13.1.09

Lucho, Vukcevic e Rochemback

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Lucho, o regresso do ilusionismo de espaços
Não tem sido uma época ao melhor nível, refém da sua própria desispiração mas sobretudo da alteração dos espaços que lhe são destinados pela táctica portista. Já várias vezes o abordei aqui e o próprio Jesualdo o reconheceu recentemente. O treinador, aliás, parece agora consciente da importância de reabilitar o melhor Lucho, tem-lhe devolvido a liberdade e ele tem reaparecido progressivamente.

Neste lance surge um lance tipico de Lucho, Lisandro e do Porto 07/08. Como se fosse um ilusionista, Lucho utiliza um foco de distração, a bola. Quando todos estão a olhar para ela, ele faz o seu truque, tão simples como brilhante. Três passos em frente, uma linha de passe, leitura perfeita da situação, um toque e Lisandro (que também lê muito bem a jogada) na cara do guarda redes.

Do ponto de vista do Trofense, há obviamente uma abordagem errada ao lance. A distância entre o lateral esquerdo e o central é muito grande, permitindo uma abertura onde Lucho podia ter entrado. Por se aperceber dessa hipótese é que o lateral não sobe com o resto da defesa, controlando o espaço onde Lucho poderia entrar, mas colocando também Lisandro em jogo. O destaque, esse, vai todo para Tiago Pinto. Médio esquerdo mas nunca perde a concentração defensiva no lance, acreditando sempre na sua utilidade, mesmo com a jogada aparentemente fora do seu raio de acção. Um pequeno milagre!

Vukcevic, como se faz um extremo goleador
Todo o enfoque da jogada foi obviamente para o trabalho de Liedson, que cria um golo fácil, demasiado fácil, para Vukcevic. Eu marcaria aquele golo e, seguramente, qualquer um o faria também. Tecnicamente, isto é, porque algo me diz que poucos seriam os extremos do nosso futebol que o fariam. Não porque não fossem capazes de encostar a bola, mas porque, simplesmente, nunca lá apareceriam.

É a característica do extremo “à antiga”, tão apreciado no futebol português, mas, arrisco eu, cada vez mais isso mesmo, uma “antiguidade” sem grande utilidade num jogo que hoje é bem mais exigente. O seu papel é driblar, cruzar, assistir e o seu habitat são os terrenos laterais, preferencialmente exteriores à própria área. Os seus golos são, por isso, normalmente belos mas sobretudo raros.

Vukcevic, como Rodriguez por exemplo, tem outro instinto que o faz acreditar que poderá ser útil na zona de finalização e, por isso, faz mais golos do que é habitual num jogador que joga por fora. Quando parte, desde a linha lateral, em direcção à área, Vukcevic não sabe o que Liedson vai fazer, nem para onde vai a bola. É um pouco o mesmo principio que levou Tiago Pinto a salvar o golo na jogada anterior. Concentração e a noção de que se pode ter utilidade na jogada, mesmo quando tal parece improvável.

Rochemback, é cultura táctica não velocidade
Um exemplo está nesta transição ofensiva protagonizada em velocidade pelo Marítimo e que chega a ter boas condições de sucesso, sendo no entanto anulada pela cultura posicional de Rochemback. Primeiro, dobra Grimi, tapando o corredor esquerdo. A jogada ganha nova dificuldade quando Polga é ultrapassado por Marcinho no corredor central, criando-se um 3 para 3 momentâneo. Rochemback percebe rapidamente a importância de fechar a zona central, deixada livre por Polga e, com isso, força a jogada a rumar para o flanco contrário onde Djalma poderia arriscar um 1 x 1. Rochemback prossegue a sua acção e cria vantagem numérica sobre o angolano, sendo ele próprio a neutralizar uma jogada que tinha tudo para ser muito mais perigosa.

Já o disse, 6 não é a posição em que mais gosto de ver Rochemback, sobretudo porque lhe retira grande parte do potencial que tem para cruzamentos e remates. No entanto, e ainda que tenha momentos de alguma displicência em certos jogos, é um jogador que vai muito para além da capacidade técnica que inegavelmente possui. Depois de tudo o que já se ouviu, chegamos agora ao absurdo (perdoem-me a rudeza, mas é o que é) de ouvir que o Sporting tem uma lacuna na posição (6) em que, provavelmente, está melhor servido. Tudo isto, alegadamente, por causa da velocidade. Aliás, o que é difícil é encontrar um bom pivot defensivo que seja rápido...

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