26.6.10

Diário de 'Soccer City' (#15)

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Talvez seja por tanto terem escutado as profecias da desgraça dos velhos do Restelo. Ou, então, talvez seja apenas do fado que nos está no sangue. A verdade é que este empate frente ao Brasil, serve para a maioria como uma vitória. Um alívio. Tanto, que até o próprio seleccionador afirma ter visto a sua equipa jogar de “smoking”. É verdade que o Brasil é uma equipa de potencial superior, e que um empate frente à “canarinha” nunca será um mau resultado. É verdade, também, que o jogo foi dividido e que não estivemos mais longe de o ganhar do que o Brasil. Para mim, porém, custou-me ver o jogo português, especialmente na primeira parte. Venho dizendo que Portugal não pode esperar que o nível dos seus últimos 15 anos se eternize no tempo, e que o mais normal é que voltemos a um patamar mediano, mais tarde ou mais cedo. Ainda não lá chegamos, mas, confesso, frente ao Brasil dei por mim a concluir que já recuamos uns bons degraus em relação a anos anteriores. E falo principalmente da mentalidade.

Começo por clarificar a minha posição. Não há nada de errado em definir como prioridade o equilíbrio táctico ou em adoptar uma estratégia de transição frente a um adversário com o potencial técnico dos brasileiros. Creio, até, que é o caminho mais curto para a vitória. O problema, porém, é que Portugal tem nível suficiente para ser mais ambicioso na qualidade que tenta empregar em cada momento do jogo. Não era preciso ter medo de jogar quando ganhamos a bola, ter medo de trabalhar a posse com critério e qualidade, ou pedir a Ronaldo que tente rematar de 40 metros de cada vez que tivesse oportunidade para tal. Não era preciso, porque Portugal ainda vale bem mais do que isso e porque pode e deve ter mais ambição e exigir mais do seu jogo. O que vi naquela primeira parte foi um “flashback” dos tempos em que éramos Futre e mais dez – para não invocar outros tempos ainda piores – e em que coleccionávamos os cromos dos outros nas grandes competições. Felizmente que as coisas mudaram alguma coisa na segunda parte...

Enfim, não quero ser ingrato e exigir o impossível da Selecção, mas continuo a não encontrar um leque substancial de equipas que nos sejam claramente superiores. Uma ideia que trouxe comigo para o Mundial e que não foi entretanto desfeita. Espero agora que a má fortuna do sorteio – já sabíamos que teríamos de contar com ela – não sirva de desculpa para não sermos ambiciosos. Espero que Portugal seja inteligente e não utópico na forma como escolhe a sua estratégia, e posso facilmente prever que será muito semelhante àquilo que fez frente ao Brasil. Em traços gerais, parece-me bem. O que desejo, porém, é que não regrida demasiado depressa no tempo. Que se valorize e que valorize o seu jogo. Que apresente um futebol confiante e não aquele complexado da primeira parte frente ao Brasil. Se assim for, não tenho duvidas, o favoritismo espanhol depressa deixará de ser uma certeza.



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