22.8.08

Nigéria - Ataque Olímpico

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Uma viagem temporal até ao já longínquo ano de 1996 leva-nos a Atlanta e a uma equipa que dava ao mundo um segundo e ainda mais forte sinal de se poder converter na nova potência do futebol Mundial. Depois de, 2 anos antes no mesmo país, a Nigéria ter feito sensação no Mundial de 94, em 96 confirmava-se como uma nação potencialmente vencedora, triunfando no torneio olímpico e com essa nota que não pode ser menosprezada... bateu o Brasil e a Argentina. 12 anos mais tarde a Nigéria repete a final Olímpica, de novo com a Argentina (batida por 3-2 nessa em 96) e, tal como nessa altura, o sucesso da equipa emerge pela força de um sector: o ataque.

Sistema táctico e opções
Definir numericamente o sistema desta Nigéria é algo que me parece susceptível de uma interpretação dupla. Se, por um lado, a disposição base se aproxima do 4-2-3-1, na prática, o 3 de meio campo é muito mais um trio de atacantes do que qualquer outra coisa. Por isso, falar-se num 4-2-4 pode ser bastante mais de acordo com aquilo que acontece com esta Nigéria, ainda que não exista uma linha de 4 homens no ataque.

No que respeita a opções, não parecem haver muitas dúvidas na cabeça do treinador Siasia. Na baliza o lugar é de Vanzekin, um guarda redes tipicamente africano, capaz de parar o coração dos adeptos com intervenções desastrosas ou com defesas estonteantes (uma das melhores do torneio perante a Bélgica). Vanzekin tem 22 anos e alinha no campeonato Nigeriano. Na defesa, o quarteto formado por Adefemi (22 anos do Hapoel de Israel), Apam (21 anos do Nice de França), Adeleye (19 anos do Sparta de Roterdão da Holanda) e Okonkwo (19 anos do Bayelsa da Nigéria) é aquele que merece as preferências do treinador. No meio campo, Ajilore (23 anos do Groningen da Holanda) e Kaita (22 anos do Sparta de Roterdão da Holanda) fazem uma dupla também praticamente intocável. Mas é na frente que surgem as dúvidas de Siasia. A qualidade dos avançados fez com que o treinador optasse por algumas adaptações no seu quarteto na frente e embora Isaac (20 anos do Trabzonspor da Turquia) tivesse começado por actuar nas costas de Odemwingie (27 anos do Lokomotiv de Moscovo), esse lugar foi conquistado por Obasi (22 anos do Hoffenheim da Alemanha). Nas alas actuam Obinna (21 anos do Chievo) e Okoronkwo (21 anos do Hertha Berlim). Uma solução recorrente durante as partidas é Anichebe (20 anos do Everton) que quando é utilizado faz com que Odemwingie se posicione numa das alas.

Como defende?
Em organização defensiva a Nigéria adopta normalmente uma postura não muito recuada no campo, com a sua linha de pressão a incomodar a primeira fase de construção adversária. Este comportamento não é, no entanto, constante. Em situações de vantagem no marcador a equipa baixa mais o seu bloco e junta Obasi aos 2 do meio campo em atitude defensiva.

A transição defensiva não cria muitos problemas em termos de equilíbrios defensivos. O facto dos laterais subirem pouco e Kaita ter uma postura muito posicional faz com que raramente seja necessário grandes recuperações posicionais. Assim, no momento da perda de bola, assiste-se a uma pressão normalmente imediata do quarteto ofensivo mas sem um acompanhamento da restante equipa que recupera posicionalmente não para pressionar mas para abordar entrar em organização defensiva.
Como ataca?
Não é em organização ofensiva que a Nigéria se apresenta mais forte. O futebol não é muito trabalhado e a ordem é sempre fazer a bola chegar ao quarteto ofensivo. Aqui, 2 soluções aparecem. Ou a bola circula pelas alas para entrar em Obinna ou Okoronkwo ou é solicitada directamente para Odenwingie. O papel deste jogador é, de resto, muito importante, com a equipa a recorrer a ele em quase todos os ataques. Nota aqui para a sua tendência em aparecer preferencialmente sobre a esquerda onde as combinações com Obinna são temíveis. Outra referência importante vai para a dinâmica do duo de meio campo. Enquanto que Kaita permanece invariavelmente posicional, Ajilore avança para dar apoio ao quarteto da frente.

Mas para perceber o sucesso das “Águias” é preciso falar do seu momento de transição. É impressionante a velocidade que consegue imprimir no jogo sempre que a bola chega rapidamente ao quarteto ofensivo. Em alguns jogos, pode dizer-se, os cantos que os adversários desfrutaram eram mais vezes sinal de perigo para a própria baliza do que o contrário, tal a capacidade da Nigéria em levar rapidamente a bola até ao outro lado do campo. Aqui referência especial para Obinna que tem uma capacidade de explosão excepcional.

Treinador
Samson Siasia – Com 41 anos este ex-avançado do Tirsense e campeão de França em 1995 tem um currículo notável nos escalões jovens da Nigéria. Este trabalho terá tido inicio na equipa de sub 20 que, em 2005, se sagrou vice campeã Mundial e campeã Africana do seu escalão. É provável que, tal como os jogadores, a carreira de Siasia beneficie desta brilhante prova Olímpica.

5 estrelas
Dele Adeleye (19 anos, defesa central) – Ao contrário de Apam, que não é muito alto, Adeleye mede quase 1,90m o que faz dele uma presença particularmente importante no centro da defesa. É dos mais novos da equipa mas, apesar dessa juventude, já conseguiu, ao contrário de muitos companheiros, um lugar regular no seu clube. A premier league já foi apontada como destino provável do jogador.

Oluwafemi Ajilore (23 anos, médio centro) – Comparativamente com Kaita tem uma função de maior exigência, cabendo-lhe surgir junto dos da frente nas acções ofensivas devendo depois fechar a zona central. Esta dinâmica tem uma importância muito grande na mecânica da equipa e Aljilore tem cumprido bem. Depois de se ter afirmado no Midtyland da Dinamarca vai ter agora um importante desafio no Groningen.

Edu Obasi (22 anos, avançado) – É outro que tem um papel importante. Em acção ofensiva confunde-se com Odenwingie como referências centrais do jogo nigeriano. Defensivamente, deve baixar para junto do meio campo, particularmente quando a equipa está numa postura mais resguardada. Tem apetência para marcar golos importantes e terá marcado o mais belo do torneio com um míssil frente à Bélgica. Foi parceiro de Obi Mikel na aventura Norueguesa, no Lyn de Oslo mas Obasi acabou por rumar a paragens mais modestas, no Hoffenheim da segunda divisão alemã. Em 07/08 acabou por essencial para a promoção da equipa à Bundesliga (marcou 12 golos) e agora não deverão faltar interessados no seu concurso.

Victor Obinna (21 anos, avançado) – É, sem dúvida, uma das figuras da prova. Explosivo e letal tem feito furor na prova apesar da sua colocação à esquerda. É um avançado de enorme potencial que já havia despontado no Chievo ao ponto de ter estado próximo de rumar ao Inter. Vale a pena acompanhar a sua evolução.

Peter Odemwingie (27 anos, avançado) – É, a par de Obinna, o grande destaque da equipa. Pode jogar em qualquer parte do ataque, sendo forte no jogo aéreo e explosivo em velocidade. A sua qualidade é de facto grande e muito abrangente. Ao vê-lo não posso deixar de lamentar ter rumado a leste quando a sua afirmação no Lille aconselhava um salto mas para uma paragem mais visível. Os milhões da Rússia falaram mais alto e Odemwingie terá perdido a oportunidade de se afirmar num campeonato mais mediático e competitivo.

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