A perda precoce de Herrera não só trouxe uma nova e inesperada realidade ao jogo, naturalmente desfavorável para as aspirações portistas, como acrescentou também um desafio à equipa de Paulo Fonseca. Como jogar em inferioridade numérica?
Confesso que a opção do treinador me surpreendeu. Esperaria que recuasse Lucho para o lado de Fernando e que se organizasse em 4-4-1, perdendo naturalmente presença pressionante sobre a primeira fase de construção do Zenit, mas mantendo a protecção dos espaços essenciais. Com bola, por outro lado, talvez fosse de esperar que o Porto se mantivesse fiel ao seu ponto forte, mantendo o foco na posse e circulação, mesmo que isso implicasse, obviamente, perda de presença numa fase mais adiantada do jogo ofensivo.
Pois bem, pelo menos a mim, Paulo Fonseca conseguiu surpreender. Pode dizer-se que foi arrojado, porque com menos um passou, paradoxalmente, a ter mais unidades numa primeira linha ofensiva, juntando Licá a Jackson, para tal abdicando da presença nos corredores laterais. Sem dúvida, que o foi! A questão que coloco, porém, tem a ver com a dúvida se esta foi, ou não, a melhor opção para o contexto do jogo? Aqui ficam alguns pontos de opinião sobre o que se viu (sublinho que não há da minha parte uma pretensão de enfatizar a critica, muito menos de estabelecer uma relação causal entre a estratégia de Fonseca e o resultado final, apenas pretendo levantar algumas questões que me parecem pertinentes):
- Defensivamente, o arrojo de manter presença pressionante sobre a construção do adversário teve alguns efeitos secundários menos desejáveis. Primeiro, e mais óbvio, a perda de presença nos corredores laterais. A partir do momento que o Zenit passou a circular à largura, a pressão do Porto deixou de ter resultados, acabando por não evitar o domínio territorial russo. Aqui, nota para a exposição dos laterais portistas, frequentemente atraídos para fora da sua zona.
- Outro efeito secundário foi o desgaste que esta opção provocou nos jogadores, particularmente Jackson, Licá e Lucho, obrigados a percorrer muitos metros em cada acção defensiva. É certo que estes jogadores fizeram um jogo admirável em termos de entrega, mas não terá sido uma estratégia demasiado exigente para aplicar em 85 minutos de jogo?
- Ainda relativamente à opção defensiva, o facto dos avançados serem obrigados a abrir nos corredores para compensar a ausência de extremos, determinou também a perda de uma referência central para o momento de transição. Isto poderá ter contribuído para a dificuldade que o Porto sentiu em ficar com bola após a recuperação, não encontrando uma referência imediata para o primeiro passe vertical.
- Com bola, a opção de solicitar directamente Jackson conseguiu obter grande eficácia num primeiro momento, já que o colombiano ganhou a generalidade das primeiras bolas. O problema foi a ligação entre a primeira e segunda bola. A intenção era ter Licá (e depois Varela) a aparecer nas suas costas, mas o facto é que apesar da presença dominadora de Jackson num primeiro momento, quase nunca o Porto conseguiu ficar com a segunda bola.
- Para além da opção da construção longa, parece-me questionável a centralização de Licá e Josué. O Zenit tinha como extremos Arshavin e Danny, que têm uma propensão defensiva muito reduzida, o que seria previsivelmente um foco estratégico a aproveitar pelo Porto quando tivesse a bola. Ao retirar presença dos corredores laterais, a equipa abdicou dessa oportunidade.