Desde que foi anunciada a convocatória para o jogo inaugural da nova era Queiroz que se tem falado e comentado sobre uma revolução pós-Scolari. Francamente, desvalorizo muito esta convocatória e, realmente, duvido muito de grandes mudanças nas primeiras opções do novo seleccionador para além, claro, daquelas a que o tempo obriga – não estou nada a ver Queiroz protagonizar novas versões dos casos Baía ou João Pinto, fazendo o mesmo tipo de finca-pé de Scolari.
Se não creio ter sido pela convocatória penso que a evidência das mudanças, que inevitavelmente atingirão a Selecção neste novo ciclo, terão chegado, de forma bem mais relevante, com as primeiras declarações de Queiroz. Sublinho 2 frases:
“A Selecção não é uma casa com lugares marcados” – Se não se estava a referir à forma como Scolari geria o seu grupo, Queiroz foi imprudente nesta declaração. Todos terão os seus métodos e a sua forma de liderar e escolher com quem contam, mas a última critica que se pode fazer à era Scolari é a forma como constituiu o seu grupo. Portugal não revolucionou a sua forma de jogar nem passou a ter melhores jogadores do que no passado, mas conseguiu, factualmente, os melhores resultados da sua história. A gestão do grupo era, goste-se ou não, o ponto forte de Scolari e, respeitando visões ou opções, duvido que seja por aí que Queiroz vá melhorar seja o que for...
“Ronaldo tem de ser avançado” – Se a primeira frase me leva a um torcer de nariz em relação à viragem de ciclo, esta tem um efeito contrário. Antes do Euro 2008 comentei que Portugal precisava de rever o seu modelo de jogo, cujas traves mestras haviam sido há muito formadas tendo como orientação as características de referências como Figo ou Rui Costa. Ronaldo é um jogador, hoje, diferente e particularmente forte na forma como aborda a zona de finalização. Sendo ele a referência de hoje e amanhã na Selecção, importa repensar alguns princípios do modelo. Só com um modelo que tire o melhor dos melhores poderemos ter uma equipa verdadeiramente forte.
Se com Scolari não tinha grandes esperanças de ver uma mudança neste aspecto – até porque o treino não era um ponto forte do “Sargentão” – com Queiroz creio ser possível Portugal, finalmente, acompanhar as evoluções geracionais com revisões no seu modelo de jogo. O treino e a rentabilidade do pouco tempo existente é a grande melhoria que penso que a “equipa Queiroz” pode trazer à Selecção.
Este é, na minha perspectiva, a revolução que importa fazer na principal Selecção e Queiroz saberá melhor do que ninguém onde Ronaldo pode ser mais útil. Falta agora saber o que entende Queiroz por “avançado”...