11.10.13
5 jogadas (Benfica, Sporting, Bayern e Tottenham)
Jogada 1 - Começo pelo lance do golo do Benfica, que surge na sequência de um bom entendimento sobre o corredor esquerdo, entre Gaitan e Siqueira. O movimento de Gaitan, baixando para a linha média, é essencial porque atrai o acompanhamento do lateral, abrindo o espaço que depois Siqueira irá aproveitar. Aqui, nota também para a dificuldade de cobertura sobre a área potenciada por esta dinâmica, por parte do Estoril, em particular para a linha média, incapaz de reagir a tempo de auxiliar a zona defensiva, quer sobre o corredor lateral, quer também na zona central. Uma fragilidade que decorre da tentativa da equipa de Marco Silva em fazer um condicionamento alto do jogo, usando para isso um bloco curto e com poucas linhas. Outro pormenor interessante no lance é a decisão do jogador do Estoril em evitar o canto, mesmo quando a sua equipa não estava em condições ideais para reagir a novo cruzamento. Um instinto que acabou por ter um alto custo.
De sublinhar também o ganho de qualidade no corredor esquerdo do Benfica. Gaitan acrescenta à equipa não só qualidade na definição mas também imprevisibilidade e variedade de movimentos. Siqueira, por seu lado, acrescenta em relação a Cortez esta capacidade de se envolver em acções de combinação colectiva e não estando tão dependente do transporte individual de bola. O ex-São Paulo foi muito criticado pela sua fragilidade nos aspectos defensivos, mas pessoalmente sou da opinião de que Siqueira veio acrescentar algo sobretudo na dinâmica ofensiva.
Jogada 2 - Um sublinhado à jogada do terceiro golo do Sporting, que tem uma génese pouco comum, entre os muitos golos já conseguidos pela formação de Jardim. De notar que esta jogada acontece já no segundo tempo, onde a postura do Setúbal foi bem mais frágil do que na primeira parte, quando as dificuldades do Sporting em entrar no bloco contrário haviam sido assinaláveis. Outro ponto interessante é a forma como o envolvimento de Carrillo numa fase mais baixa do jogo acaba por precipitar a acção na primeira zona de pressão do Vitória, com o jogador a sair em contenção sobre o central do Sporting e, sem condições para ser bem sucedido, permitir que Carrillo inicie a sua progressão em posse. Um lance bem sucedido mas que, porém, não será muito aconselhável que "faça escola" nas soluções da equipa, já que a presença de Carrillo numa fase tão atrasada do jogo ofensivo acrescentaria previsivelmente uma dose indesejável de risco à construção da equipa.
Jogada 3 - De novo, o Bayern de Guardiola! A equipa fez, no fim de semana passado, um jogo estupendo em Leverkusen, que terminou com um empate a 1 golo, mas que poderia ter terminado, com bem maior probabilidade, numa goleada. Dando sequência à exibição feita em Manchester, o Bayern pareceu-me bem mais consistente do que em outras ocasiões. A inclusão de Muller no lugar de Mandzukic pode ser uma das explicações para este crescimento, com a equipa a revelar mais ordem nos movimentos dos seus três elementos ofensivos, ao invés de esconder permanentemente o 9 do jogo. Ainda assim, sobram-me ainda dúvidas se será Muller o elemento ideal para esta função de falso 9, ainda que de repente não vislumbre melhor solução no plantel actual. Talvez essa tenha sido precisamente a dificuldade de Guardiola e o porquê de ter começado por utilizar Mandzukic. Seja como for, foi um festival de futebol ofensivo, encontrando sucessivamente espaços quer nos corredores laterais, quer entrelinhas, e também com melhor segurança em posse do que em outras ocasiões. O empate só se explica por um enorme desacerto na finalização, com Muller em tarde especialmente desinspirada nesse aspecto particular. Entre todas as jogadas, talvez esta seja a mais perfeita, com construção desde o seu último reduto, ligando sucessivamente corredores, e terminando com uma finalização de baliza aberta, ainda que mal sucedida.
Jogada 4 - O outro lado do Bayern! Não que justifique o empate, tal o caudal ofensivo da equipa, mas realmente a equipa de Guardiola assume um risco assinalável no seu jogo, acabando por se expor defensivamente. No lance do golo do empate do Leverkusen, que sucede na primeira e única jogada que o jogo conheceu com 0-1 no marcador, é visível a exposição da zona defensiva do Bayern, assim que a bola ultrapassa a sua linha média. Em particular, destaque para o posicionamento dos médios, muito propensos a pressionar a primeira fase de construção do adversário, mas sendo depois incapazes de auxiliar a sua zona mais recuada. Com este adiantamento dos dois interiores, o pivot (Lahm) é facilmente atraído para o corredor lateral, havendo imediatamente uma exposição do corredor central. Mais adiante na jogada, o central é também ele atraído para o corredor lateral, acabando a equipa com muito pouca presença numérica para responder ao cruzamento. O golo não era inevitável, mas com toda esta exposição, tornou-se bastante provável.
Jogada 5 - Para terminar, o tema do posicionamento da linha defensiva. O que deve fazer perante uma situação de ameaça? Arriscar e subir para tentar o condicionamento através do fora de jogo em toda e qualquer situação? Ou, na ausência de presença pressionante sobre o portador da bola, cortar a profundidade, baixando? Pessoalmente, tenho aqui diversas vezes defendido que a opção certa é a segunda, mas este tema não é consensual e nem todas as equipas assumem esse comportamento. Um exemplo muito claro é o do Tottenham de Villas Boas, que arrisca muito na agressividade do posicionamento da sua linha defensiva, sempre tentando usar o fora de jogo, por vezes mesmo posicionando-se na mesma linha do jogador que faz contenção. Embora haja até outros lances mais evidentes para ilustrar este comportamento, parece-me que a jogada do segundo golo sofrido pode servir de exemplo. No caso, a transição do Tottenham é interrompida, o meio campo do West Ham reassume a posse de bola, ficando sem oposição sobre o portador da bola e com o lateral direito do Tottenham momentaneamente fora de posição. Uma situação de risco total, portanto, porque a defesa não tem, nem controlo sobre o tempo de passe, nem tão pouco possibilidade de interceptar a linha de passe. Ainda assim, o instinto da linha defensiva passa por continuar a subir, quase como se a equipa não tivesse acabado de perder a bola, preferindo a opção mais arriscada de tentar o fora de jogo, do que a mais segura, de imediatamente cobrir o espaço e assim condicionar a progressão do jogador que vai receber o passe (Vaz Te, na ocasião). A pergunta que resume o dilema é, no fundo, quantos foras de jogo valem um golo?