18.6.14

A caminho do Maracanã #6

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Bélgica - Argélia
É curioso o caso belga, porque nenhuma equipa pode ser considerada uma revelação se todos tiverem antecipadamente essa expectativa. Ou seja, Bélgica não será uma selecção que surpreenderá se tiver uma excelente prestação, sê-lo-á sim se isso não acontecer. Para já, porém, a sua estreia foi certamente uma das principais desilusões da primeira ronda, e isto mesmo tendo conseguido resgatar a vitória. Pessoalmente, e tendo em conta aquilo que vi na preparação, não me posso considerar supreendido pela exibição ou vitória belgas. A exibição, porque como escrevi na antevisão, já se adivinhavam dificuldades perante equipas muito fechadas. A vitória, porque apesar de não esperar um grande jogo da Bélgica, a diferença de valores era tal que mesmo assim esse era o desfecho incomparavelmente mais provável. Destaque claro, na exibição belga, para o impacto da entrada de Fellaini, oferecendo à equipa uma solução de jogo mais directo que ajudou a contornar as dificuldades que esta havia sentido numa abordagem mais apoiada, ao último terço ofensivo.

Menos previsível, para mim, foi a exibição da Argélia, que havia tido outra postura - mais aventureira - na preparação. A estrutura foi a mesma, e o onze base também não surpreendeu, mas o risco assumido foi completamente diferente, nomeadamente com um bloco muito expectante e baixo. Não se pode dizer, ainda assim, que este fosse um cenário a excluir, já que o contexto de dificuldade sugeria uma abordagem mais cautelosa. Será interessante ver até que ponto a Argélia irá repetir este tipo de estratégia nos próximos jogos, sendo que se isso não acontecer, me parece provável que vejamos um grau de exposição muito maior por parte dos argelinos, pelo menos a fazer fé naquilo que pude ver na preparação...

Brasil - México
Segundo jogo de pouco entusiasmo do Brasil, desta vez mesmo a valer a perda de 2 pontos. Há um aspecto que me parece interessante explorar e que tem a ver com a gestão do jogo e do risco por parte de Scolari. O treinador brasileiro foi prudente nas alterações, nomeadamente nunca acrescentando grande risco, o que como era previsível não agradou à esmagadora maioria dos adeptos. Pessoalmente, tendo a concordar com alguma prudência por parte do seleccionador, nomeadamente não aumentando o risco de derrota, já que o Brasil teria bem mais a perder com uma derrota do que a ganhar com uma vitória. Quanto à qualidade do jogo brasileiro, que está a decepcionar a maioria, parece-me que não era de esperar muito mais da equipa neste Mundial, e que isso não retira o Brasil do topo dos favoritos.

Mais interessante do que o Brasil, na minha perspectiva, é analisar o jogo do ponto de vista mexicano. Não sou um adepto deste sistema, mas penso que a equipa mexicana tem aquilo que é mais importante, que é uma identidade própria e bem definida. Naturalmente, não foi fácil fazê-lo, e o Brasil poderia facilmente ter ganho o jogo se tivesse concretizado uma das boas ocasiões criadas, mas os mexicanos apareceram no jogo apostados em jogar o seu jogo, de acordo com as suas ideias, acabando por criar muitos problemas a um adversário que lhe é incomparavelmente superior. Aqui, não resisto em fazer um paralelismo com aquilo que fez a Croácia no jogo inaugural, que com recursos bem mais fortes do ponto de vista individual, não conseguiu nunca dividir o jogo como fizeram os mexicanos, nomeadamente escolhendo uma postura reactiva e submissa e raramente controlando o jogo pela posse. Finalmente, sobre o México, parece-me claro que grande parte da sua capacidade ofensiva podia ser maximizada com a simples introdução de 'Chicharito' Hernandez, já que é um jogador muito mais forte nos movimentos de apelo à profundidade, criando muito mais soluções de passe aos médios e muito mais problemas de controlo aos defensores. Com Hernandez de inicio, estou em crer que este México podia aspirar a voos muito mais altos neste Mundial.

Fim da 1ª ronda: muitos golos!
A expectativa passava por que tivéssemos 40 golos nos primeiros 16 jogos da primeira ronda. Tivemos 49, mais 9. Ora, isto sugere que estamos a ter um Mundial inesperadamente ofensivo, com mais prevalência dos ataques, relativamente ao que se esperava. Mas não creio que foi isso que realmente se passou. Segundo a minha análise (e critério), tivemos exactamente 100 ocasiões claras de golo, o que quer dizer que o aproveitamento das mesmas esteve na ordem dos 49%. Tal como tenho defendido aqui, e de acordo com outras análises, este indicador deverá ser relativamente estável a prazo, não ultrapassando os 40%. Ou seja, se a capacidade de desequilíbrio das equipas se mantiver, o mais provável não é que continuemos a ter muitos golos, mas sim que essa marca decresça substancialmente na 2ª ronda.

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