1.8.11

Notas do Sporting - Valência

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Antes de mais, uma nota à margem do tema do post, para fazer um ponto de situação sobre a actividade do blogue. Nas últimas semanas tenho-me dedicado à análise de reforços dos 3 "grandes". Esse "capítulo" encerra agora, passando a dedicar-me à análise dos jogos das equipas. Progressivamente, entrarei no ciclo de análises que pretendo disponibilizar ao longo da época.


1- Começando por uma abordagem fria ao que se viu, convém referir que o Sporting não perdeu de forma clara por um acaso, ou por um grande diferencial em termos de eficácia. Essa é, muitas vezes, a justificação para diferenças significativas entre equipas de valia equivalente, mas, desta vez, o Sporting não só foi incapaz de controlar defensivamente o adversário, como não produziu o mínimo exigível em termos ofensivos. A relativização do sucedido pode, e deve, acontecer, mas não por uma subversão do que realmente se viu.

2- Outro pormenor que convém não confundir, tem a ver com o que é individual e o que é colectivo. Isto é, a conclusão mais importante do jogo tem a ver com aspectos colectivos, que devem ser melhorados, mas houve um grande peso da componente individual, particularmente no encaminhar do destino do jogo. Por exemplo, os primeiros sinais de ameaça do Valencia, resultam de um má abordagem a pontapés longos de Diego Lopes, com Oneywu e Evaldo em destaque negativo.

3- O mérito do Valência. Não penso que o Sporting se deva desculpar com o mérito do adversário. O Valência é uma equipa de qualidade acima da média, já se sabia, mas que deve estar ao alcance do Sporting, pelo menos para discutir o jogo. A diferença que se viu, não se pode justificar pelo lado do Valência. Em particular, o Valência foi uma equipa interessante, porque se apresentou como uma espécie de antídoto para tudo o que o modelo de jogo de Domingos pretende. Domingos pretende pressionar de forma agressiva? O Valência está preparado para sair intencionalmente desse tipo de pressão. Domingos pretende encurtar o campo, assumindo um risco nas costas da sua linha mais recuada? O Valência está preparado, precisamente, para explorar esse espaço. Mais ainda, notou-se uma grande diferença de desenvolvimento na resposta colectiva a situações específicas de jogo. Por exemplo? Os lances de bola parada. Desde os lançamentos laterais (os 3 golos resultam desse tipo de situação), até à resposta após as bolas paradas defensivas (as principais transições defesa-ataque do Valência nasceram assim).


4- Um dos aspectos mais importantes da ideia de jogo de Domingos, é o pressing e a resposta em organização defensiva. A opção feita vai para um pressing agressivo, mas também previsível, no sentido em que a agressividade acontece sempre. Não há problema nisso, muitas equipas o fazem, mas é preciso ter muito boa capacidade de resposta para evitar dissabores, como os que aconteceram. Um dos principais problemas tem a ver com a resposta da primeira linha, em termos de agressividade e reactividade. Por exemplo, há uma enorme discrepância entre a resposta de Djaló (que se torna numa mais valia neste momento do jogo) e Postiga (veja-se a origem do segundo golo). Depois, a agressividade colocada na primeira linha e a altura do bloco, colocam grande pressão sobre os elementos da linha média para recuperar a bola, sendo essa exigência o motivo de algumas saídas sem critério que podem expor o espaço "entrelinhas" e o risco de exposição da linha defensiva. Aqui, claramente, houve uma diferença da primeira para a segunda parte. Jogando em 4-1-3-2, as saídas de Rinaudo da sua posição tornavam-se demasiado arriscadas. Na segunda parte, Domingos rectificou, e colocou 2 médios mais próximos, perdendo proximidade com a primeira linha de pressão, mas garantindo maior protecção e equilíbrio na frente da defesa. Domingos poderá tornar o pressing mais criterioso e menos impulsivo, ou continuar a trabalhar a sua resposta e organização neste nível de exigência, mas ficou claro que terá de continuar a evoluir neste plano. Um pormenor sobre a resposta do Valência: Repararam na influência intencional e trabalhada do guarda redes na resposta ao pressing? É uma tendência evolutiva do futebol da próxima década. Em Portugal? Só conheço 1 equipa que o faz...

5- Outro dos aspectos em evidência pela negativa, vai para o que a equipa fez com bola. E não estou ainda a falar da zona criativa, que parece o capítulo onde há mais por definir, sobretudo em termos de quais serão as características dos protagonistas principais. Refiro-me à zona de construção, onde o Valência conseguiu potenciar alguns erros. Em particular, houve uma intenção de sair pelo corredor central, usando a presença de Rinaudo. Ora, desde logo, sair repetidamente pelo corredor central não é para todos. Há maior risco no caso de perda, e é mais difícil o papel de quem recebe, nomeadamente na colocação dos apoios no acto da recepção. Muito menos, o Sporting revela qualidade para o fazer. Em particular, não se deve confundir as características de Rinaudo. É um excepcional recuperador, tem óptimo critério em posse, mas critério não é qualidade de passe. E, no que respeita à qualidade de passe, Rinaudo não é excepcional, nem representa qualquer mais valia em relação aos outros elementos do plantel. Aqui, mais uma vez, houve uma diferença da primeira para a segunda parte, com o 4-1-3-2 a dar lugar ao 4-4-2, e a não dar uma referência tão óbvia à pressão contrária nessa zona do campo, e do jogo. Já agora, convém referir que Schaars é, muito claramente, um jogador de fase de construção, pelo que deve fazer parte das rotinas principais da equipa nesse plano. Depois, o óbvio. João Pereira é o lateral mais forte do campeonato português (opinião pessoal, e que posso fundamentar facilmente) a sair a jogar, pelo que o Sporting deve usar intencionalmente o seu corredor para iniciar as jogadas. Aqui, aconselha-se mesmo uma assimetria (que vai inevitavelmente acontecer, acrescento) de protagonismo em relação ao corredor esquerdo.

6- Entrando no capítulo individual (e sem querer partir para grandes pormenores, que guardo para mais tarde), começo pelo sector mais fustigado, a defesa. Dos 4 que começaram, todos erraram, e com consequências. Mas, cada caso é um caso. João Pereira tem lacunas, próprias do tipo de lateral que é, mas é uma mais valia rara no Sporting. Admito que haja outros critérios menos térreos e muita gente que não simpatiza, mas na minha análise, e nos meus critérios, isso é escandalosamente claro. Evaldo, por outro lado, é uma menos valia regular que o Sporting optou por não corrigir no seu plano de "assalto ao título". Mais uma vez, nos meus critérios, um erro óbvio. Depois, os casos de Carriço e Oneywu são como água e vinho. Carriço errou, mas fez um jogo que, dentro do possível e da exposição que teve, foi bastante bom. Oneywu, terá feito, em 45 minutos, uma exibição pior do que qualquer central do Sporting no último ano. De facto, é um jogador que, em relação às soluções que existiam representa um retrocesso a toda a linha. Inexplicável, mas isto são, outra vez, os meus critérios. Depois, na segunda parte, uma aragem. Rodriguez, primeiro, Polga, depois. São dois jogadores que, embora com pouca capacidade para corrigir bolas nas costas, têm uma notável leitura defensiva do jogo, nomeadamente na antecipação que fazem no espaço. Polga é o mais forte, quer na antecipação, quer ao nível da qualidade de passe (ainda que se possa criticar a sua tendência para sair longo). Rodriguez é mais forte dentro da área, em situações de marcação mais directa. A boa notícia, para o Sporting, é que este jogo deve ter deixado Domingos escaldado. A má? É que poderá ter de recorrer a quem não deve, demasiadas vezes...

7- Do meio campo para a frente, começo com Izmailov. Pode não estar num bom momento físico, ou até ter tido um mau jogo, mas... será que é encostando o jogador à linha que o Sporting vai tirar melhor rendimento dele?! Honestamente, Izmailov é das poucas mais valias que reconheço na equipa, em relação ao plantel que iniciou a época passada. Mas tem de jogar no corredor central. Tem critério, tem qualidade técnica, criatividade, capacidade de trabalho... o que faz na linha?! Depois, Djaló. Não é um jogador fácil de compreender, mas não é por isso que deve ser mal compreendido. É instável em posse, mas tem 2 mais valias neste momento raras na equipa: reactividade defensiva e é incisivo como muito poucos. Estará para este Sporting um pouco como Paulo César estava para o Braga.

8- Para terminar estas notas (que, pretendendo sê-lo apenas, já vão longas), falar da zona ofensiva. Não há lugar a floreados... se o Sporting quer mesmo discutir o título, quer mesmo ganhar, tem de pensar em fazer golos. Sobre as dinâmicas colectivas falarei mais tarde, até porque ainda há muitas indefinições. Mas, a nível individual, o grande desafio do Sporting neste defeso era, a meu ver, alavancar o seu potencial no último terço. Seja pela via criativa, ou finalizadora. Faltam, nesta equação, algumas variáveis, como Matias, que pode ter um papel importante, alterando até a característica da primeira linha ofensiva. De todo o modo, parece-me uma aventura pensar em atingir certos patamares, projectando Postiga como principal finalizador. Havendo maior capacidade concretizadora noutros elementos, isso ainda poderia fazer sentido, mas o Sporting tem médios com pouca profundidade (Schaars e Rinaudo), Capel (ou mesmo Jeffren) são jogadores exteriores e que não dão garantias de capacidade goleadora. Os centrais... o histórico é conhecido. Postiga leva mais 4000 minutos na liga, com a camisola do Sporting, marcou 11 golos, excluindo penaltis. Ou seja, teria de duplicar a sua produtividade (golos/minuto) para entrar em patamares aceitáveis para um melhor marcador de uma equipa com 60 golos. Pessoalmente, não conheço nenhum caso de um jogador que, 4000 minutos depois, tenha invertido de forma tão drástica a sua capacidade concretizadora. Resumindo, se o Sporting está a pensar discutir o título, neste quadro envolvente, e projectando Postiga para ser decisivo em termos de finalização... o melhor é preencher também alguns boletins do euromilhões. Afinal, nunca se sabe...

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