15.8.11

Sporting - Olhanense: opinião

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- Começo com uma reflexão em torno de "jogar bem" e "ganhar". "Eu quero é que a equipa jogue bem!", ouve-se e lê-se, com frequência da parte dos adeptos. Mas, será mesmo que uma boa exibição seja mais satisfatória do que uma vitória? A resposta, a meu ver, é óbvia. Para os adeptos (pelo menos, para a maioria), e para os protagonistas, uma boa exibição, sem vitória, traz frustração. Uma vitória, sem boa exibição, traz, no mínimo, alívio. "Ganhar" é o objectivo do jogo, e "jogar bem" é o garante de que se está mais próximo de atingir esse objectivo, com regularidade. Por isso, "jogar bem" é o objectivo dos treinadores no inicio das temporadas, e "ganhar" é o objectivo das finais, e do jogo-a-jogo. Ou alguém já ouviu algum adepto ou protagonista abordar uma final apontando "jogar bem" como principal objectivo? "As finais são para ganhar!", foi a frase que Mourinho celebrizou, e o verbo não é um pormenor. Enfim, o ponto (que recupero de outras reflexões recentes...) é que o Sporting, como qualquer equipa, tem de começar por se preocupar em "jogar bem", sim, mas não pode esquecer certos pormenores, se quiser realmente "ganhar".

- Mantendo-me no mesmo âmbito - da eficácia - parto para os casos específicos deste jogo, alertando, porém, que 1 jogo não serve para fazer generalizações. Aliás, se é certo que o Sporting não repetirá com facilidade jogos em que exerça tanta supremacia, é também evidente que só por muito azar terá outro exemplo de tão grande desnível de eficácia. E aqui, na eficácia, importa abordar os 2 extremos do campo, porque se é improvável que se faça apenas 1 golo em tantas ocasiões, é-o também, e bastante, que se sofra algum, perante tão escassa produtividade ofensiva do adversário.

- Começando pelo lado defensivo, diria que o golo não parece ser, de todo, indefensável. O remate é muito forte e tem uma trajectória difícil, porque a bola desce rapidamente, mas parece ser, também, uma grande distância, havendo uma margem considerável (1 metro?) para o poste mais próximo, relativamente à zona em que a bola entra na baliza. Juntando estes 2 factores, parece-me claro que a reacção de Patrício não é tão rápida como seria desejável, mas admito poder estar a ser injusto para o guarda redes. Nesta altura, é-me difícil fazê-lo, mas durante este ano farei uma avaliação mais consistente da resposta do guarda redes, neste aspecto...

- Relativamente ao capítulo ofensivo, que é aquele sobre o qual mais tenho escrito, quero começar por reforçar a ideia acima levantada. Ou seja, não é por um jogo que se podem analisar tendências, ou, tão pouco, que o meu ponto se revela correcto. Postiga podia ter feito, facilmente, 2 ou 3 golos neste jogo e isso não faria dele uma grande solução, a prazo, para o papel que lhe foi destinado (finalização). Entendo a avaliação que faço como extremamente sólida por ser baseada em factos de longo prazo, e é no longo prazo que ela se aplica, também. No fundo, é a lei dos grandes números, pode-se ganhar ou perder no imediato, mas, a prazo, será a tendência a prevalecer. Mas há uma coisa que estava correcta na minha avaliação (e que, creio, poucos anteciparam no inicio da temporada), desde que analisei Wolfswinkel: Postiga seria o mais sério candidato a partir para a temporada como principal referência ofensiva.

- Passando a outros capítulos do jogo, começo por realçar as diferenças de qualidade entre a oposição que o Sporting teve nos últimos 3 jogos da pré época, e aquela que encontrou no primeiro dia da temporada. Nada a ver. O Olhanense foi uma equipa submissa em termos de presença pressionante, baixou demasiado as linhas e permitiu que o Sporting chegasse ao meio campo ofensivo. Um erro, ou uma incapacidade? Não sei ao certo, mas o facto é que, com a reactividade à perda que o Sporting tem, isso determinou uma diferença avassaladora no domínio do jogo. A reacção na transição ataque-defesa, é um primeiro sinal da qualidade acrescida que o Sporting 2011/12 terá. Um sinal relevante, e que tem origem na natureza organizativa e colectiva da equipa. Ainda assim, quero destacar a característica dos 2 centrais do Sporting (omito o óbvio, Rinaudo), porque são, talvez com Otamendi, os 2 jogadores que melhor jogam em antecipação em Portugal. E, como já referi anteriormente, jogar com linha alta não serve apenas para aumentar a estatística do fora de jogo. Serve para criar condições para pressionar no espaço reduzido.

- Ao nível da construção, como já escrevi, o Olhanense pareceu não ter grande preocupação em condicionar essa fase de jogo, ou potenciar o erro. Ainda assim, o Sporting surgiu bem, diversificando pontos de saída, e com boa dinâmica. Destaco 2 movimentos que, sem grande pormenor na análise, me pareceram intencionais. 1) A colocação de Rinaudo, descaído para a esquerda dos centrais, e 2) a ligação directa de Polga para Evaldo, aproveitando a boa capacidade de passe do central, para fazer, repentinamente, variar o ponto de saída. Há, ainda assim, que continuar a evoluir, destacando-se o potencial da ala direita.

- Ao nível dos corredores laterais, alguma assimetria de potencial. À direita, Jeffren parece confirmar-se como um excelente mais valia, dando ao Sporting a tal capacidade no 1x1 que faltava. Para além disso, a presença de João Pereira pode significar uma ala direita de grande dinâmica e qualidade, num entendimento que pode, e deve, conhecer evolução. Isto, apesar de não me parecer um grande inicio de temporada do lateral, abaixo do que pode fazer. À esquerda, por outro lado, Evaldo não tem a mesma capacidade, e não me parece, tão pouco, ser o melhor complemento para Djaló, nas dinâmicas do corredor. O português tem uma óptima relação com o golo, mas não pode ser explorado em acções junto à linha, porque tem uma má capacidade de transporte e gestão da posse. Como já referi noutras ocasiões, é uma solução que tem características diferentes das de Capel ou Jeffren, mas tem de ser devidamente enquadrado, o que não me parece ter acontecido.

- Foi, enfim, uma boa estreia, no sentido em que o "jogar bem" promete poder fazer a equipa "ganhar" mais vezes. Não há surpresa, é algo que a chegada de Domingos já prometia, fosse qual fosse o contexto. Sobre isso, e porque escrevi noutras ocasiões que o plantel não me parecia mais forte do que o de há 1 ano, quero aproveitar para rectificar a opinião, após as contratações de Capel e Jeffren (posteriores a essa avaliação). Há, de facto, mais qualidade, também no capítulo individual. Mesmo se continuo a pensar que se mexeu demasiado, e menos bem em alguns sectores (Onyewu e Wolfswinkel parecem dar-me razão), e que faz muita diferença, para quem quer "ganhar", ter ou não ter um Liedson. Mas, para isso, também há remédio...
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