5.9.08

Fenerbahce: Os primeiros passos de Aragonês

ver comentários...

No seu jogo de estreia na liga dos campeões, o Porto vai receber o Fenerbahce, um gigante turco que procura, este ano, dar continuidade aos feitos europeus de 07/08 mas com outro nome no comando técnico. Zico completou uma excelente campanha na Champions League, mas o preço da não renovação do título turco acabou por ditar a não renovação do seu contrato para virar a aposta do ‘Fener’ para o mercado espanhol, contratando o seleccionador campeão europeu, Luis Aragonês.
A chegada de Aragonês implicou algumas alterações na forma de jogar e, embora ainda tenham sido poucos os jogos nesta nova época, é já possível perceber o que se pode esperar desta equipa que tem nas suas fileiras vários nomes sonantes do futebol europeu e mundial. Para já, 1 derrota em 2 jogos no campeonato não impressiona, mas a qualificação para a Champions era mesmo o primeiro objectivo de Aragonês, e esse, foi cumprido. Respeito e toda a atenção é o que se exige ao Porto ou qualquer adversário do Fener. É o que se espera de quem joga contra um clube que, não só tem vários nomes de respeito no elenco, como é um gigante do futebol europeu. Muita gente ignora este número, mas o Fenerbahce reclama ter 30 milhões de adeptos!

Sistema táctico e opções
Aragonês levou para a Turquia muitas das ideias que se viram na Espanha que esteve no Euro. As diferenças nas características dos jogadores tornam, no entanto, impossível de reproduzir muitas das características do modelo que conquistou a Europa em Junho. O 442 espanhol no Euro assumia diferenças no comportamento dos médios centro e dos atacantes. No Fenerbahce estas diferenças são ainda mais visíveis, podendo até discutir-se a existência de uma linha de 4 no meio campo. Embora essa pareça ser a intenção base de Aragonês, o comportamento de Alex e Maldonado é tão diferente que muito raramente são vistos lado-a-lado.
No que respeita a opções, há ainda alguma incerteza de que forma Aragonês irá integrar Deivid que tem estado afastado por lesão e se poderá integrar o reforço Josico no lugar de Maldonado. De resto, as opções do ex-seleccionador espanhol têm sido muito constantes neste inicio de época, talvez com o objectivo de conseguir um mais rápido desenvolvimento das suas rotinas. Na baliza, Volkan Demirel é o titular da equipa e também da selecção turca. O quarteto defensivo é formado por Gokhan Gonul (o “Cafu turco” para Zico) na direita, Roberto Carlos na esquerda e os sul americanos Edu Dracena e Diego Lugano como centrais. A opção para terceiro central é Yasin. No meio campo, o chileno Maldonado, recentemente contratado ao Santos, é a presença mais defensiva, um lugar também desempenhado por Sahin nos primeiros jogos da época. Alex tem lugar indiscutível, assim como Kazim Kazim sobre a direita. Na esquerda Ugur Boral tem sido a aposta. No meio campo existem várias alternativas como Burak Yilmaz ou Metin. No entanto a principal referência vai para o experiente Emre (ex-Newcastle) que tem sido preterido no elenco titular, o que diz bem da qualidade das opções de Aragonês. Na frente, Semih Serturk e Guiza são actualmente as apostas fortes para chegar ao golo.

Como defende?
Muitos dos golos da equipa resultam de transições, o que revela a intenção da equipa em procurar potenciar e aproveitar o erro do adversário. Com efeito, apesar do bloco não ser alto, a equipa não abdica de perturbar a primeira fase de construção adversária, com Guiza e Senturk (este sempre mais recuado do que Guiza quando a equipa perde a bola) a terem uma acção importante nesse momento. De resto, a equipa recua as suas linhas para evitar dar muito espaço entre sectores. Destaque aqui para os dois homens de meio campo. Enquanto que Maldonado tem uma função muito participativa e importante nas ações defensivas, Alex revela muitas dificuldades em recuperar defensivamente, encostando muito raramente no chileno.
Outro aspecto relevante é alguma tendência para o erro da zona defensiva.Começando no guarda redes, toda a defesa denota alguma instabilidade que resulta, muitas vezes, de uma lenta recomposição do posicionamento defensivo.

Como ataca?
Ao contrário do que acontecia com a Espanha esta equipa do Fenerbahce tem muitas dificuldades em superar uma pressão mais incomodativa sobre a sua primeira fase de construção. As linhas de passe não são facilmente criadas no meio campo e a equipa acaba por recorrer muitas vezes a aberturas mais largas em busca de Guiza para depois aproveitar a segunda bola. Este tipo de lançamentos largos partem muitas vezes dos laterais são muito recorrentes particularmente em Roberto Carlos que tira partido do seu notável pé esquerdo para virar rapidamente o flanco ou cruzar largo para a área, tentando surpreender as defesas contrárias.
Se a equipa não é muito forte a chegar perto da área contrário, é-o de facto a partir desse momento. Os cruzamentos são normalmente bem medidos e a zona de finalização é quase sempre muito bem abordada por um grande número de jogadores. Destaque ainda para Alex que, embora sinta algumas dificuldades a jogar como segundo médio, é fortíssimo nas imediações da área, sendo um notável finalizador e tendo um excelente instinto na zona terminal do campo.

Treinador
Luis Aragonês – O “vovô” Aragonês parecia estar em fim de carreira mas o notável Euro espanhol relançou a longa carreira deste treinador de uma forma improvável para alguém que leva já 70 anos de vida. Este é o primeiro desafio de Aragonês fora de Espanha depois de ter corrido praticamente meia Espanha, treinando clubes como o Barcelona, Valencia, Maiorca, Sevilha ou Betis. O seu clube de sempre, que treinou várias vezes, tendo sido campeão em 77 é, claro, o Atlético de Madrid, no qual também se notabilizou como jogador.

5 estrelas
Roberto Carlos (35 anos, defesa esquerdo)
– Aos 35 anos continua a ser uma mais valia ofensiva. A idade, no entanto, faz juz ao ditado e, também no seu caso, não perdoa. A velocidade não é a mesma e esse é um aspecto mais notado defensivamente onde parece bem mais permeável do que no passado. O seu pé esquerdo continua a fazer moça. Cruzamentos, aberturas e, claro, remates são uma ameaça.

Alex (30 anos, médio ofensivo) – O Fenerbahce pode contratar muitas estrelas mas dificilmente alguma rivalizará com Alex. Este jogador que se revelou como craque no Brasil talvez não tenha pelo futebol europeu a atenção merecida. Os seus números são impressionantes. Em quase 200 jogos pelo Fenerbahce Alex tem uma percentagem de golos e assistências semelhantes, de cerca de 50%. Ou seja, em quase 200 jogos, Alex participa directamente em cerca de 1 golo por jogo. É um jogador de perfil semelhante ao de Rivaldo, ou seja, muito forte tecnicamente mas sobretudo desequilibrador em zonas proximas da área, onde faz muitos golos. Esta colocação de Aragonês retira-o dessas zonas pedindo-lhe que seja mais participativo no primeiro momento de construção, onde não é tão forte.

Kazim Kazim (22 anos, extremo) – Deu nas vistas no Euro. É um jogador um pouco atípico como extremo. Apesar de forte tecnicamente (cruza muito bem), gosta do contacto e não tanto de atacar a profundidade. É também um jogador que gosta do contacto e que serve muitas vezes de pivot. Tem tendência para flectir para zonas interiores e é bastante forte na área.

Semih Senturk (25 anos, avançado) – O homem dos golos no último minuto no Euro é um temível goleador que surgiu muitas vezes a fazer golos vindo do banco (foi máximo goleador do campeonato turco em 07/08). Este ano parece merecer mais minutos de forma mais regular e tem-se afirmado fazendo dupla com Guiza, embora em funções ligeiramente diferentes. Mais recuado defensivamente e móvel ofensivamente, Semih revela-se muito agressivo e combativo sem bola, sendo elemento importante na pressão, mantendo o mesmo faro pelo golo quando a bola entra na sua zona, a área.

Dani Guiza (28 anos, avançado) – A grande contratação do Verão torna-o no jogador do momento. A sua afirmação não tem sido fácil apesar dos esforços, não marcando nos primeiros 2 jogos do campeonato. Guiza funciona como referência ofensiva nos lances aéreos revelando-se bastante forte nessa tarefa. Obviamente que as suas características não se esgotam aí, tendo muita qualidade na forma como se movimenta na frente de ataque. Nota para a tendência para surgir ao segundo poste nos cruzamentos, muitas vezes servindo a zona central.

AddThis