4.6.07

Bélgica-Portugal: Análise

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- Para começar – até porque é isso que mais conta – a vitória em Bruxelas foi importante mas não decisiva na caminhada rumo ao Euro. Portugal “limpou” as deslocações, em teoria, mais complicadas, mas não está, ainda, a salvo de eventuais dissabores. Em suma, o factor casa dá-nos uma vantagem para a recta final e até existirá margem de erro para falhar numa das partidas de 07/08, mas, em termos pontuais, a temporada termina sem qualquer ascendente real. Setembro será a altura das decisões.

- O jogo começou com Portugal a exercer domínio total. Os primeiros minutos, de resto, revelaram dois aspectos essenciais no partida: a superioridade técnica dos portugueses e as fragilidades defensivas dos belgas (quer individualmente, quer colectivamente). Portugal não foi, no entanto, eficaz nesse período, permitindo que a Bélgica mantivesse intactas as suas aspirações na partida.

- Se a Bélgica se mostrou francamente débil em termos defensivos, já ofensivamente foi uma equipa inteligente e esclarecida – pelo menos no primeiro tempo. Não tendo argumentos no plano técnico para rivalizar com Portugal, os belgas optaram por uma estratégia mais directa, fazendo uso das qualidades de duas individualidades: a estatura e bom jogo aéreo de Fellaini e a agilidade e agressividade de Mpenza (que grande jogo!). Não foi surpreendente ver Portugal sentir dificuldades. Este é um tipo de jogo estranho à cultura do futebol português e, por isso, sentimos tantas vezes dificuldades (quer na Selecção, quer ao nível de clubes) quando ele é aplicado.

- Em boa verdade, a primeira parte poderia ter terminado com vantagem para qualquer dos lados. Os portugueses foram melhores, não há dúvidas, mas nunca conseguiram realmente controlar a partida, tendo as investidas belgas criado demasiada instabilidade. A subida da Bélgica no jogo trouxe, no entanto, a nu a fraca cultura táctica e organização dos “Diabos Vermelhos”, sempre muito lentos e pouco equilibrados no momento da transição defensiva. Portugal aproveitou com a sua qualidade e, assim, usufrui de soberanas oportunidades ao longo do jogo.

- A segunda parte foi radicalmente diferente. Marcada por inúmeras interrupções, a partida reservou-nos uma Selecção invulgarmente inocente na confiança exagerada que revelou com um resultado tangencial e muito tempo para jogar, e uma Bélgica cansada e sem esclarecimento para perturbar Ricardo como o havia feito no primeiro tempo.

- A certeza do pontapé de Postiga contrastou com o desperdício de tantas outras jogadas e valeu a Portugal uma vitória justa e natural mas com algo para reflectir. As dificuldades sentidas perante o jogo directo belga deverão entrar no bloco de notas de Scolari. Do lado belga, uma selecção frágil, sem dúvida, mas muito interessante. Para além de Mpenza, há jogadores muito jovens que merecem atenção. Destaco Fellaini e Defour, com 18 e 19 anos respectivamente. Poderemos vê-los em maior detalhe no Euro sub21 deste ano.

- Individualmente dificilmente se poderão fazer elogios ou reparos às exibições, ainda assim aqui ficam algumas notas.
Paulo Ferreira: o cruzamento para o golo surgiu do seu lado, mas creio que Paulo Ferreira é, neste momento, a opção certa para a esquerda. Não é um fora de série mas é altamente competitivo e concentrado onde quer que actue.
Bosingwa: a sua entrada revelou dois aspectos. O seu notável momento de forma a que não é alheio o fulgor físico que possui, e as dificuldades que sente na abordagem aos lances aéreos – não foi por ele, mas não se explica o seu posicionamento no lance do golo belga.
Tiago: Tem qualidades inegáveis, mas, para mim, não faz esquecer o papel de Maniche no triangulo de meio campo.
Quaresma: Uma inconstância que é a imagem de um final de temporada sofrível. A sua qualidade requer mais exigência para que possa atingir um patamar mais elevado como jogador. Depende dele e... da sua saída do futebol português.
Postiga: Com a saída de Pauleta, Portugal fica a perder. Ainda assim parece-me ser a aposta mais consistente no leque de disponíveis para o lugar.

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