Holanda – Eslováquia
Sobre o primeiro jogo, de facto, não tenho muito a dizer. A Eslováquia foi dos que menos fez para chegar aos oitavos e se há alguma coisa que este Mundial nos tem ensinado é que é mesmo preciso jogar para ganhar, poque milagres não tem havido. E assim foi, novamente. Mas quero deixar algumas notas sobre o candidato, a Holanda: (1) Primeiro, para reforçar a ideia de que é uma equipa que, tendo as suas principais debilidades na cultura defensiva – colectiva e individual – das suas unidades mais recuadas, não me parece das piores deste Mundial. Nem de perto, nem de longe. À beira de formações como o Gana, o Uruguai ou a Argentina, a Holanda é uma perfeição defensiva. (2) Segundo, para destacar o regresso de Robben. Apesar da qualidade individual das suas unidades ofensivas, a verdade é que o futebol holandês raramente tem merecido grandes elogios pelo que faz quando tem a bola. Robben é um dos jogadores mais desequilibrantes do futebol actual. Adora o risco, e dos seus pés saem várias perdas e transições. O que sai também são lances decisivos com uma frequência assustadora. Será o “abre latas” da laranja. (3) Finalmente, referir uma curiosidade. A Holanda jogou numerada de 1 a 11. Não sei se mais alguma equipa o fará neste mundial (duvido!), mas este dado não é uma mera curiosidade. Basta recordar a passagem de Adriaanse pelo Porto, para perceber que os números são mais do que um capricho. São também uma indicação do posicionamento táctico de quem os traz nas costas. É uma curiosidade que vale o que vale, mas que indica, pelo menos, que as coisas não são feitas por acaso na equipa holandesa.
Brasil – Chile
O Chile até poderia ser das formações mais interessantes em alguns aspectos deste Mundial, mas se me perguntassem qual o embate mais previsível dos oitavos, não hesitaria em apontar para este. É bonito entretermo-nos com um futebol técnico e com boa qualidade colectiva quando em posse, mas torna-se para mim difícil perceber o que espera Bielsa de um jogo contra o Brasil, mantendo certas debilidades crónicas na sua equipa. Será que ele acreditava ter alguma hipótese de ganhar? Francamente, não entendo...
O Brasil é uma equipa obcecada com o equilíbrio táctico, que adora jogar em transição e que procura aproveitar a eficácia das suas investidas ofensivas para ganhar vantagem. O Chile, para os brasileiros, era o adversário perfeito e não é por acaso que quase sempre sai goleado. Sai e sairá de novo, se voltar a repetir a receita...
Comecemos pelo primeiro golo. Já o tinha escrito há muito e era improvável que a factura não acabasse por ser paga. Como é que é possível pensar em fazer carreira num Mundial com uma equipa que não tem um único jogador utilizado acima do 1,85m, e onde apenas 5 dos 14 que jogaram ultrapassam, ainda que marginalmente, o 1,80m?! Não admira que sofressem um golo pelo ar, e não admiraria que fosse também essa uma via privilegiada para o Brasil marcar a diferença caso o nulo se tivesse mantido por mais tempo.
Mas há mais... Se o Brasil gosta da transição, nada como uma equipa que, apesar de boa em posse, não percebe a importância dos equilíbrios tácticos e que assume um risco absurdo para a natureza do jogo que está a jogar. Perfeito para Dunga. Foram 3, e foram apenas porque os brasileiros resolveram trocar a eficácia pelo brilhantismo individual na conclusão de algumas transições quando jogo já estava mais do que sentenciado.
Diria que o Chile esteve algures entre o sofisma e o conto de fadas, mas inclino-me bem mais para a segunda hipótese. Mostrou-nos uma ideia bonita e coerente, sem dúvida, mas nunca com potencial para enganar alguém. Todos sabíamos que, por mais bonita que fosse a princesa, nenhum sapo viraria príncipe...