14.10.13

Selecção (I) - Erros, sistema e opções

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Erros que acontecem ou... que não podem acontecer? - Sobre o erro de Rui Patrício, estou obviamente de acordo de que é um disparate fazer a diabolização de um lapso pontual, mas parece-me igualmente uma hipocrisia que se desvalorize a sua importância na definição do resultado, ou que depois se dramatize em torno do mau resultado da Selecção, afinal em grande parte definido por esse lance. Porque, se é verdade que Portugal não fez um grande jogo sob vários aspectos, ninguém tenha a menor dúvida de que se a vitória tivesse sido conseguida, o volume das críticas seria nesta altura infinitamente inferior. Ou seja, se a carga negativa do erro de Rui Patrício não foi directamente descarregada no guarda redes, foi seguramente transferida para a avaliação colectiva, o que me parece igualmente errado.
Sobre a exibição portuguesa, de facto, ficou a dever a si própria maior inspiração no último terço e também maior controlo sobre a construção israelita, no inicio da segunda parte. De resto, porém, Portugal fez o suficiente para justificar a vitória, ao contrário do que sugerem as criticas pós-jogo. Ou, melhor, as criticas pós-erro. Conseguiu um domínio assinalável no jogo, chegando repetidamente ao último terço contrário, e conseguiu também um diferencial importante ao nível de ocasiões claras de golo, mesmo se nesse aspecto a inspiração ofensiva portuguesa foi bem menor do que seria desejável. Neste ponto, destaque para a repetida canalização do jogo para o corredor direito e para a ineficácia dos muitos cruzamentos tentados sobre esse flanco. Aqui, uma nota individual para Nani, não apenas pelos cruzamentos, mas porque parece de realmente atravessar um período menos positivo em termos de confiança, o que se reflecte ao nível da decisão. Um perda importante, porque se trata de uma das principais mais valias da equipa.
Mas, parece-me importante falar sobre os erros. É certo que, como todos dizem, "são coisas que acontecem", não se justificando à partida a sobrevalorização de situações que serão, em princípio, episódicas. O ponto aqui é que os erros na campanha da Selecção não foram apenas episódicos, e provavelmente se não fossem esses mesmos erros, Portugal estaria já com presença confirmada no próximo Mundial. É bom recordar que depois do primeiro deslize, frente à Rússia, também desvalorizávamos o erro pontual de Ruben Micael, na origem do golo russo, ou que no empate frente à Irlanda do Norte, também começamos a condicionar as nossas aspirações com um erro em posse de Miguel Veloso. Os erros individuais, acontecem de facto, mas parece-me perigoso subestimar a sua importância como vem sendo feito desde o ínicio desta campanha, e talvez por detrás daquilo que aparenta ser um mero acaso possa estar escondido algo mais. Um algo mais que nesta altura coloca Portugal numa posição bastante complicada no que respeita ao apuramento. Erros que acontecem, sem dúvida, mas principalmente... erros que não podem acontecer!

O sistema: os problemas de libertar Ronaldo no 4-3-3 - Voltarei ao tema da Selecção após o jogo com o Luxemburgo, não tanto para comentar essa partida em concreto, mas para trazer outros pontos de opinião - e, essencialmente, de apreensão - relativamente ao futuro próximo. Uma das questões que me parecem importantes e que claramente emergiu neste jogo, é a questão do sistema táctico. Já me referi à propensão portuguesa para fazer incidir os seus ataques sobre a direita, mas a assimetria no jogo de Portugal esteve também presente no capítulo defensivo, e em parte está na origem das dificuldades de controlo sobre a construção israelita, no inicio da segunda parte. Tem tudo que ver com o posicionamento de Ronaldo, que de certa forma descaracteriza aquilo que é o comportamento normal do 4-3-3. Com bola, e bem na minha opinião, Ronaldo tem grande liberdade de acção, aparecendo com enorme frequência sobre o corredor central. O problema é que não há complementaridade para este comportamento, e Portugal ficou com pouca presença no corredor esquerdo. Aqui, é importante sublinhar as implicações que podem ter tido as mudanças naquela que é a equipa habitual, já que Meireles tem normalmente um papel importante nesta dinâmica, abrindo sobre a esquerda perante a ausência de Ronaldo, o que não sucedeu com Micael. Mas é defensivamente que mais dúvidas me suscitam. A presença mais alta de Ronaldo faz com que Portugal defenda muitas vezes em 4-4-2, mas com alguma falta de equilíbrio na linha média, em particular na presença sobre o seu lado esquerdo. O resultado disso foi, num primeiro momento, a liberdade quase sempre oferecida ao lateral direito contrário e, num segundo instante, a consequente atracção dos restantes elementos da linha média para esse corredor (nomeadamente o pivot), o que implicava o desguarnecimento de outros espaços.
Todos estarão lembrados da liberdade desfrutada pelo lateral direito da Dinamarca no jogo do Euro 2012, e essa fragilidade parece subsistir no jogo defensivo português.

Opções: Danny, Adrien e William - Começo pelo único caso que me parece realmente justificar alguma apreensão nesta altura: Danny. Portugal não tem muitos jogadores como ele, e mesmo se não é evidente a forma de o potenciar na actual estrutura da Selecção, também me parece um luxo excessivo prescindir dos seus serviços, como tem acontecido. A critica poderia ir, neste sentido, inteiramente para a opção de Paulo Bento, mas o caso de Danny parece-me um pouco mais complexo do que isso. É que o próprio Danny tem uma carreira estranha na Selecção, aparecendo quase sempre lesionado quando é preciso dar o seu contributo à equipa nacional. E, se nuns casos as lesões foram graves de mais para levantar qualquer tipo de dúvida, noutros casos o tipo de lesão associado ao timing da mesma, faz pensar que talvez o problema não seja apenas a prioridade que Danny tem para a Selecção, mas também a prioridade que a Selecção tem para o próprio Danny. É pena, e como escrevi acima, julgo que é um luxo excessivo nada ser feito para conseguir um melhor aproveitamento do jogador.
Outros casos muito discutidos têm sido os médios, nomeadamente a substituição de Meireles e as ausências de Adrien e William Carvalho, em favor por exemplo de Rúben Micael. São casos distintos. No caso de Adrien, acho muito perigoso que se confundam momentos colectivos com momentos individuais. Adrien tem tido um bom rendimento, mas a meu ver fundamentalmente porque tem estado incluído numa equipa que tem sido colectivamente bem potenciada. Sobre a sua mais valia individual, que é o que o interessa ao seleccionador (e o seleccionador em causa conhecerá, como poucos, os pontos fracos e fortes de Adrien), não estou minimamente convencido de que Arien seja a melhor alternativa para a Selecção. Rúben Micael, na minha opinião, tem fragilidades que o distanciam de uma solução ideal para uma equipa que ambiciona chegar às fases terminais das grandes competições, mas parece-me também ter algumas mais valias importantes, relativamente a Adrien. Aliás, fez um jogo muito bem conseguido frente a Israel, tanto no capítulo ofensivo, como defensivo (o que não costuma acontecer, diga-se), e acabou a meu ver por justificar completamente a aposta que nele foi feita para este jogo.
Um caso diferente é o de William Carvalho. Já me referi às limitações que ainda apresenta na resposta defensiva, mas também me parece um caso claramente capaz de vir a fazer carreira na Selecção principal, justificando até já essa chamada. A grande questão no caso de William, porém, é a sua presença nos sub21. Ou seja, se não for para ser utilizado - o que nesta altura será difícil, dada a aposta em Miguel Veloso - fará mais sentido contar com o jogador nos sub 21, utilizando outra solução como alternativa a Veloso, na equipa principal. Na minha leitura, é esta a gestão que está a ser feita por parte da equipa técnica portuguesa, ainda que tal não possa obviamente ser reconhecido publicamente, por uma questão de consideração pelo jogadores que são chamados em vez de William.

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