Depois de se ter sagrado campeão europeu em 2006, o Barça de Rijkaard foi perdendo força de forma progressiva até ao culminar da época 07/08 onde a depressão do seu momento futebolístico levou à mudança. Mudança de treinador, claro, e mudança de jogadores, alguns. Pedia-se e esperava-se que esta pequena “revolução Guardiola” abrisse um novo ciclo desportivo. A verdade, porém, é que a ponte entre o Barça do final de Rijkaard e o do inicio de Guardiola tem uma extensão tão curta que se chegam a confundir as suas extremidades. O mesmo modelo de jogo, com muitos dos mesmos defeitos que vinha apresentando e com uma dose acrescida de pressão externa. Este foi o Barça que perdeu perante um modesto Numancia num jogo de sentido único mas sem qualquer imaginação ofensiva e também aquele que se pôde ver nos principais testes de pré época, com destaque para a sofrida e sofrível vitória, resgatada nos descontos, sobre o Boca no Juan Gamper.
Com a época ainda no seu incio, o Barça dará novo sinal de si e do seu estado no fim de semana mas, para já, o Camp Nau, com todas as suas estrelas, parece um palco longe de estar imune a uma surpresa. Não que seja fácil mas porque, ao contrário da maioria das vezes, pode dizer-se que é possível.
Com a época ainda no seu incio, o Barça dará novo sinal de si e do seu estado no fim de semana mas, para já, o Camp Nau, com todas as suas estrelas, parece um palco longe de estar imune a uma surpresa. Não que seja fácil mas porque, ao contrário da maioria das vezes, pode dizer-se que é possível.
Sistema táctico e opções
Tacticamente, o 4-3-3 permanece inalterado, com dois extremos sempre bem abertos, um pivot defensivo no meio campo e 2 médios mais voltados para a frente do que para trás.
Se colectivamente este Barça deixa ainda muito a desejar, individualmente é fantástico, talvez, como mais nenhuma equipa no mundo. Na baliza estará, seguramente, o elo mais fraco, mais pela elevada qualidade nos restantes sectores do que, propriamente, por falta dela em Victor Valdez. Na defesa, o quarteto tem sido formado por Daniel Alves (a novidade), Puyol, Marquez e Abidal, mas há outras opções de qualidade como Milito (lesionado), Sylvinho ou os jovens Gerard Pique e Martin Caceres. No meio campo, Yaya Touré é o pivot defensivo que tenta libertar os heróis de Viena, Xavi e Iniesta para uma missão o mais ofensiva possível. As alternativas para esta zona são o recentemente contratado Keita (ex-Sevilha) e os polivalentes Hleb (pode ser extremo) e Gudjohnsen (pode ser avançado). Nos extremos estão as super estrelas Messi e Henry, podendo ter como alternativa o prodígio Krkic (também pode jogar como avançado), Hleb ou o jovem Pedro Rodriguez. Na frente, e apesar de toda a especulação sobre a sua eventual saída, Eto’o continua a ser o dono inquestionável de um lugar que tem em Krkic e Gudjohnsen duas alternativas de perfis diferentes do camaronês.
Como defende?
Para uma equipa com tanta qualidade de posse de bola faz sentido tentar recuperá-la o mais rapidamente possível. Esse era já um principio fundamental de Rijkaard e permanece com Guardiola. A verdade, porém, é que a equipa nem sempre o faz da melhor forma, não sendo muitas vezes lesta a pressionar e permitindo que o adversário goze de espaço desaconselhável para jogar. Este (a forma como pressiona) tem sido um dos principais do inicio de temporada, não conseguindo o número de recuperações de bola desejáveis e, pior ainda, permitindo muitas vezes que o adversário possa chegar com alguma facilidade à sua área.
Na acção defensiva há, claro, um jogador de particular importância, Yaya Touré. É ele que restabelece os equilíbrios de uma equipa que se adianta muitas vezes com os dois laterais em simultâneo. Yaya Touré tem do seu lado uma vantagem importante que é o aspecto físico. Em particular no jogo aéreo essa é uma característica importante para uma equipa que tem em Xavi e Iniesta dois jogadores muito baixos para as primeiras bolas aéreas que caiam naquela zona.
Como ataca?
Desde o “eclipse” de Ronaldinho que em Barcelona deixou de existir uma grande qualidade colectiva nas acções ofensivas. Este aspecto é, no entanto, muitas vezes contornado pela extraordinária capacidade ofensiva dos seus jogadores. A ideia ofensiva passa por uma circulação em posse que tira partido, numa primeira fase, do extraordinário jogo em posse de Xavi e Iniesta para depois colocar a bola nas alas e fazendo-a circular de um flanco ao outro à procura de espaços. Aqui torna-se fundamental a capacidade desequilibradora dos extremos e, perante espaços reduzidos, a equipa fica rapidamente sem ideias que vão para além dos rasgos individuais dos seus jogadores (em Numancia, num campo pequeno, isso ficou muito claro).
Nota para alguns movimentos característicos. Os laterais têm ordem para subir e aparecer nas costas dos extremos mas Abidal tem, neste aspecto, uma propensão ofensiva muito diferente de Daniel Alves (cujas subidas não são sempre ao longo da linha). Aqui, o flanco esquerdo é compensado por um aparecimento mais frequente de Iniesta sobre esse flanco, enquanto que Xavi se tem destacado pelos golos que vem marcando através de penetrações na zona central. Os extremos também são diferentes. Embora troquem de posição, Messi aparece sobretudo sobre a direita e tem tendência para flectir muito para o interior à procura de desequilíbrios com o seu drible curto. Na esquerda Heny também joga de pé trocado mas procura mais vezes a linha. O Francês parece atrofiar neste modelo que o prende à esquerda. Se não lhe for dado espaço para atacar a profundidade, a sua explosão torna-se pouco útil, restando, claro, o que o seu pé direito pode fazer quando lhe é dado o interior. Resta falar de Eto’o. Sempre imprevisível e temível, ora a vir para dentro e combinar, ora atacando a profundidade.
Treinador
“Pep” Guardiola – Ainda é difícil associar o seu nome a um personagem que actua fora do campo. Na verdade com a sua idade (37 anos) ainda poderia estar do lado de dentro, mas o seu percurso levou-o a tornar-se num protagonista de banco mais cedo do que seria de prever. Apenas 1 ano após ter iniciado funções como treinador principal do Barcelona B, Guardiola foi o eleito para suceder a Rijkaard. O inicio complicado tem-no feito esbracejar muito e sorrir pouco do lado de fora, mas a sua carreira tem muito tempo para que possa inverter esta imagem.
5 estrelas
Daniel Alves (25 anos, defesa direito) – A única novidade em relação a 07/08 no onze base de Guardiola. A atenção mediática e os números da sua transferência aumentam de sobremaneira a expectativa em torno do seu desempenho em Camp Nau. O Barcelona parece ser o clube ideal para as suas características, fazendo apelo à capacidade ofensiva dos laterais. Para já, em Numancia, não foi feliz, perdendo algumas bolas por displicência e aparecendo mais vezes por dentro do que junto à linha.
Xavi (28 anos, médio centro) – A sua carreira atingiu o pico com as exibições do Euro, aumentando as expectativas para esta temporada. Todos já conheciam a sua notável capacidade em posse de bola, quase imune ao “pressing”, mas no último ano ele juntou a essa virtude um excelente sentido de chegada à zona de área, tornando-se num goleador mais frequente e num jogador mais temível no último terço de campo.
Leo Messi (21 anos, extremo) – Vindo do Oriente pareceu apertado no jogo frente ao Numancia, sendo, mesmo assim, a principal fonte desequilíbrios da equipa. Apesar do momento colectivo da equipa, se Messi estiver inspirado, dificilmente o Barça não ganhará. A diferença com Messi é que a inspiração é um estado natural!
Thierry Henry (31 anos, extremo) – A mudança de ares foi prejudicial para a sua carreira. Não pelo país, nem mesmo pelo futebol do país mas antes pela forma onde joga. No Arsenal, Henry partia de zonas interiores, em Barcelona parte de zonas exteriores e isso, para as suas características, faz toda a diferença. Quando lhe dão espaço para explodir em profundidade ou para rematar cruzado com interior do seu pé direito, reaparece o Henry de Highbury.
Bojan Krkic (18 anos, extremo) – Não será ainda uma primeira escolha permanente mas merece o destaque. O seu perfil bate certo com a cara do Barça, de Messi, Xavi e Iniesta. Baixo e com um drible curto e rápido, parece impossível desarmá-lo. Junta a isto uma excelente capacidade para jogar na área, o que explica a sua frequência goleadora. Pode jogar no lugar de Eto’o mas creio que a baixa estatura da equipa acabará por fazer com seja mais uma opção para actuar como extremo.