Foi um empate que não pode deixar ninguém particularmente satisfeito. O Benfica porque jogava em casa e porque terá esbanjado uma oportunidade para derrotar o rival que mais teme num momento em que este não se encontra ainda totalmente afinado. O Porto porque é neste momento melhor do que o Benfica – apesar de não estar ainda ao seu melhor nível – e, claro, porque as incidências do jogo lhe escancararam a oportunidade de dar, desde já, uma importante machadada num concorrente directo.
Estratégias iniciais – libertar Lucho
Foi curioso ver uma postura um tanto antagónica nas estratégias iniciais de ambos os treinadores. Se, por um lado, Quique apostou em elementos mais ofensivos – Reyes e Di Maria – que eram também garante de maior experiência comparativamente com os restantes candidatos – Urreta e Amorim –, no Porto Jesualdo reforçou defensivamente o seu meio campo, apostando paralelamente em figuras menos experientes como Rolando em vez do capitão Pedro Emanuel. Foi mais especifica a aposta de Jesualdo, desfazendo a habitual fisionomia do 4-3-3 e incluindo Tomas Costa como falso extremo que tinha como missão fechar mais defensivamente para compensar uma liberdade acrescida concedida a Lucho. Não foi por acaso. O objectivo era fazer com que Lucho tirasse partido do espaço entre linhas que o Benfica concede. A ideia era boa mas a equipa não conseguiu servir “El Comandante” nas condições pretendidas e passou por aí alguma incapacidade do Porto para ser mais perigoso antes da expulsão. Jesualdo, com lucidez, reconheceu-o no final dizendo que, ao contrário do que é habitual, não conseguiram colocar com a mesma frequência a bola nos jogadores certos, à hora certa...
1ªParte – Confronto de “Pressings”
O pressing foi a nota dominante no primeiro tempo. Era previsível conhecendo as equipas. O Benfica, adiantando linhas e incomodando a primeira fase de construção do Porto que, embora tivesse tentado manter-se tranquila em posse, acabou por não saber saltar essa barreira da melhor forma. A condução da bola para os flancos não é a melhor forma de ultrapassar o pressing do Benfica. Ao fazê-lo, em vez de tentar servir o espaço entre linhas, o Porto condicionou a sua estratégia. Do outro lado, o Porto criou mais problemas, essencialmente porque o Benfica não tem bem sistematizada a forma como sai em construção – é uma critica que faço desde a pré temporada.
Grande parte do destino do jogo foi determinado por erros. O primeiro de Katsouranis deu origem ao golo inaugural portista. O Benfica reagiu por 2 vezes seguidas de bola parada (uma, duas), em dois lances muito bem trabalhados mas que, em boa verdade, foram o melhor que os encarnados fizeram durante todo o jogo. O Porto respondeu a seguir numa insistência de Lisandro mas o cariz do jogo havia de se alterar a partir da meia hora. Contrariamente ao que lhe seria útil o Porto baixou as suas linhas e passou a incomodar menos a débil construção do Benfica que passou, aí, pelo seu melhor período, destacando-se a agressividade e vontade dos seus jogadores. A melhor oportunidade, essa, voltou a ser portista. Lisandro atirou ao poste num lance de ataque rápido que começa em Helton e que revela como o Benfica tem dificuldades em controlar a zona central do seu meio campo quando estica o jogo – repare-se na facilidade com que se cria um 2 contra 1 de Tomas Costa e Lucho sobre Yebda, libertando “El Comandante” para pensar, ler, e solicitar a diagonal de Lisandro.
2ªParte – Intensidade, erros e desgaste
Foi uma segunda parte cheia de emoção e incidentes. O jogo começou no mesmo tónico... Porto mais baixo e menos pressionante, Benfica por cima (destaque para a iniciativa de Di Maria) mas com mais vontade que saber e sem controlar realmente o seu adversário. O exemplo desta incapacidade gritante está no lance que Lisandro perdeu aos 49m – fica mais uma vez evidente a dificuldade do Benfica na sua primeira fase de construção, com Leo a ficar sem linhas de passe para a frente e a arriscar o drible. Se os erros individuais já estavam a determinar o jogo, mais ainda o fizeram em 3 minutos. Primeiro a oferta de Helton – A iniciativa de Yebda termina com um cruzamento “cego” que não vai de encontro à zona que é atacada pelos atacantes encarnados e é Helton quem, no clímax de uma exibição incompreensivelmente displicente, oferece o golo a Cardozo. Se o Benfica podia pensar em aproveitar o momento e o encolhimento portista para atacar a vitória, Katsouranis fez, de novo, questão de desfazer ilusões...
Com 11 contra 10, o jogo mudou completamente. Numa fase inicial o Benfica ainda chegou a cometer a imprudência de se manter pressionante mas depressa corrigiu esse erro que, seguramente, acabaria por lhe ser fatal. Ao baixar as suas linhas, o Benfica tirou espaços ao Porto que dominou muito, meteu muita gente na frente mas nunca foi verdadeiramente ameaçador no assalto à vitória. Nota importante é, claro, o desgaste a que se assistiu nos jogadores do Benfica. Não posso conceber que se trate de preparação deficiente (todos os jogadores, incluindo Reyes no Atlético, fizeram a pré temporada), pelo que a única justificação que encontro para o “rebentar” geral está na entrega e no ritmo demasiado elevado que os jogadores tentaram manter no jogo...
Notas finais
Benfica – A entrega e dedicação foram notáveis e os encarnados podem-se queixar da desinspiração de Katsouranis como factor condicionante na partida. O jogo colectivo, no entanto, continua a estar muito aquém do exigível, mantendo as criticas que aponto desde a pré temporada. Suazo parece-me um grande reforço (provavelmente o melhor de todos) mas, repito, antes das individualidades o Benfica tem de corrigir as suas debilidades colectivas. Se não o fizer vai afastar-se do título... e bem depressa!
Porto – Teve tudo para vencer o clássico e, estou em crer, a equipa do ano passado tê-lo-ia feito sem grandes problemas – mesmo com erros de Helton e falhanços de Lisandro. Este é um Porto com muita gente nova e, agora definitivamente, sem 3 elementos fundamentais na sua estrutura do passado recente. Jesualdo pareceu-me muito esclarecido no final, traçando um futuro em construção mas sem roturas drásticas com o passado. Veremos como vai evoluir a equipa mas não será fácil recuperar a qualidade do modelo exibida em 07/08...
Benfica – A entrega e dedicação foram notáveis e os encarnados podem-se queixar da desinspiração de Katsouranis como factor condicionante na partida. O jogo colectivo, no entanto, continua a estar muito aquém do exigível, mantendo as criticas que aponto desde a pré temporada. Suazo parece-me um grande reforço (provavelmente o melhor de todos) mas, repito, antes das individualidades o Benfica tem de corrigir as suas debilidades colectivas. Se não o fizer vai afastar-se do título... e bem depressa!
Porto – Teve tudo para vencer o clássico e, estou em crer, a equipa do ano passado tê-lo-ia feito sem grandes problemas – mesmo com erros de Helton e falhanços de Lisandro. Este é um Porto com muita gente nova e, agora definitivamente, sem 3 elementos fundamentais na sua estrutura do passado recente. Jesualdo pareceu-me muito esclarecido no final, traçando um futuro em construção mas sem roturas drásticas com o passado. Veremos como vai evoluir a equipa mas não será fácil recuperar a qualidade do modelo exibida em 07/08...