Depois da desilusão da apresentação frente ao Celtic, o Porto regressou aos testes de pré temporada como se nada tivesse acontecido. De facto, o jogo contra o Leixões não trouxe grandes novidades para além de um reforço das ideias já anteriormente tiradas. Ou seja, este Porto mantém grande parte das qualidades colectivas que fizeram dele um campeão inquestionável mas, do ponto de vista individual há ainda alguns problemas por resolver.
Primeira parte – a importância da pressão
Pressão alta. Este foi e continua a ser o grande factor de sucesso para o jogo portista. Quando a pressão funciona, quando o adversário não consegue pensar, então o Porto tem o jogo na mão e o mais provável é vermos golos construídos a partir de recuperações de bola, ou seja, através das famosas transições. Nos primeiros 15 minutos do jogo este aspecto do jogo portista funcionou em pleno, tirando depois partido de um Leixões desorganizado a um ponto quase primário (o primeiro golo surge de um contra ataque iniciado por Nuno que, incrivelmente, é conduzido completamente pelo corredor central). 1-0 foi pouco para o que se viu nesse período, mas o jogo não se manteve no mesmo ritmo e o que se seguiu mostrou um Porto menos capaz de tirar partido da pressão para impedir o Leixões de respirar.
Segunda Parte – Mais uma versão diferente de modelo alternativo
No segundo tempo, algumas alterações, destacando-se a entrada de Hulk (o que se viu é ainda pouco para constituir uma amostra significativa) e, mais importante, a saída de Lucho. Abdicando do seu jogador referência, o Porto não mudou o esquema no papel, mas mudou a sua dinâmica. Deixou de ter um jogador de meio campo a invadir em permanência o espaço entre linhas e passou a jogar com um trio de médios com um posicionamento mais simétrico, menos profundo e mais largo. Aqui, notou-se a intenção, nem sempre conseguida, de dar maior liberdade aos laterais, compensados pelo médio que actuava nesse flanco. Este é um esquema que o Porto utilizou com frequência no primeiro ano de Jesualdo e a sua alteração possibilitou, no ano passado, uma subida de rendimento e protagonismo a Lucho, menos preso à ala e mais liberto para invadir o espaço entre linhas.
Este foi, desta vez, o modelo alternativo de Jesualdo. Depois do 4-2-3-1 e do 4-4-2 clássico, dá a ideia que o “professor” não tem bem ideia da melhor solução a trabalhar como modelo alternativo. Nada como esperar para ver.
Notas relevantes
Posição 6 – Este parece ser o mais relevante quebra cabeças de Jesualdo. Desta vez, Guarin nem a 6 jogou. Foi Meireles. O resultado foi o que se esperava, Meireles faz melhor de Assunção, mas Guarin faz muito mal de Meireles. De facto o colombiano parece ser um jogador interessante em termos técnicos mas vem denotando uma grande lentidão em integrar-se nas rotinas do meio campo. O seu posicionamento foi muito mau, não fazendo os equilíbrios às movimentações de Lucho e Meireles e relevando dificuldades em criar linhas de passe relevantes. Ainda não está resolvido, longe disso, o problema e dei por mim a pensar porque é que, neste plantel, Kaz não mereceu uma oportunidade na pré época. Entre Bolatti e Guarin, o sentido posicional do polaco é incomparavelmente melhor.
Laterais – Aqui, parece-me, o Porto está mesmo condenado às diferenças qualitativas não havendo grande esperança em relação a grandes evoluções (a excepção poderá ser Sapunaru, mas sempre num registo bem diferente de Bosingwa). Fucile voluntarioso mas errático, tal como na época passada e Benitez com mais para mostrar mas ainda pouco para levar alguém a pensar que possa ser uma solução de qualidade.
Centrais – Rolando pode não entrar de inicio mas estou certo que, no momento certo, terá a sua oportunidade. Este não foi o melhor teste para aferir da sua evolução mas conhece-se o seu potencial em determinadas características, restando perceber como evoluirá noutros aspectos. Para isso, nada melhor do que a pressão dos jogos “a doer”. Para já, foi curioso ver, na primeira parte, ver Rolando e Pedro Emanuel trocar de posição, ocupando cada um metade do tempo a posição mais à direita. Esse será, precisamente, o lugar em disputa, ao lado de Bruno Alves.
Extremos – Claramente Rodriguez deverá ser uma boa aposta. Ainda não completamente integrado – Mariano, por exemplo, movimentou-se melhor do ponto de vista colectivo – mas a revelar evolução nesse aspecto, juntando vários apontamentos individuais que prometem fazer dele um desequilibrador de relevo (algo importante se Quaresma sair). Mesmo tendo em conta o preço elevado da sua contratação, o uruguaio parece vir a confirmar a margem de evolução que se previa. Se assim for, pode dizer-se que o Porto pagou, não só por um bom reforço para as próximas épocas mas também pela privação de um bom valor para um rival.