23.8.11

Benfica - Feirense: opinião

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- "Vitória sofrida". A adjectivação, desde já, não é questionável. O "sofrimento" é uma emoção, e as emoções sentem-se, não se discutem. Esse é o primeiro ponto de reflexão que gostaria de deixar. Ou seja, a importância da emoção, e a sua sobreposição sobre razão, na definição da percepção que temos sobre o jogo, e os seus protagonistas. Fica, realmente, a sensação de que o Benfica poderia ter deixado escapar os 3 pontos em cima da meta, mas isso não quer dizer que tenha feito pouco para ganhar. Pelo contrário, somadas todas as incidências do jogo, os 2 golos de vantagens dão, até, maior justiça ao marcador. Recuperando a breve introdução filosófica, e como qualquer especialista em inteligência emocional seguramente concordaria, é importante manter-se uma capacidade critica e de auto reflexão, em relação à influência da componente emocional na percepção que temos sobre o jogo.

- Entrando no jogo, propriamente dito, a primeira parte deu-nos um Benfica dominador e consequente, em termos de proximidade com o golo. Tipicamente, diria, o Benfica tem um objectivo primordial neste tipo de jogos: chegar ao último terço. Se o fizer, tem, depois, tudo para ganhar vantagem no jogo. Não só pelo talento, mas, sobretudo, pela forte reacção à perda, e, também, pela força que tem nas bolas paradas. É essa a história da primeira parte: foi superada a fase de construção e, com maior ou menor brilhantismo, chegaram as oportunidades e as condições para ter acabado, logo aí, com o jogo.

- Apesar de ter sido bem sucedido nessa primeira parte, não creio que haja grandes motivos para euforias no que respeita à construção do Benfica. O Feirense mostrou-se estrategicamente preocupado com Javi, mas como Javi não é um ponto de saída primordial, facilmente o Benfica ultrapassou o condicionalismo na primeira linha, inclusive tirando partido do tradicional recuo do pivot, para alargar os espaços no bloco contrário. Não só o Benfica chegou com facilidade ao último terço, como não teve problemas de controlo de segurança em posse, nessa zona. De resto, há, na construção, um ponto a reflectir, e que recupero de algo que já havia escrito há pouco tempo. Tem a ver com a assimetria provocada pela saída de Coentrão. O Benfica mantém a sua filosofia de progressão, diria, em "atropelo". Ou seja, seja qual for o corredor escolhido para a saída, não há uma grande preocupação em trabalhar o espaço, e os jogadores forçam a entrada. É assim à direita, com Maxi, ao meio, com Aimar e Saviola mas, agora, não tanto à esquerda, com Capdevilla ou Emerson. Isto, porque nem um nem outro têm esse perfil. Particularmente, Capdevilla é um jogador mais criterioso e menos agressivo, ao contrário de Maxi ou Coentrão. Se, à direita, a bola circula, na maioria das vezes, de Luisão para Maxi e deste para o extremo, forçando a entrada mesmo que o lado esteja fechado, à esquerda esta sequência necessita sempre de um ponto de apoio interior. Se juntarmos aqui Garay, outra novidade em 2011/12, temos uma situação que será curioso acompanhar, em termos de evolução.

- E a segunda parte? Bom, em primeiro lugar, recupero a ideia do primeiro ponto. Isto, porque o Feirense marcou na sua primeira oportunidade, sendo esse um lance de enorme impacto emocional, mas que não reflectiu uma tendência acentuada no jogo. Depois, não é possível esperar que as equipas mantenham uma intensidade constante e tão elevada ao longo de 90 minutos. Ou melhor, é possível, mas não é provável. Por isso, a importância de se ser eficaz quando a oportunidade surge. De resto, o Feirense fez-se sentir junto de Artur, quase sempre em situações de transição rápida, sobretudo após lances de bola parada, do lado contrário. Onde, talvez, mais motivos existam para preocupações, é na dificuldade que o Benfica voltou a demonstrar para gerir o jogo, e se colocar a salvo do sobressalto. Repare-se na melhor ocasião do Feirense, já com 2-1: o Benfica sai pela direita, com Maxi a dar em Perez e, de imediato a fazer o "overlap", retirando apoio ao argentino, que recebeu pressionado, e de costas. É o tal futebol de "atropelo". Não há nada a apontar em termos técnicos, mas o ponto é mesmo esse. A equipa preferiu o risco da progressão impulsiva (em que é muito forte, não confundir), e expôs-se ao mérito que o adversário pudesse ter em transição, caso a iniciativa encarnada não fosse bem sucedida. Valeu que, no caso, o mérito do Feirense só durou até à finalização, mas fica mais um exemplo da forma como o Benfica cria condições para a transição adversária, ao não trabalhar o critério em construção.

- Uma nota final para duas situações. A primeira, tem a ver com a substituição de Witsel por Gaitan. Não parece, de facto, fazer muito sentido a alteração com 1-1 no marcador. Witsel, creio que é praticamente consensual, é uma mais valia que deve fazer parte da solução principal da equipa. O ponto aqui é que Jesus não parece saber muito bem o que fazer com as suas soluções. Não inclui o belga nas opções iniciais e, depois, sente-se obrigado a lança-lo, fazendo-o numa altura em que a equipa precisava mais de criatividade e não tanto de consistência e equilíbrio. A segunda, tem a ver com a importância que tem a eficácia e a presença de elementos que possam materializar o ascendente naquilo que, realmente, é o objectivo do jogo: o golo. Refiro-me, claro, a Cardozo e Nolito.
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