17.6.10

Diário de 'Soccer City' (#9)

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Chocante! Não pelo resultado, porque se um dia antes havíamos visto a Espanha cair perante a Suíça, não poderia ser agora a derrota de uma França moribunda a fazer-nos abrir a boca de espanto. O que realmente choca é a forma como tudo aconteceu. Os méritos do México, ninguém os tira, e já irei a eles, mas o que se viu do lado francês superou todas as marcas. A substituição de Anelka ao intervalo, a exibição em perda progressiva, a ausência de Henry e Gourcuff e, sobretudo, a enorme passividade de todos perante um cenário de tamanho descalabro. Não vou mais além do que isto, porque seria entrar num campo meramente especulativo, mas diria que há algo de muito estranho por trás desta tremenda hecatombe gaulesa.

Tacticamente, diria que a exibição francesa prova, de novo, como o futebol vai muito para além de sistemas e opções individuais. Não houve nada de errado com o 4-2-3-1 de Domenech, e as suas escolhas, embora discutíveis, não chegam, nem um pouco, para explicar a pobreza a que se assistiu. O que faltou – e de novo – à França foi qualidade em tudo aquilo que tentou fazer. Com bola, jogava no improviso individual e não tinha, nem qualidade de movimentos, nem sequer um plano para chegar ao seu destino. Sem bola, tentou pressionar alto, mas não conseguia parar o primeiro passe. Abriu um espaço entre linhas gritante e nem sequer a sua linha mais recuada se salvou minimamente, mantendo um espaço enorme entre os seus elementos e falhando frequentemente no aproveitamento do fora do jogo. É para mim um tremendo enigma como uma equipa – com tanto potencial – se pode apresentar desta forma depois de 1 mês de preparação...

Mais interessante, e seguramente mais animador, é falar do México. Defensivamente é uma equipa que não merece grandes elogios. Não tão má quanto o Uruguai frente aos mesmos gauleses, mas mesmo assim sem uma grande qualidade naquilo que fez sem bola. Mais, o México foi até mais inocente na forma como consentiu algumas perdas de bola que resultaram em transições de perigo potencial (raramente concretizado, diga-se).

Outra coisa é falar da grande nuance táctica do jogo: a forma como o México estrategicamente preparou as suas ofensivas. Em vez de utilizar Franco como unidade mais avançada, e Vela e Giovani nas alas, Aguirre optou por baixar o ponta de lança e torná-lo num “pivot” para todas as situações ofensivas. Quer em construção, quer em transição. E funcionou em pleno porque, primeiro, a França abriu um espaço gigantesco entre a linha defensiva e o primeiro médio e, depois, porque Domenech devia estar a pensar na sua longa viagem de regresso e não foi capaz de corrigir uma situação tão flagrante e repetido ao longo do jogo. Com isto, não só a França passou por dissabores para controlar os movimentos diagonais de Vela e Giovani nas costas do “pivot”, como ficou impedida de se manter alta no campo e pressionar. Sempre que a bola entrava em Franco, era ver os franceses correr para trás, tentando remendar algo que normalmente devia ser prevenido.

O debate sobre a paupérrima selecção gaulesa – em termos relativos, a pior do Mundial – deverá ficar por aqui, e aproveito o último parágrafo para um pequeno apontamento sobre um tema paralelo nesta competição: as transmissões televisivas. Por estar ausente de Portugal, tenho acompanhado as transmissões noutros canais, entre os quais a BBC. É a esta estação britânica que quero prestar a minha homenagem. A ausência de anúncios é aproveitada de uma forma fantástica para os espectadores. Ao intervalo, por exemplo, figuras como Seedorf ou Shearer estão a fazer a sua análise do jogo, umas escassas de dezenas de segundos após o apito do árbitro. O mais interessante, porém, é o facto de o poderem fazer já com o apoio de imagens recolhidas e tratadas sobre um jogo que apenas acabara de terminar. É caso para dizer que na BBC cada jogo vale bem mais do que os 90 minutos.



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