Enquanto que, na Europa, os principais campeonatos se preparam ainda para o arranque de mais uma longa temporada, no Brasil a prova atravessa agora o seu ponto médio. Na viragem de um Brasileirão altamente competitivo há já uma ideia mais clara sobre quem poderão ser os principais candidatos à vitória final. Entre esses nomes terá agora de figurar o do Grémio de Porto Alegre, inicialmente fora da lista de principais favoritos mas que chega a esta fase da prova na liderança da prova e com 5 pontos de avanço para o segundo, o Cruzeiro de Belo Horizonte.
Sem estrelas e com muitos ‘meninos’ da formação, o Grémio tem pautado as suas exibições pelo pragmatismo defensivo e pela regularidade com que pontua nos jogos fora de casa. No Brasil, aliás, muitos debatem como é possível o seu campeonato ser liderado por uma equipa de futebol pouco atractivo e que alinha num sistema de “3 zagueiros e 2 volantes”, que é como quem diz, 3 centrais e 2 trincos.
Sem estrelas e com muitos ‘meninos’ da formação, o Grémio tem pautado as suas exibições pelo pragmatismo defensivo e pela regularidade com que pontua nos jogos fora de casa. No Brasil, aliás, muitos debatem como é possível o seu campeonato ser liderado por uma equipa de futebol pouco atractivo e que alinha num sistema de “3 zagueiros e 2 volantes”, que é como quem diz, 3 centrais e 2 trincos.
Sistema táctico e opções
O técnico Celso Roth montou uma equipa com muito enfoque defensivo. O seu sistema de 3 defesas adopta um posicionamento diferenciado, consoante o momento do jogo e, muitas vezes, o local da partida. No Olímpico, estádio onde actua o Grémio, o trio defensivo joga mais aberto, permitindo aos alas actuarem mais como extremos ou médios interiores. Fora de casa a equipa adopta um posicionamento mais fechado com os alas a terem mais preocupações em fechar defensivamente o seu flanco.
Estes sistemas de 3 defesas são hoje muito raros nas principais ligas europeias, mas no Brasil recorre-se muito a essa opção como forma de, mais naturalmente, compensar as características ofensivas dos laterais e alguma liberdade criativa dos médios, o que provoca algum desequilíbrio no momento da perda da bola.
Em termos de escolhas individuais, as preferências de Roth têm oscilado de alguma maneira devido, não só à mudança de opção do treinador, mas também a algumas saídas de jogadores. Na baliza, Victor (25 anos) é um titular indiscutível, estatuto ganho pela qualidade das suas exibições. Na defesa, o trio formado por Leo (20 anos), Pereira (25 anos) e Rever (23 anos) tem sido aquele que mais tem actuado com Willian Thiego (22 anos) a ser a solução preferencial em caso de uma ausência de um destes jogadores. Nas alas, Paulo Sérgio (29 anos) é o dono do lugar no flanco direito, enquanto que à esquerda se desenrola um interessante duelo entre dois jovens de 19 anos, Hélder e Anderson Pico. Na zona central, após a saída de Eduardo Costa (regressou ao Espanyol), a jovem dupla formada por Willian Magrão (22 anos) e Rafael Carioca (19 anos) tem merecido a confiança de Celso Roth. Uma posição importante foi desempenha por Roger (ex-Benfica) antes da sua saída rumo ao Qatar. O capitão Tcheco (32 anos) é quem parece ter conquistado o lugar mas a chegada de Souza (ex-PSG) pode vir a acender a luta pela posição. Na frente, o colombiano Perea (24 anos) tem lugar assegurado, sendo que ao seu lado o ex-Benfica Marcel (26 anos) tem merecido a preferência de Roth para um lugar em que Reinaldo (28 anos) é o principal concorrente.
Como defende?
Um dos princípios fundamentais deste Grémio é a ocupação eficaz dos espaços mais recuados em postura defensiva. Esta ideia orienta o seu comportamento quer em organização defensiva, quer em transição. Ou seja, perante a posse de bola do adversário, o Grémio baixa o seu bloco defensivo, assumindo uma pressão pouco colectiva sobre a primeira fase ofensiva da equipa oposta, ao isolar o seu duo atacante nessa tarefa. No momento da perda da bola, ou seja em transição defensiva, a equipa procura, o mais rapidamente possível, resguardar-se defensivamente, não havendo grande relevância dada a uma pressão imediata.
Realce para o papel dos 2 médios centrais, fundamentais no restabelecimento de equilíbrios posicionais, quer no centro, quer junto às laterais.
Como ataca?
Ofensivamente, como reconhece a imprensa brasileira, o Grémio não é uma equipa exuberante. Quando convidada a assumir o jogo tenta quase sempre construir pelas laterais onde existem alguns movimentos de permutas posicionais que tiram partido da mobilidade dos atacantes. Outro movimento importante e que com Roger resultava muito era o “baixar” do jogador da posição 10 para organizar jogo. A intenção é tirar partido da maior capacidade técnica do jogador que aí actua mas, por vezes, isso torna-se difícil quando há poucos espaços para que este pense o jogo. A derradeira solução, claro, é o recurso a um jogo mais directo, normalmente com o central Pereira a procurar Marcel no espaço aéreo.
Mas é em transição que esta equipa tem conseguido os seus resultados mais expressivos. Aí, o Grémio torna-se particularmente perigoso quando consegue fazer que a bola passe por Tcheco que, com mais espaço, consegue tirar o melhor partido dos seus recursos técnicos para servir com mais qualidade os avançados. Nota ainda para Perea que é o elemento de maior qualidade na definição ofensiva das jogadas. Quer em transição, quer em ataque organizado é um jogador temível pela mobilidade e velocidade com que actua.
Treinador
Celso Roth – Gaúcho e ex-jogador do Juventude, Celso Roth é um treinador licenciado em Educação Física. No seu currículo conta com passagens por vários e importantes clubes brasileiros. Para além dos grandes da região, Internacional e Grémio, já passou por Palmeiras, Santos, Flamengo, Atlético Mineiro, Botafogo e Vasco da Gama. No que respeita a títulos, os campeonatos gaúchos de 97 (Internacional) e 99 (Grémio) são as conquistas mais relevantes.
5 estrelas
Victor (Guarda Redes, 25 anos) – É uma das revelações da prova e seguramente um dos esteios da boa campanha do Grémio. É alto mas não muito imponente, sendo essencialmente discreto no seu estilo de actuação. A frequência das suas intervenções decisivas valem-lhe já um estatuto que o coloca entre os melhores a actuar no Brasil no seu posto.
Léo (Defesa Central, 20 anos) – É uma das grandes revelações do Grémio no último ano. A qualidade com que vem actuando como central do lado direito valeu já uma convocatória por parte de Dunga, pensando-se que pudesse ir aos Jogos Olímpicos. A sua saída para o futebol europeu pode estar eminente.
Rafael Carioca (Médio Centro, 19 anos) – Há quem veja nele o sucessor de Lucas (Liverpool). O seu perfil é, no entanto, diferente. Mais franzino tem ainda algumas dificuldades em ser dominador naquela zona do campo, destacando-se no entanto pela forma como fecha as linhas de passe e sai a jogar.
Willian Magrão (Médio Centro, 22 anos) – Outra das revelações do ano. Começou como suplente de Eduardo Costa e Rafael Carioca mas ganhou o lugar mesmo antes da saída do primeiro. É um jogador esguio e alto que tem uma amplitude de acção maior do que Rafael Carioca. Tem uma excelente percepção dos espaços, estendendo essa capacidade às zonas de área. Com bola é um jogador seguro que gosta de arriscar alguns passes verticais.
Edixon Perea (Avançado, 24 anos) – Se há uma estrela da equipa, só pode ser Perea. Depois de se ter revelado no campeonato do Mundo de juniores em 2003 e se afirmado como goleador do Atlético Nacional, rumou ao Bordéus em 2005. A sua adaptação não foi a melhor, regressando ao Continente Sul Americano para representar o Grémio no final de 2007. Perea é um jogador móvel e veloz que tem também uma óptima definição das jogadas, finalizando com os 2 pés. É hoje o jogador mais perigoso do Grémio.