15.6.14

A caminho do Maracanã #3

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Colômbia - Grécia
Diz-se, e repete-se, que a Grécia é uma equipa defensiva. Não posso discordar da classificação, mas já acho mais duvidoso que se enfatize essa característica quando pela frente temos uma equipa como a Colômbia. De resto, é curioso como, à excepção do Chile, todas as equipas sul americanas se apresentam em bases tácticas muito semelhantes:
- linha defensiva com muito pouco risco na gestão da profundidade (fora de jogo)
- bloco defensivo essencialmente expectante
- bloco defensivo com duas linhas de quatro jogadores
- 2 médios defensivos mais trabalhadores do que criativos
- dinâmica ofensiva simples e muito dependente daquilo que individualmente os jogadores têm para oferecer

Uma tendência que, na minha leitura, poderá ter a ver com questões históricas, e com a forma como estas selecções foram sendo penalizadas por algum aventureirismo táctico que as caracterizou durante décadas. Seja como for, não é seguramente brilhante do ponto de vista táctico, e por isso escrevi na antevisão que estas são - quase todas - equipas algo sobrevalorizadas, porque valem muito pouco para além daquilo que as suas principais unidades possam oferecer. Por exemplo, parece-me que a Grécia não só não é menos defensiva do que estas equipas, como é bem mais interessante do ponto de vista táctico. Só que, claro, não tem a mesma qualidade individual, e é por aí que se explica o facto do seu potencial ser inferior ao da Colômbia . De resto, diria que este foi, até agora, o resultado que mais contou com o peso da eficácia para a sua definição, porque se a Colômbia marcou três golos, a Grécia foi a única equipa que perdeu ocasiões claras de golo.

Uruguai - Costa Rica
Em futebol, diria, há dois tipos de resultados surpreendentes. Aqueles que decorrem da aleatoriedade e dos caprichos da eficácia, e os outros, que acontecem na sequência de performances globalmente inesperadas das equipas. Neste caso, esta foi claramente uma surpresa do segundo tipo. Ou seja, o Uruguai não perdeu porque fez um menor aproveitamento daquilo que produziu. Perdeu, porque produziu menos, e consideravelmente menos. De facto, mais do que o resultado, não esperava esta diferença de rendimento entre as equipas. Mesmo se agrupo o Uruguai no tipo de equipas com as características que descrevi acima e se já tinha escrito sobre os riscos da sua falta de vocação criativa. Uma parte da explicação, a meu ver, tem de estar mesmo na ausência de Suarez, porque se esta equipa vale essencialmente pela soma das suas partes, torna-se incontornável que sem a mais valiosa das parcelas o resultado acabe por ser menor do que à partida se poderia supor. Seja como for, é agora muito improvável que os uruguaios possam sequer ameaçar em repetir a presença numa final de um Mundial brasileiro.

Uma nota sobre a Costa Rica, que não passou a ser uma selecção de grande qualidade por causa deste seu merecido feito. Tem essencialmente, e para além de Navas, um tridente de muito boa capacidade técnica na frente, e isso é o que a faz ser consideravelmente mais perigosa do que as piores selecções que estão em prova. Porque, de resto, as suas limitações estão lá para serem exploradas, e em princípio é isso que acabará por acontecer nos próximos jogos.

Inglaterra - Itália
Um dos jogos mais aguardados, e que de acordo com a antevisão que havia deixado, foi de encontro às expectativas, nomeadamente no que respeita à identidade das equipas. No que respeita à Inglaterra, e tal como havia escrito, parece-me uma equipa com fragilidades no processo defensivo e sem grande capacidade para potenciar o seu rendimento colectivo. Isto, porém, não quer dizer que não veja boas hipóteses de qualificação para os ingleses, mesmo depois desta derrota, já que me parece melhor do que o Uruguai (ao contrário das perspectivas) e claramente com todas as possibilidades de vencer a Costa Rica. Mas, naturalmente, esta derrota não ajuda.

Mais interessante o caso da Itália. A esmagadora maioria das equipas neste Mundial recorre ao papel do duplo-pivot para dinamizar a sua primeira fase de construção. A Itália, e como havia escrito na antevisão sobre a equipa, vai mais longe e envolve 3 médios na circulação baixa, o que lhe confere uma grande capacidade nessa fase do jogo. E é nessa capacidade para ter bola que reside a grande força desta equipa. Defensivamente, a equipa opta por um bloco muito expectante, e se confesso não gostar muito dessa abordagem, também não é difícil de concluir que Prandelli não poderia fugir muito dessa abordagem, tendo na equipa jogadores como Balotelli ou Pirlo. Ainda assim, e mesmo definindo uma zona de pressão baixa, a Itália parece-me algo permissiva dentro do seu bloco, e talvez fosse possível subir um pouco mais a linha defensiva, de forma a conseguir maior encurtamento de espaços dentro do seu bloco. Outra limitação da equipa italiana, na minha óptica, reside nas dificuldades que tem na fase criativa. A ideia de Prandelli, claramente, é projectar muito os laterais, embora se perceba pouco que tendo essa ideia de jogo, depois apareça no Mundial com Chiellini como a alternativa para a lateral esquerda. Depois, e de um perspectiva conceptual, parece-me que face aos recursos que tinha ao seu dispor, Prandelli teria muito a ganhar em conceber um ataque com 2 unidades, já que essa é uma posição para qual o futebol italiano apresenta muitas soluções. Enfim, tinha incluído a Itália no lote das equipas que me pareciam subvalorizadas, e este primeiro jogo acabou por dar alguma razão a essa ideia. No entanto, confesso também que esta me parece uma equipa muito volátil em vários aspectos, e se podemos estar seguros da sua boa presença em posse, há outros pontos que facilmente poderão comprometer as aspirações da equipa.

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