26.3.07

Portugal - o render da guarda no miolo

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Do resultado do jogo sai – pela expressividade dos números e genialidade dos golos – o sentimento de que em Portugal mora uma selecção que junta um brilhantismo de dimensão inédita a uma juventude que promete anos de glória para as “quinas”. De facto, não consigo discordar da ideia mas creio que há ainda vários pilares a compor no “render da guarda” da selecção. Para além do evidente drama do ponta de lança (que falta ainda faz o tão criticado Pauleta!) há um outro sector que quero abordar: o meio-campo. Grande parte dos atributos das bem sucedidas selecções de 2004 e 2006 resultam do triângulo originalmente composto por Mourinho: Costinha, Maniche e Deco. Este trio conseguia sempre manter bastante próximos os sectores, tendo um homem mais posicional e importante no apoio ao eixo defensivo (Costinha), um médio de transição que aliava uma intensidade de jogo alucinante a uma certeza no passe e no remate que davam qualidade às soluções ofensivas e defensivas da equipa, e um 10 completo e moderno de que não vale a pena aqui falar muito porque é ainda figura de proa da equipa, não sendo por isso necessário substituí-lo. Neste particular, note-se que me refiro à substituição de Costinha e Maniche por terem sido recentemente afastados, sendo claro que qualquer um deles poderá voltar aos eleitos de Scolari...
A Costinha sucede Petit, um jogador diferente. O que Petit dá em certeza de passe tira em capacidade de jogo aéreo (cada vez mais importante nos meios-campos de hoje) e protecção à zona central da defesa. É uma questão de perfil, mas na actual estrutura da selecção não há uma substituição clara das funções de Costinha com a entrada de Petit. Das duas, uma: ou se encontram novas rotinas para colmatar estas funções particulares de Costinha, ou aparece um substituto morfologicamente mais próximo (neste particular tenho o meu favorito como já venho defendendo há uns tempos: Miguel Veloso).
Maniche parece-me o caso de mais difícil substituição – estamos a falar de um jogador que entrou na lista dos melhores jogadores no último Europeu e Mundial. Um jogador inteligente no posicionamento, pragmático no passe (falha poucos, o que é fundamental) e eléctrico nos momentos de transição. Pelo que já aqui escrevi (noutros posts), não é difícil antever que creio que estará em Moutinho a solução ideal. Esta é a posição (médio de transição) em que creio que Moutinho se pode verdadeiramente projectar. Tendo precisamente as mesmas características que apontei a Maniche, faltar-lhe-á apenas a decisiva capacidade de remate do jogador do Atlético de Madrid. Importa também falar de Tiago e Hugo Viana. Embora diferentes, creio que são jogadores que gostam demais do risco para actuar especificamente nesta posição (por exemplo, num meio campo a 4 não seria tão problemático).
O problema da subida do central...



Com uma frequência crescente se assiste no futebol a desequilíbrios que provêm da subida dos centrais. Nem todos o fazem mas são cada vez mais os protagonistas deste tipo de lances. Há uma pergunta evidente: se é tão benéfico porque é que não acontece com maior frequência nas acções ofensivas das equipas? A resposta pode ser encontrada naquela que terá sido a grande ocasião de golo belga...
Ricardo Carvalho tenta, perante a ausência de oposição, fazer o desequilíbrio na zona central conduzindo a bola em progressão. O passe para Tiago não vai no entanto ter o objectivo pretendido. Ao não receber com a eficácia pretendida a bola, Tiago atrasa para Miguel para evitar a pressão a que é sujeito. Mais uma vez, no entanto, as coisas não correm conforme o esperado e Mpenza vai ganhar o ressalto.

É aqui que a ausência de Ricardo Carvalho se faz sentir. A partir daquela posição, Mpenza tem muito espaço para direccionar o seu passe. Jorge Andrade é uma presença demasiado singular para tanta largura de campo...

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