13.6.14

A caminho do Maracanã #1

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Brasil - Croácia
Face aos receios existentes, diria que o jogo de abertura correu bastante bem. A cerimónia inicial, o estádio, um jogo com golos e até um desfecho que ajuda a anestesiar os perigosos e ameaçadores descontentamentos populares (raramente faltam teorias da conspiração em torno deste tipo de eventos, mas depois de 1978 não consigo pensar num Mundial onde interesse tanto à organização que o país anfitrião possa ser bem sucedido!). Quanto ao jogo propriamente dito, que é o que mais interessa para este comentário, o que se viu não foi assim tão agradável, e de parte a parte...

Talvez seja injusto da minha parte, mas entre Brasil e Croácia, sou bem mais critico da abordagem táctica definida por Kovac. Não querendo comparar o potencial técnico de ambos os conjuntos, ainda assim parece-me ser do lado croata onde há uma maior fuga das principais características da equipa. Mas vamos por partes. Quanto ao Brasil, Scolari trouxe apenas a surpresa da dinâmica ofensiva, que resultou relativamente bem na primeira parte, nomeadamente pela capacidade de Neymar aparecer no corredor central, assim como pela atractividade que Óscar provocou ao lateral esquerdo croata, abrindo um espaço por onde o Brasil criou algumas das suas melhores jogadas do primeiro tempo. O lado negativo da exibição brasileira, na minha leitura, resulta sobretudo de um invulgar desacerto no plano individual. Algo que se viu em alguns passes perdidos, apesar do baixo grau de dificuldade, e também em algumas intervenções defensivas desastradas, com evidência para o lance do golo, onde na minha leitura David Luiz perde de forma algo displicente a frente do lance para Jelavic, quando essa deveria ser a sua primeira prioridade na abordagem ao cruzamento. Mas houve outras situações que, apesar de não terem tido as mesmas consequências, sugerem o mesmo diagnóstico. E é por aqui que me parece que o Brasil complicou as suas aspirações no jogo, na sua algo inesperada volatilidade defensiva, já que tudo o resto era mais ou menos previsível: a dificuldade de encontrar espaços num bloco tão baixo, as dificuldades específicas de Hulk a este nível, a dependência de Neymar como elemento de maior capacidade criativa, o foco nos corredores laterais para iniciar as jogadas, mas também a elevada probabilidade de que o domínio, mesmo sendo insípido, pudesse ser tanto que acabasse por produzir resultados concretos.

Quanto à Croácia, já o havia escrito na antevisão que se trata de uma equipa muito cautelosa na sua abordagem defensiva, baixando a meu ver em demasia e sem grande qualidade na aplicação de um pressing defensivo que faz da densidade numérica a sua grande, e praticamente única, mais-valia. Depois, a Croácia pode não ter os recursos das principais equipas, mas tem seguramente um conjunto de médios com que poucas selecções poderão rivalizar, fazendo por isso todo o sentido que esta seja uma equipa especialmente arrojada na tentativa de fazer da posse uma arma. Porque, pergunto-me, se com Rakitic e Modric a Croácia não conseguir ser forte na valorização da posse, vai ser forte em quê? A verdade é que não foi por essa via que a equipa tentou gerir o jogo e, especialmente na primeira parte, acabou mesmo por actuar quase exclusivamente em transição, o que determinou que as suas aspirações passassem sobretudo pela capacidade de sofrimento que a equipa tivesse, sem bola. Convém aqui, e no meu desta minha perspectiva crítica, fazer duas ressalvas que servem de atenuante: a primeira, para referir que apesar do domínio exercido o Brasil teve de contar com uma grande dose de eficácia para materializar a reviravolta; a segunda, para contextualizar o valor do opositor, sendo que evidentemente que se esperará outra capacidade da equipa croata (mais não seja, pelos valores individuais que tem) nos próximos jogos. Mas, se concordo que esta será a segunda equipa mais forte do grupo, continuo a não ver com grande surpresa a hipótese de um eventual não apuramento croata para a fase seguinte da competição.

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