Brasil - Chile
Por pouco não se dava mais um grande tombo - seria o maior de todos! - neste Mundial. O Brasil voltará a chamar a si todas as dúvidas e críticas sobre o seu futebol, que a quase ninguém impressiona. Ainda assim, volto a escrever o mesmo sobre este Brasil: realmente surpreendente seria se esta equipa apresentasse uma qualidade excepcional na sua presença em posse, e se essa limitação (que era conhecida) não foi suficiente para por em causa o favoritismo canarinho neste Mundial, então hoje este percurso terá de ser considerado natural e não surpreendente. Talvez a maior prova de força do Brasil seja facto de, mesmo sem impressionar ninguém, a equipa estar já a apenas 180 minutos da final...
Sobre o jogo, mais concretamente, diria que o Brasil teve uma boa entrada na partida, sobretudo com alguma astúcia do ponto de vista estratégico, na minha interpretação. Isto porque me parece ajustada a opção de não apostar tanto no condicionamento da primeira fase de construção chilena - que seria um objectivo mais complicado e arriscado - e optar, antes sim, por definir um bloco mais baixo, mas com uma grande presença pressionante sobre o jogo interior do Chile, por onde mais se orientava o futebol da equipa de Sampaoli. Ou seja, em vez de apostar tudo em ter bola, onde não é tão forte, o Brasil preferiu tentar potenciar o momento de transição, onde Neymar e Hulk são muito difíceis de parar. O jogo acabou por ter uma história bem diferente, é verdade, mas parece-me justo referir também que o Brasil conquistou, dentro desta sua abordagem ao jogo, uma situação que tinha tudo para lhe ser muito favorável na resolução da eliminatória. Isto porque chegou à vantagem, e mesmo sem ter bola, tinha o controlo sobre a circulação chilena, que nessa altura era mais um ponto de partida para as transições brasileiras do que propriamente para desequilíbrios do próprio Chile. Dentro desta perspectiva, facilmente se percebe a importância que atribuo ao golo do empate, primariamente oferecido pelos brasileiros. Porque se o jogo entrasse numa fase mais adiantada com a igualdade no marcador, o Brasil teria de assumir necessariamente outra postura, mais autoritária com bola, para a qual não está tão vocacionado, e porque o próprio Chile poderia, nesse contexto, corrigir alguns dos erros com que se ia deparando e controlar melhor o jogo, nomeadamente através da sua boa presença em posse. E, no fundo, foi isso mesmo que aconteceu...
Sobre o Chile, que sai agora da competição, devo dizer que, à luz do jogo que vira na fase de preparação (frente ao Egipto), tive receio de uma abordagem bem mais arriscada (ou suicida, para utilizar o termo de Vidal) relativamente ao posicionamento da sua linha defensiva. Sampaoli terá também percebido que esse não poderia ser o caminho, e a equipa chilena acabou por se apresentar mais cautelosa a esse nível, apesar de não ter abdicado nunca do seu arrojado pressing. Por outro lado, com bola e como era previsível, foi uma equipa difícil contrariar na sua circulação baixa, e com um grande foco na mobilidade dos seus avançados, nomeadamente sobre o corredor central. Em suma, foi uma boa equipa, que se bateu muito bem contra dois dos principais candidatos (por pouco não os eliminou aos dois!), é verdade, mas que também revelou algumas fragilidades, nomeadamente alguma dependência da criatividade de Alexis (que neste Mundial provou que poderia ser bem mais do que uma espécie de sombra de Messi) e, claro, o jogo aéreo, o capítulo que mais penalizou a equipa e que certamente continuaria a ser um forte handicap para as suas aspirações, caso tivesse tido outra sorte nos penáltis.
Colômbia - Uruguai
No segundo jogo desta espécie de Copa América em pleno do Mundial, a Colômbia partia com um favoritismo que à partida, confesso, me pareceu exagerado. Sem dúvida que era do seu lado que estavam as unidades mais criativas e com maior capacidade de desequilíbrio, e também não discordo da importância da ausência de Suarez, cujo peso especifico já tinha abordado aqui. Mas este podia também ser perfeitamente um jogo ao jeito do Uruguai, que mesmo sem os mesmo argumentos técnicos tinha capacidade para ser bem sucedido num jogo assente no condicionamento defensivo e no momento de transição, um papel onde tantas vezes esta equipa se deu bem. Há duas notas fundamentais para mim, sobre esta partida. A primeira para o posicionamento do bloco do Uruguai que, mesmo numa estratégia assumidamente mais cautelosa, me pareceu excessivamente baixo e limitador em termos de possibilidade de gerir também o jogo com bola, o que me parecia importante. A segunda, claro, para James Rodriguez. Porque, mesmo com todo o domínio territorial exercido, a verdade é que o Uruguai foi conservando um bom controlo defensivo sobre as ofensivas do seu adversário, que fundamentalmente havia repetido finalizações exteriores. No fim, o resultado oferece-nos o conforto de poder analisar o jogo partindo da certeza sobre a superioridade colombiana na partida, mas não fosse o génio - outra vez ele! - de James Rodriguez, e a verdade é que poderíamos perfeitamente ter assistido a uma partida muito diferente e de resultado bem mais incerto. Sobre James, de resto, parece-me que a sua candidatura a melhor jogador do Mundial está confirmada com mais esta exibição, não sendo de excluir um assédio ao jogador por parte dos principais emblemas europeus, assim termine o Mundial.