28.10.13

Porto - Sporting: O equilíbrio desfez-se pela qualidade

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Equilíbrio desfeito pela qualidade - Se por um momento nos abstrairmos dos golos e olharmos apenas à generalidade dos restantes indicadores - ocasiões de golo, posse de bola, finalizações - não podemos concluir outra coisa que não seja o equilíbrio entre as duas equipas. É claro que este exercício parte de um pressuposto que lhe retira boa parte da pertinência, sendo o golo não apenas o mais relevante dos indicadores, mas também o único que efectivamente condiciona a postura das equipas ao longo do jogo. E aqui entramos na relativização do equilíbrio, já que olhando para a perspectiva portista o jogo foi quase sempre disputado em vantagem no marcador, sendo que quando isso não aconteceu o Porto foi extremamente célere em causar dano na defensiva contrária.
Tudo considerado, creio que este foi um jogo de facto equilibrado, que inclusivamente não causaria grande surpresa se tivesse terminado com outro desfecho, mas onde também transpareceu a maior força (qualidade) do futebol do Porto. E refiro-me concretamente ao maior potencial oferecido pela qualidade individual dos seus jogadores.

Pressing, a estratégia previsível - Não houve surpresas em termos de abordagem estratégica. Ambos os treinadores apostaram forte no condicionamento pressionante, sobre a fase de construção adversária, com abordagens defensivas que são praticamente gémeas e com bons resultados em qualquer dos casos. A partida definiu-se, portanto, nas excepções à regra de um jogo repetidamente pouco ligado, com muitos duelos e com ambas equipas a recorrerem bastante a uma construção longa por força do condicionalismo pressionante a que foram sujeitas. Mas vamos às excepções a esta regra...
De facto foi quando as equipas conseguiram ligar mais o jogo que conseguiram os seus melhores períodos, sendo que o Porto ganhou grande vantagem neste particular porque o conseguiu fazer logo na fase inicial do jogo, ao passo que o Sporting tardou quase uma hora para se libertar de uma incapacidade gritante de promover circulação com alguma qualidade. E é aqui que provavelmente mais terá pesado a mais valia individual portista.

Individualidades - Voltarei a alguns aspectos mais concretos do jogo, nos próximos dias, mas para já ficam alguns comentários a prestações individuais que, como referi, me parecem ter sido importantes no desequilibrar da balança.

Hélton vs Patrício - Serão muito provavelmente os dois melhores guarda redes do campeonato. Hélton levou a melhor e foi mesmo decisivo no jogo com a defesa ao cabeceamento de Montero. O brasileiro foi também mais competente nas reposições longas, onde o Porto conseguiu muito melhor ligação do que o Sporting. Seja como for, a diferença entre os dois resulta sobretudo do mérito do guarda redes do Porto, porque se Patrício não fez a diferença, também é verdade que tinha muito poucas possibilidades para o conseguir.

Otamendi e Mangala - São dois bons centrais, mas há pontos a rever, porque ambos vêm repetindo erros sem que haja grandes motivos para tal. Sobre o Otamendi, a sua capacidade de intervenção é tremenda e praticamente anulou Montero tendo sido absolutamente dominador nos duelos que travou. O problema de Otamendi é o critério, que por vezes fica completamente desprovido de lucidez. Depois de ter oferecido um golo que Hulk não converteu, a meio da semana, repetiu uma série de perdas de risco frente ao Sporting, sem que houvesse justificação para tal. Parece um pormenor, mas a meu ver é o critério que faz Otamendi oscilar entre a excelência e a mediocridade.
Sobre Mangala, é bem mais vistoso do que o argentino, provavelmente devido à sua capacidade física, mas não é nem de perto tão dominador como o argentino. A meu ver há, aliás, algum exagero em relação à sua real qualidade. De todo o modo, sendo ainda jovem e tendo as características que tem, pode ainda evoluir bastante e isso passará também por uma maior segurança na abordagem a certos lances.

Maurício e Rojo - Nenhum dos dois tem, a meu ver, a qualidade da dupla que estava do outro lado. Ainda assim, e apesar de terem tido um jogo difícil (especialmente para Maurício, quer por ter estado mais perto do lado mais fustigado pelo ataque portista, quer pela qualidade de Jackson com quem travou um grande número de duelos), creio que terão tido um bom desempenho contextualizando com a exigência do jogo. Em particular, não comprometeram a equipa perante o pressing que o Porto sempre exerceu. Já se sabe que na hora das derrotas sobra quase sempre muito para os centrais, e Maurício justificará as criticas no lance do penálti, mas não foi nos centrais que a meu ver se cavou a diferença no jogo.

Alas do Porto - O problema da época foi a solução do jogo. Desta vez foi mesmo pelas alas que o Porto desequilibrou e há alguns pontos que justificam reflexão. Primeiro Varela, porque continuo a não perceber como é que pode perder a titularidade para Licá. Depois para os laterais, que são do melhor que o Porto tem e por onde provavelmente Paulo Fonseca poderá resolver alguns dos problemas de profundidade que a equipa sente nos corredores laterais. Aqui, porém, seria preciso considerar bem as características dos jogadores que tem ao seu dispor, já que Alex Sandro e sobretudo  Danilo têm uma forte propensão para vir para dentro em vez de se manterem abertos ao longo da linha. Sendo honesto, parece-me ser um tema demasiado complexo para que se esperem verdadeiras novidades a esse respeito...

Médios do Sporting - A opinião generalizada em torno do Sporting vive uma série de paradoxos. Um deles está na ideia de que 1) o Sporting não pode ser candidato ao título mas que 2) metade da equipa do Sporting justificaria um lugar na Selecção. É que se os jogadores do Sporting fossem realmente todos tão bons ao ponto de merecerem um lugar na Selecção, então seguramente que o Sporting seria não apenas candidato ao título, mas um forte candidato ao título. A meu ver, porém, essa é uma visão demasiado optimista sobre os actuais valores da equipa, especialmente os médios. E aqui, separo os casos, porque me parecem bem distintos. Primeiro William Carvalho, porque apesar de não ter uma grande capacidade de intervenção defensiva, tem de facto uma fantástica capacidade para ter bola. A esse nível, fez um jogo a meu ver um jogo excepcional no Dragão, num contexto complicado e que mostra com grande clarividência de que se trata de um valor absolutamente seguro da equipa e... da selecção portuguesa. O problema vem a seguir, porque se o Sporting mantivesse na frente de William a mesma consistência e capacidade para ter bola, muito provavelmente teria saído do Dragão com outro resultado. O Sporting nunca conseguiu fazer a sua habitual construção ao longo dos corredores laterais e foi empurrado para dentro pelo pressing portista. Aí, quando Martins e, sobretudo, Adrien foram consequentes, a equipa levou o jogo até à área adversária, mas isso aconteceu de forma apenas descontinuada, com os dois médios do Sporting a revelarem grande dificuldade em ser eficazes ao nível da posse. Este foi, para mim, o principal problema do Sporting no jogo e, provavelmente, o calcanhar de Aquiles da equipa.

Lucho - O jogo não lhe proporcionou a habitual influência entrelinhas, com a equipa a ser forçada a construir de forma mais directa e menos ligada. Mas, ao contrário do perfil que várias vezes lhe vejo atribuído, Lucho não é um jogador que esteja dependente de ter bola para exercer a sua influência no jogo. A sua capacidade de trabalho é tremenda e parece-me ter sido decisiva para fazer a diferença num jogo tão disputado como este. Pressionando na primeira linha, mas tendo depois a capacidade para se juntar a Fernando e Herrera quando o jogo entrava numa zona mais atrasada, e oferecendo-se assim como uma presença extra na zona da bola. Com bola, igualmente sem a ansiedade para se envolver no jogo, porque se os médios de construção são Fernando e Herrera, cabe ao argentino esperar e trabalhar para poder aparecer noutras zonas. Assim o fez, e quando a oportunidade surgiu lá estava ele com o seu notável timing de aproveitamento dos espaços...

Jackson vs Montero - Um duelo muito mediatizado, mas que acabou por redundar em poucas oportunidades para qualquer dos dois ser decisivo. Montero foi quem esteve mais perto de o conseguir, mas desta vez não repetiu a eficiência que vinha revelando. Aliás, como já escrevi, dificilmente a manterá num patamar tão elevado com o decorrer do tempo. De resto, comparativamente com Jackson, Montero teve muito mais dificuldades em aparecer no jogo, em particular em ser uma referência eficaz para a construção mais longa. Já Jackson, mesmo sem o protagonismo habitual, não só participou na construção do terceiro golo como foi impressionante nos duelos aéreos que travou ao longo do jogo com Maurício (habitualmente muito forte neste particular). Aliás, esta capacidade de Jackson faz dele uma arma tremenda e que pode ser melhor aproveitada pela equipa, uma vez que tal como havia sucedido frente ao Zenit, a equipa tirou muito pouco partido das primeiras bolas que Jackson sucessivamente ganhou. De resto, este perfil transversalmente competente de Jackson faz-me pensar que poderia ter um impacto importante em praticamente qualquer equipa do mundo.

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