Embora o timing seja o ideal para fazer uma análise ao Arsenal 08/09, prestes a confrontar-se com o Porto na Champions, decidi aproveitar o facto de todos, melhor ou pior, termos uma ideia do que se pode esperar de uma equipa com um modelo de jogo há tantos anos implementado, para falar de algo que me parece mais peculiar e interessante neste clube.
Apenas 4 equipas estiveram permanentemente entre o top 10 do ranking da Uefa desde 2002 até hoje. Real Madrid, Barcelona, Manchester United e Arsenal. Este é um indicador de performance que revela uma capacidade invulgar de ser desportivamente competitivo e que, no caso do Arsenal, se estende à própria liga inglesa onde foi o único clube a desafiar o poderio do Manchester de Ferguson antes da chegada de Mourinho ao Chelsea, tendo, de lá para cá, sido igualmente o único a beliscar o aceso duelo entre estes 2 milionários. A particularidade que torna o Arsenal tão especial neste contexto é, claro, o parco investimento que faz comparativamente com os outros “tubarões”.
O modelo Wenger
Esta capacidade de estar permanentemente no topo com pouco investimento tem um motivo, claro, e um responsável também. Arsene Wenger e o seu modelo. A ideia é bastante simples, realmente. Primeiro, definir um modelo a implementar, com papeis e características específicas para os intérpretes. Depois, compor um gabinete de prospecção e orientar a política de recrutamento para mercados bem definidos, procurando, sempre, as características exigidas pelo modelo em questão. A ideia de jogo ajuda a que o futebol seja tão vistoso e espectacular mas esse nem é o ponto essencial da questão. O que importa constatar é que o Arsenal de Wenger consegue, com um nível de investimento mediano para a Premier League, atingir em permanência a excelência desportiva, quer dentro, quer fora de portas.
Sobre a sua fórmula de sucesso, Wenger é claro ao dizer que “qualquer um” conseguiria dar um treino seu. O segredo está no recrutamento. Realmente, é difícil pensar numa única aquisição importante que tenha falhado no Arsenal durante os 12 anos do reinado do Francês. Vejamos, por exemplo, um onze possível de Wenger:
Almunia;
Sagna, Gallas, Toure, Clichy;
Eboue, Denilson, Fabregas, Nasri;
Adebayor, Van Persie.
À excepção de Gallas, “roubado” ao Chelsea, nenhum destes era uma estrela mundial quando chegou ao clube. De resto, uns mais caros, outros menos, Almunia, Sagna, Toure, Clichy e Adebayor eram valores com pouco relevo mediático nos respectivos campeonatos. Nasri uma promessa emergente, tal como Van Persie (este último contratado a baixo preço ao Feyenoord em 2004 quando ficou de fora dos eleitos da Holanda para o Euro, aparentando ser um valor secundário do futebol holandês) e Denilson e Fabregas adquiridos enquanto jovens, também a um baixo custo.
No plantel de Wenger abundam casos idênticos a estes e, no passado, é possível ver como foram recuperados valores aparentemente perdidos como Henry, Vieira ou Bergkamp, ou feitos outros negócios de sonho como é o caso de Anelka que foi vendido por um preço 40 vezes superior à sua aquisição.
Como seria em Portugal?
A pergunta que me faço muitas vezes é: onde estaria um clube português com Wenger ao leme? (excluo aqui, para efeitos do exercício, as evidentes diferenças culturais que dificultariam a possibilidade de uma continuidade tão duradoura)
Francamente, olhando à forma como é composto o Arsenal, creio que seria possível atingir um nível de excelência bem próximo dos ‘Gunners’ num clube de uma liga secundária. Claro que as receitas nunca seriam as mesmas, não haveria a possibilidade de pagar os mesmos salários e a capacidade de retenção de jogadores não seria a mesma. Evidentemente, também, que não seria possível fazer grandes investimentos como os casos de Nasri ou Rosicky, assim como não se poderia querer ter o mesmo poder no mercado de jovens porque estes optariam sempre por ligas superiores. Seria evidentemente necessário apostar noutros mercados com preços mais em conta mas, porque o que conta mesmo aqui é a qualidade, essa nunca iria faltar e certamente que teria a capacidade de colocar o clube, em permanência, bem mais perto da elite europeia. Afinal, vistas no tempo em que foram feitas, do onze acima apresentado, apenas as contratações de Gallas, Sagna, Nasri e Fabregas seriam objectivamente utópicas para a realidade do futebol nacional...