27.1.10

Pormenores tácticos de mais uma vitória "à Mourinho"

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Jogo enorme em Itália. O “Derby della Madonnina” com a intensidade de sempre, acrescida pelo interesse que tinha para o próprio campeonato. A história do jogo? Bem, podia ter sido diferente depois da estranha expulsão de Sneijder, tal o domínio que o Milan conseguiu em certos momentos, mas acabou por ter o desfecho que desde cedo se esperava. Isto, porque o Inter cedo tirou enorme partido dos momentos de transição e das fragilidades posicionais de um trio de médios mal posicionado do outro lado. Particularmente o duo Gattuso-Ambrosini. Tudo pareceu estudado, tudo pareceu previsto para tirar partido das fragilidades tácticas do Milan. "À Mourinho", portanto...

Jogada 1 (8’) – Um dos grandes problemas do Milan está patente nesta jogada. Sempre que Gattuso é obrigado a bascular à direita e a jogada não morre aí, abre-se um buraco enorme na zona central. Algo que o Inter aproveitou muito bem e que só não teve mais efeito pela expulsão prematura de Sneijder. O motivo tem a ver com o distanciamento permanente de Ambrosini da zona central, compondo um “duplo-pivot” ineficiente. No caso, Pandev não é devidamente pressionado por faltar ali um jogador e Sneijder, embora não beneficie directamente da situação, acaba por estar perto do golo. Nota para a importância do holandês acreditar sempre na jogada, o que lhe valeu a oportunidade.

Jogada 2 (9’) – O golo do Inter, embora simples, tem algumas particularidades que não podem ser ignoradas. Resulta de uma bola dividida, como tantas outras, batida por Dida. Primeira nota de destaque, de novo, o espaço entre linhas que se cria para Sneijder. Depois, o ponto mais importante da jogada, a decisão instintiva de Pandev de optar pela profundidade de Milito. Estava de costas e ao seu lado estava, livre, Sneijder. Pandev optou assim porque foi assim que foi “programado”. Treinado, isto é. Do lado do Milan, o pormenor de Thiago Silva não tentar colocar Milito em fora de jogo. Aliás, o próprio argentino hesita no avanço e só lhe dá continuidade porque Thiago o permite, ao recuar. Finalmente, e apesar do erro de Abate, destaque para a qualidade de Milito, na cultura de movimentos, na velocidade e, claro, na precisão final. É muito difícil controlar um avançado que aborda tão bem a profundidade.

Jogada 3 (14’) – Ainda antes da expulsão de Sneijder, este era o caminho do jogo. Expectativa do Inter e grande descontrolo no momento da transição defensiva por parte do Milan. Em particular, pelo mau posicionamento dos médios na hora da perda de bola. Pandev, Milito e Sneijder perceberam-no (ou já o saberiam) desde a primeira hora e recorrentemente estavam a criar o pânico. A importância que alguns treinadores dão ao “pivot” defensivo, fixo e disciplinado, encontra aqui a sua explicação.

Jogada 4 (16’) – Mais do mesmo. Transição e Gattuso a bascular à direita. Resultado? Buraco no meio. Sneijder não conseguiu dar o melhor seguimento, mas o desequilíbrio foi, mais uma vez, evidente.

Jogada 5 (54’) – Um momento brilhante de Pandev, fundamental para colocar em sentido o Milan, numa altura em que o domínio territorial era enorme por parte dos 'rossoneri'. Já várias vezes me referi à importância destes lances para a parte psicológica do jogo, mesmo não dando golo. Aqui está mais um exemplo. Para além da proeza de Pandev, duas notas. A primeira para a passividade gritante de Ronaldinho, abdicando de recuperar a bola numa zona em que tinha tudo para o conseguir. A segunda, de novo, para a linha do fora de jogo e para o mau posicionamento de Abate, longe de Milito, mas a deixa-lo em jogo. Quem quer jogar alto tem de ter muito maior concentração neste plano. Como Milito, então, muito mais!

Jogada 6 (60’) – Transição a partir de um canto, só por milagre não dá golo. Mais uma vez, destaco, para além da qualidade dos intérpretes, a falta de concentração num posicionamento colectivo que tire proveito do fora de jogo. No caso, Favalli. Esquece-se totalmente do posicionamento colectivo e, quando finalmente percebe, já é tarde demais. Se tivesse avançado uns segundos antes, Pandev teria de ter recuado e Milito ficaria mais vulnerável ao pressing por não ter soluções de passe.

Jogada 7 (64’) – O golo que sentenciou a partida teve “pontaria” do banco. Muitas vezes utiliza-se o termo para as alterações feitas, mas, desta vez, ele aplica-se de forma contrária. Ou seja, a uma alteração que foi, antes sim, evitada. Motta estava pronto para render Pandev, mas Mourinho retardou a substituição para que fosse o seu recente reforço a bater o livre. Pandev acabou por sair, sim, mas 1 minuto e... 1 golo mais tarde.

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