2.6.10

Portugal - Camarões: números e opiniões

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Não dá para entrar em euforias e há várias coisas que julgo que têm de ser afinadas antes do inicio da competição, mas dá para ver que também há notícias positivas na preparação para o Mundial. Dá para ver - não que fosse preciso - também, que o cepticismo em torno da Selecção atingiu níveis disparatados. Mas isso é outro assunto. O jogo frente aos Camarões acabou por confirmar aquilo que me parece ser um dos grandes mitos das fases de preparação: que os denominados "testes" antes da competição nada têm a ver com aquilo que se vai jogar quando começar a doer. Pode ser confortável acreditar que jogar com os Camarões serve para enquadrar o jogo de abertura. De facto, porém, os jogos serão completamente diferentes, sendo perigoso fiar-se num jogo de tão baixo nível de intensidade como aquele que se jogou na Covilhã. É isso que diz, também, a estatística.

Deco, a boa notícia
Um dos motivos pelo qual Portugal tem de ser sempre olhado como um dos favoritos é o seu potencial individual. Num bom dia, pode ganhar a qualquer equipa. Ora, é no plano individual que as boas notícias chegam para Portugal. Deco, mais concretamente. O criativo é sempre uma das grandes incertezas da Selecção e é fácil perceber que dele depende boa parte do potencial da equipa. Deco, frente aos Camarões, teve uma influência tremenda no jogo, algo que indicia uma boa condição para o arranque da prova. E isso é uma grande notícia. Ainda no meio campo, também Meireles me parece ser um dado positivo. Se Deco é influente pela presença permanente que consegue ter em jogo, Meireles serve de contra-peso pela sua capacidade de se mover sem bola. Foi o mais rematador da equipa e as suas chegadas à zona de finalização não podem deixar de lembrar outro elemento que tanto sucesso teve ao lado de Deco: Maniche.

As reticências: laterais e bolas paradas
A Selecção mostrou bons indicadores em algumas situações de pressão, saída em transição e posse de bola. Indicadores de uma qualidade que existe e tem de existir. Mas também deixou algumas reticências. Os Camarões dividiram a posse de bola e, embora isso não fosse particularmente mau dado o risco que assumiram, a verdade é que por vezes pareceu demasiado consentido o espaço a alguns jogadores. Particularmente Song, que era quem coordenava o jogo. Uma falta de intensidade que, talvez, surja pela própria natureza do jogo.

Mas o que mais me preocupa são 2 aspectos. O primeiro são as bolas paradas, onde se voltaram a ver falhas. O segundo foi a dificuldade de controlo em alguns momentos de transição. Particularmente, tenho muitas reticências em relação ao poder de explosão de Kalou e Gervinho. Controla-los, a eles e às primeiras bolas de Drogba, será mais de meio caminho andado para bater a Costa do Marfim. Mas não será fácil.

A importância das transições
Um dos motivos pelo qual é mais fácil a Portugal agradar perante adversários mais fortes, é porque estes lhe permitem jogar em transição e não sistematicamente em organização, onde o espaço é bem menor. Não é grave. É um problema comum à generalidade das Selecções, mesmo as mais fortes. Ora, é por isso que se torna importante ter uma boa capacidade de recuperação. Deco não é apenas importante pela criatividade. É muito mais do que isso. É importante porque está presente em todos os momentos do jogo e porque se revela também um fantástico recuperador (foi o jogador que mais intercepções conseguiu na Selecção). O mesmo se pode dizer de Liedson, que vale bem mais do que os golos que regularmente consegue. Neste jogo, por exemplo, não teve qualquer ocasião mas não deixou de ser fundamental no pressing da equipa.

Camarões
Já agora uma palavra sobre os Camarões. Neste registo não terá grandes hipóteses. Com ou sem Eto'o. Não terá porque demonstrou ser uma equipa macia, tecnicamente dotada, sim, mas irresponsável em posse e com grandes dificuldades em manter equilíbrios posicionais ao longo das jogadas. Há, no entanto, vários jogadores de enormíssima qualidade. Entre todos, destaco Mbia, um médio que este ano se revelou como central no Marselha. Tem de evoluir em alguns parâmetros, mas é um jogador de enormíssimo potencial, com capacidade para entrar na elite mundial a breve prazo, assim queira algum "tubarão" apostar nele.

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