29.9.08

Benfica - Sporting: Jogo de 6 pontos

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Jogo de 6 Pontos – No Brasil usa-se várias vezes a expressão “jogo de 6 pontos” para classificar embates entre equipas que discutem o mesmo posto da tabela. Talvez seja exagerado o termo, mas seguramente não o é mais do que a habitual desvalorização de quem afirma tratar-se de apenas “mais um jogo”. Não é. É um jogo especial e que conta mais do que os outros, não apenas porque dá e tira pontos, mas porque mexe naquilo que os treinadores às vezes não conseguem mexer, apesar de tanto tentarem: o lado psicológico.
Fica claro, por tudo isto, que o Benfica vence mais do que 3 pontos e que o Sporting não terá apenas perdido essa mesma quantia pontual. Os efeitos colaterais, no entanto, realmente só poderão ser medidos a prazo. Para o Sporting, a derrota afecta a confiança e coloca uma pressão maior do que seria de esperar pela situação classificativa (continua na melhor das posições) para o embate com o Porto, onde joga, mais do que a liderança, a recuperação psicológica de uma equipa que, há bem pouco tempo, era vista como particularmente mais forte nos grandes embates. Para o Benfica, sobra, acima de tudo, uma fé reforçada no “projecto Quique” que, no entanto terá novo desafio importante frente ao Nápoles, Quinta-Feira. É curioso, mas penso que se as coisas correrem mal, o Benfica poderá ficar mais forte internamente, mas isso, mais uma vez, só o tempo poderá confirmar.

Benfica – Para o derby Quique não trouxe surpresas de relevo, tendo em conta as indisponibilidades recentes. O destaque está na manutenção de Ruben Amorim como ala, uma opção que dá outra consistência (e inteligência) ao meio campo e que, provavelmente, terá prejudicado o Benfica ao não ter sido adoptada frente ao Porto. Para além das opções individuais, destaco a estratégia aplicada, sem entrar, no entanto, em algum exagero comum nestas alturas. O Benfica não foi, à excepção de períodos muito curtos no jogo, dominador, mas também não era obrigatoriamente esse o seu papel. Frente a um adversário mais forte em posse, o Benfica optou por apresentar um pressing mais cauteloso, preferindo resguardar o espaço entre as suas linhas para depois recuperar a bola quando ela aí entrasse. É claro que este controlo falhou pela liberdade excessiva concedida ao primeiro momento leonino para pensar (o lance do primeiro minuto é disso exemplo), mas a equipa foi ganhando progressivamente esse controlo com o passar do tempo. O destaque vai para o inicio da segunda parte, onde se notou maior concentração dos jogadores na ocupação dos espaços e definição dos momentos de pressing. Não ganhou um domínio claro do jogo, mas cometeu menos erros o que é, como se provou, fundamental. Falta falar na postura com bola. Quando a ganhava, o Benfica optava por ser objectivo e incisivo – é esse o seu perfil de jogo – e, se é verdade que muito poucas vezes conseguiu furar a barreira do Sporting (houve uma clara tentavia de recorrer aos pontapés de fora), teve sempre uma orientação importante e inteligente no jogo que foi a viragem de flanco de jogo, o que é perturbador para um pressing como o do Sporting. Foi através deste tipo de movimentações que o Benfica começou a construir as suas 2 melhores ocasiões de golo – Nuno Gomes no primeiro tempo, e Cardozo na abertura do segundo.
Falta, finalmente, destacar um aspecto fundamental na definição do jogo. A qualidade individual. Reyes e Aimar não foram continuamente fulgurantes, mas emprestaram sempre grande qualidade na interpretação individual dos lances. Foi através destes 2 jogadores que se construiu o desequilíbrio fundamental (e um grande golo) num jogo até aí sempre muito equilibrado. Não se sabe o que o mercado fará o Benfica ganhar mas, para já, rendeu um derby.

Sporting – Não posso deixar de recordar os famosos duelos com o Porto. É que se em exemplos recentes o Sporting venceu esses jogos pautados pelo equilíbrio, pela maior concentração, eficácia e menor exposição ao erro, desta vez, pode dizer-se que terá provado do mesmo veneno. De facto, sem ter feito um jogo de encher o olho, o Sporting controlou quase sempre (até ao golo) o jogo e terá tido, até, mais chegadas com perigo à área contrária, contabilizando esses 66 minutos. A derrota começa aí, no não aproveitamento ofensivo, e passa depois por algo que se começou a perceber melhor no inicio da segunda parte. Nos primeiros 5 minutos do período complementar, o Sporting permitiu um domínio raro ao Benfica, fruto de alguns lapsos de concentração que começaram, até, em algumas reposições precipitadas do próprio Rui Patrício e que possibilitaram ao Benfica sucessivas posses de bola. Esta diferença na concentração estendeu-se depois ao lance do golo, onde, claramente, há uma mau controlo da zona por parte de Rochemback e Abel, permitindo o espaço a Reyes (que, com Aimar, tem enorme mérito). O jogo, para o Sporting, perdeu-se aí, já que os efeitos do golo foram claramente nefastos para as suas aspirações, perdendo concentração e lucidez nos minutos seguintes, onde surgiu o segundo golo que sentenciou a partida e a conduziu para uma fase diferente do que se assistira antes.

Mas há que falar também, na minha opinião, em 2 aspectos abordados no final do jogo. (1) O primeiro tem a ver com a pouca contundência (para utilizar a expressão de Paulo Bento) da posse de bola do Sporting. De facto, o Sporting para a bola que teve, o Sporting criou pouco – sobretudo após algum reajuste posicional do Benfica – e creio que tal se deve à presença de apoios recuados em demasia, criando-se poucas soluções de passe para a frente. Aqui, saliência para duas ausências individuais. Primeiro Izmailov que não tem tanta propensão para oferecer apoios recuados como, neste caso, Moutinho. Depois para Liedson, que oferece muita mobilidade nas suas acções, sendo normalmente bem mais participativo na criação de linhas de passe verticais do que Djaló ou mesmo Postiga. (2) Falou-se de um jogo directo por parte do Sporting. É errado dizer-se que essa foi uma estratégia do Sporting. O que aconteceu foi a utilização de um jogo mais directo como recurso (e não como estratégia, o que é completamente diferente) para algumas situações – mais uma vez, houve falta de apoios verticais. De resto, é quase uma antítese falar em jogo directo como estratégia para uma equipa que valoriza (e valorizou) tanto a posse de bola.
Golos:

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