e, tudo somado, dificilmente a pré época terá sido um engano. A idade e o estatuto? Pois claro, esses serão os seus obstáculos para uma aposta séria e no imediato. Porque mais nada o justifica. Resta Bojinov, que deu muito boa resposta frente à Juventus, jogando de costas para a baliza. Na minha leitura, será entre Rubio e o búlgaro...
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