8.12.09

Setúbal - Sporting: Obrigado a ganhar

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“Obrigado a ganhar”, é uma expressão que habitualmente se utiliza noutro contexto. Neste, porém, a obrigatoriedade não tem a ver com o compromisso com objectivos próprios, mas antes com as incidências do jogo que praticamente encaminharam o Sporting até à vitória. A fragilidade do adversário, a felicidade de se entrar a ganhar e, finalmente, o devaneio de André Pinto à entrada da recta final do jogo. Foi obrigado e ganhou mesmo, num jogo com "pouca baliza" mas, no meu entender, muito interessante em relação à evolução do próprio Sporting. Viram-se coisas novas, algumas bastante boas e outras que devem fazer soar as sirenes de alerta. Apesar de tudo, no entanto, o Sporting foi sempre muito superior a um Vitória, esse sim, muito modesto.

Para começar, o sistema. Não para falar do “não tema” que tem envolvido Liedson e a “táctica”, só explicável por 2 motivos. Ou se percebe pouco do que se fala, ou não se tem mais nada para falar. O sistema tem, isso sim, relevo pela novidade da inversão do triangulo do meio campo. Moutinho ao lado de Matías e à frente de Adrien, numa versão que se apresentou muitíssimo interessante com bola. Futebol muito trabalhado, valorizando a posse e circulação e com invulgar mobilidade dos jogadores da frente, destacando-se as repetitivas permutas dos extremos com os médios e com o próprio Liedson.

A construção, por irónico que pareça, é hoje o melhor do Sporting. Mesmo se do lado do Setúbal esteve uma oposição frágil e facilitiva em termos de pressing (em especial na saída pelos corredores), e mesmo se Adrien tem um rendimento ao nível do passe absolutamente proibitivo para quem joga na sua posição. Há, no entanto, da parte do Sporting aspectos que o distanciam ainda de um nível mais próximo do óptimo.

Para perceber no que falhou o Sporting é útil recorrer a dois dados estatísticas. Primeiro, a posse de bola, totalmente dominada pelos "leões". A posse reflecte de forma fiel o domínio que a equipa teve no jogo, mas não encontrou expressão ao nível de ocasiões. Ou seja, falta o último terço à posse do Sporting, quer no entrosamento de alguns movimentos nessa zona, quer na capacidade de rotura de alguns jogadores. Segundo, os fora de jogo. O Setúbal foi altamente previsível com bola, utilizando lançamentos largos, em especial nas suas transições. Ainda assim, porém, raramente foi apanhado em fora de jogo, porque a linha defensiva do Sporting parece ter vertigens. Este pode ser um problema fundamental para o sucesso de um modelo que se quer dominador. Quando perde a bola a equipa tem de conseguir recuperá-la rapidamente e para isso tem de pressionar o mais alto possível. Se a defesa baixa instintivamente, abrem-se espaços entre sectores, facilitando o espaço para a transição e não dando alternativa para que a equipa recue totalmente no campo. São hábitos que vêm de trás e de um modelo diferente em termos de pressão. Neste, não há volta a dar. Ou a linha defensiva tem “nervo” para encurralar o adversário, ou o Sporting vai sofrer muito com as transições adversárias.
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