5.8.08

Guimarães - Benfica: Ilações do teste quase a sério

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A primeira nota vai para este tipo de jogos entre equipas nacionais. Não tenho qualquer dúvida que são estes os jogos que mais se aproximam daquilo que se passará durante a temporada, acrescentando ao jogo uma dose importante de emotividade que torna os jogadores mais competitivos, com um comportamento semelhante àquele que adoptam durante os jogos das provas oficiais. Foi assim entre Benfica e Guimarães, um jogo em que o resultado importou para os intervenientes tornando-se igualmente mais interessante para quem o acompanhou.

Benfica: Modelo definido mas ainda não assimilado
O Benfica teve, finalmente, um resultado que permite aos adeptos esboçar um sorriso. A verdade, porém, é que a vitória no Afonso Henriques valeu sobretudo pelo resultado porque ao nível da qualidade de jogo, o Benfica mostrou alguns indicadores preocupantes. Mas vamos por pontos:

Modelo de jogo: Ao nível do modelo de jogo, parecem claras as intenções de Quique. Sucintamente, esqueleto em 4-4-2 clássico, com a equipa a subir as suas linhas para fazer um pressing alto e a toda a largura do campo, tentando conquistar a posse de bola o mais rapidamente possível. A largura da equipa é o ponto fulcral para as acções ofensivas, quer na saída em transição – com a bola a circular rapidamente de um flanco ao outro – quer em ataque organizado – com a bola a entrar num dos flancos onde o apoio de um dos avançados e de um médio central tenta criar uma superioridade numérica que possibilite o aparecimento de um desequilíbrio.

Primeira fase de construção – O que se viu em Guimarães é preocupante. O Vitória facilmente cortou todas as linhas de passe à saída de bola do Benfica que, na primeira vez que conseguiu fazer a bola entrar num dos médios, construiu a jogada do penalti. O Benfica usufruiu de eficácia (e de alguma incapacidade do Vitória para se organizar atrás quando adiantava as suas linhas), mas se voltar a acusar as dificuldades que revela neste momento muito dificilmente voltará a ter a mesma felicidade. Quantas vezes Carlos Martins teve bola nos primeiros 45 minutos?

Pressing – A subida das suas linhas para pressionar causou algumas dificuldades ao Vitória, sobretudo quando este tentou a saída pelas laterais para fugir ao pressing. Aí, o Benfica é forte e cria zonas de pressão complicadas de sair para o adversário. O problema está, como se previa, no exposição do espaço entre linhas na zona central. Sempre que Sereno ou Moreno optaram por servir o apoio de Douglas, o meio campo do Benfica foi rapidamente ultrapassado, com o Vitória a ficar, com bola, de frente para o quarteto defensivo do Benfica. Assim se criaram as melhores ocasiões no primeiro tempo que, diga-se foram mais e melhores do que as do Benfica. Continuo a ver esta forma de pressionar alto com um misto de cepticismo e curiosidade em relação à sua evolução.

Notas individuais – Quique voltou a fazer experiências, retardando a consolidação de um modelo e de uma equipa que, a bem dizer, parece continuar a ser vista com muitas carências individuais por parte do seu treinador – só assim se explicam tantas experiências. Ruben Amorim foi decisivo, intervindo nos 2 lances de golo. Urreta parece ser um jovem com talento mas em quem duvido que haja uma aposta mais séria quando a época começar. Aimar... será que foi mesmo contratado para jogar ali? Cardozo é um jogador que, a meu ver, merece ser opção principal em qualquer esquema de Quique. De resto, é complicado fazer grandes destaques num jogo em que houve “pouca bola” para brilhar mas muita entrega. A agressividade é, aliás, um dos pontos positivos deste Benfica ainda “jovem”.

Guimarães: Regressão qualitativa?
Pelo que referi do Benfica, fica claro que o Vitória pode lamentar-se das diferenças de eficácia na construção da derrota, num jogo em que até começou por criar mais dificuldades ao adversário do que o contrário. Este Vitória está, aliás, muito mais adiantado na consolidação do seu modelo de jogo do que o Benfica. O que não espanta. A equipa é essencialmente a mesma e, claro, o modelo também.

O problema é que este Vitória não é, antes pelo contrário, mais forte em termos individuais do que aquele que se apresentou há um ano com o objectivo, real para uma equipa acabada de subir, de evitar problemas no fundo da tabela. Esta qualidade individual reduzida explica, em grande parte, a derrota frente ao Benfica. Sem Alan, Ghilas e Geromel, o Vitória perdeu quando, de facto, deveria ter ganho em qualidade, tendo em conta uma época de maiores exigências.

Estou de acordo com a teoria de que é preciso não dar um passo maior do que a perna, mas não me parece que o Vitória tenha dimensão nem, neste momento, estatuto desportivo para uma mentalidade e discurso de fuga à despromoção. Aqui, parece-me claramente um falhanço a preparação da nova temporada, nomeadamente na forma como o Vitória não soube usar o que conquistou na época passada para um melhor e mais arrojado ataque ao mercado. É certo que falta ainda a pré eliminatória da Champions (de onde podem vir milhões importantes) e quase 1 mês de mercado, mas este lapso na preparação de uma nova e muito importante época pode vir a tornar-se no esbanjar de uma oportunidade importante para o crescimento desportivo que os adeptos merecem.

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