2.10.13

Porto - Atlético - Um "David" transformado em "Golias"

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O "Golias" Atlético - Parece-me importante, antes de mais, contextualizar o adversário que o Porto teve pela frente. O Atlético não tem o prestigio, nem tão pouco as figuras de pelo menos uma dezena de equipas do futebol europeu actual. Para mais, o Porto habituou-se a dar-se bem com este adversário, até quando nas suas fileiras surgiam nomes bem mais assustadores, como Aguero e Forlan. É normal, por tudo isto, que a ideia errada passe facilmente. Na minha opinião, porém, o Atlético tem de figurar entre as 5 melhores equipas mundiais da actualidade. Não pelo valor individual ao seu dispor, nem tão pouco pelo lado estético do seu jogo, mas antes porque não consigo creditar a mais equipas a capacidade de fazer os resultados que o Atlético vem fazendo, num trajectória que se iniciou com a chegada de Diego Simeone ao clube e não no inicio desta época, o que também é relevante. Sobre esta equipa, há ainda que acrescentar que não consigo encontrar um caso mais interessante de analisar para quem procura boas ideias para equipas "terrestres". Porque uma coisa é deslumbrarmo-nos com o futebol do Barça ou as ideias de Guardiola, alicerçadas numa superioridade técnica quase sempre avassaladora sobre os seus opositores. Outra, bem diferente, é perceber como é que uma equipa consegue manter-se "na roda" de Barça e Real sem ter, nem de perto, os recursos técnicos dos dois gigantes, nem tão pouco precisando de fazer da posse de bola um recurso constante para ter sucesso.
Entre os "David e Golias" da primeira linha do futebol mundial, diria que o Atlético é um "David" tão competente, que se transformou num "Golias".

Relativizar, também, a exibição do Porto - Do mesmo modo que me parece importante relativizar o grau de dificuldade imposto pelo seu adversário, parece-me também necessário não exagerar nos elogios que são feitos à exibição do Porto. É verdade que a equipa fez um jogo de enorme entrega e intensidade, conseguindo um domínio inicial alicerçado numa fortíssima reacção à perda. É igualmente verdade que voltou a assumir as rédeas do jogo assim que foi devolvida a igualdade ao marcador, e que só terminou batida pelos pormenores das bolas paradas. O problema do uso destas constatações como fundamento para grandes elogios ao jogo do Porto é que não faz propriamente parte da estratégia do Atlético ter uma grande presença em posse. O Atlético tem, antes sim, como prioridade fundamental o controlo dos espaços essenciais, o que foi sempre conseguido pela equipa de Simeone, também ela apenas batida num lance de bola parada, e tendo conseguido chamar a si o domínio territorial no período em que dele precisou. Ou seja, o Porto pode ter tido mais ascendente territorial na totalidade do jogo, mas isso só poderia ser encarado como um grande triunfo da equipa caso interferisse com a estratégia do seu adversário, o que não foi o caso.

Alguns apontamentos tácticos - Do ponto de vista táctico, parece-me mais interessante ver o jogo pelo lado do Atlético, até porque no Porto as alterações ao longo do jogo foram menores. Assim, o principal destaque tem a ver com a alteração da estrutura defensiva do Atlético, que começou a defender com 2 unidades mais adiantadas, na frente de uma linha de 4 elementos, passando depois a usar apenas 1 unidade mais adiantada, e 5 nas suas costas. Os princípios defensivos do Atlético são sempre os mesmos (sublinhando, sem entrar em pormenores, o notável ajustamento posicional da sua linha média), mas a elevada presença portista na circulação ajudou a neutralizar o efeito da primeira linha de pressão, o que permitia à construção portista chegar com algum conforto até à linha média do Atlético, composta "apenas" por 4 unidades. É verdade que o Porto pouco fez a partir desta fase do jogo, já que o Atlético foi sempre muito pouco permeável no último terço, mas as dificuldades tornaram-se bem maiores quando Simeone fez baixar 1 unidade para a sua linha média. E, aí sim, o Atlético tornou-se praticamente invulnerável.
É igualmente interessante olhar os indicadores estatísticos do jogo, em particular dois pontos. Primeiro, a invulgar frequência de intervenção defensiva do Porto, o que vai de encontro à ideia de um jogo de elevada intensidade e entrega, mas também ao número elevadíssimo de duelos que o Atlético forçou. Depois, o enorme diferencial no desempenho técnico das unidades individuais da equipa portista, com os centrais e os médios defensivos a terem uma elevada % de certeza em posse, contrastando com as enormes dficuldades sentidas pelos elementos mais ofensivos neste mesmo aspecto, com destaque para os alas. Ou seja, o Porto jogou mais, mas jogou sobretudo onde o Atlético permitiu.

Notas individuais - Dentro do que foi descrito, relativamente ao perfil do jogo, não é difícil adivinhar as unidades que mais e menos conseguiram sobressair. Entre os jogadores mais defensivos, Fernando será o que mais destaque justifica, embora Otamendi e Alex Sandro e Defour também tenham estado em bom nível. Mais à frente, quase todos tiveram grandes dificuldades em jogar. Lucho um pouco melhor do que os alas, mas mesmo ele não conseguiu a sua habitual influência, muito porque para o Atlético o espaço entrelinhas praticamente não existe. Josué terá sido aquele que mais dificuldades sentiu no desempenho técnico, mas foi também figura presente nas duas ocasiões que o Porto construiu, assistindo Jackson no golo, e interceptando a bola que na sequência dá a oportunidade a Varela. De novo, um sublinhado para a fragilidade dos alas do Porto. O maior destaque, porém, será Jackson, que foi novamente o grande protagonista ofensivo da equipa, mesmo num jogo onde isso era muito difícil de conseguir. Finalmente, nota para Hélton que viu uma boa exibição manchada por um erro decisivo, algo que é raro no guarda redes do Porto, mas que se torna estranhamente frequente quando nos circunscrevemos aos jogos europeus. Mistérios, portanto.

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