Domingo, o Porto joga em Paços de Ferreira, talvez, a última cartada decisiva do campeonato. Proibido, apenas perder, mas o campeonato até pode muito bem ser conquistado já neste fim de semana. O “factor título” absorve todas as atenções, mas neste fim de semana voltam a juntar-se aqueles que são, para mim, 2 dos 3 mais desequilibradores criativos do campeonato (o outro é Simão): Anderson e Quaresma. Os portistas (e os que gostam de bom futebol, em boa verdade), naturalmente, exultam com esta parelha, mas qual o verdadeiro efeito da junção de 2 jogadores tão influentes no mesmo capítulo do jogo?
À primeira vista e se o futebol fosse uma mera “soma das partes”, esta seria uma questão sem qualquer sentido, mas o desporto que nos apaixona é mais complexo, sobretudo por esse aspecto dificilmente quantificável: o colectivo.
Se o talento não deixa dúvidas quanto às vantagens da utilização, em simultâneo, dos dois jogadores, vamos aos riscos. Na minha perspectiva há duas fases distintas a ter em conta: com bola e sem bola.
- No primeiro caso, sou da opinião que qualquer equipa só pode ter sucesso se souber hierarquizar o seu jogo. Ou seja, o seu modelo de jogo tem de privilegiar uma mais valia individual em detrimento de outras que aparecerão, sim, mas em alternativa. Pego no caso do Brasil em 2006, onde a falta de movimentos em que todos trabalhavam para aproveitar a característica de um desequilibrador, provocou um futebol protagonizado por grandes individualidades mas sem referências comuns, tornando-se colectivamente previsível. No outro extremo está, por exemplo, o Barcelona de Rijkaard. A equipa privilegia e respeita Ronaldinho enquanto elemento chave do seu jogo, havendo depois (mas só depois) espaço para que os outros possam aparecer. O Porto tem tido poucos jogos com Quaresma e Anderson para ter esta questão adequadamente resolvida e, em Paços de Ferreira, a arte será a grande resposta para contornar o problema.
- Sem bola, o problema está na sua recuperação. Cruyff dizia que não adianta ter grandes jogadores se não se tem a bola e a questão aqui é mesmo essa. Ao contrário do que alguns têm dito, Quaresma não defende mais. Pelo contrário, com Jesualdo a estratégia passa por dar força às transições ofensivas, libertando o extremo de tarefas defensivas para depois lhe endossar a bola no espaço, quando a recupera (no Braga era Wender quem tinha esse privilégio). Anderson, por seu lado, é um jogador batalhador e que vence vários duelos. O que Anderson não tem (pelo menos ainda) é um grande sentido posicional sem bola. Esta especificidade tira ao Porto capacidade de recuperação no miolo. Jesualdo contará, neste aspecto, com a boa organização colectiva da sua equipa e com a boa reacção ao momento da perda de bola que conseguiu sistematizar.
Este seria um bom problema com que Jesualdo gostaria de se ter deparado ao longo da época. No entanto, em 37 jogos, o treinador apenas apresentou 8 vezes Anderson e Quaresma a titular (5 vitórias, 1 empate e 2 derrotas) e não terá sido um dos aspectos de principal emfoque. Para além de Paços de Ferreira e de 06/07, fica a questão se esta será uma parelha mais alguma vez vista num relvado de futebol?