2.1.09

A lucidez de Jesualdo

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(Sobre Lucho)
No ano passado o Lucho jogava por trás de uma linha de três avançados e, a dada altura da época, em Novembro, passou a ser um jogador de entrelinha, entre o meio-campo e o ataque (...) Ora, este ano, o Lucho nunca teve uma equipa estável e essa intranquilidade da equipa transmitiu-se a ele, sendo acentuada depois pela necessidade de uma reorganização táctica. E ele passou a jogar mais como médio interior, com um futebol muito vertical, mais parecido com o que tinha feito no meu primeiro ano de FC Porto
(Sobre Lisandro)
Aquilo que espero dele neste momento não é o mesmo que lhe pedi no primeiro ano, em que jogava encostado à ala. Neste momento, com tudo o que aprendeu na última época, ele conhece todas as acções ofensivas naqueles 68 metros de largura por 50 de profundidade que tem o ataque. E é útil em cada um desses metros.
(Sobre Hulk)
Era uma perfeita idiotice pedir ao Hulk para não correr com a bola, para não chutar, para não enfrentar os adversários, para não correr 30 metros com a bola. Seria uma perfeita idiotice pedir-lhe isso, mas também seria uma idiotice não o integrar nos nossos métodos.(...) Está muito longe de ser um jogador definitivo e nem sequer é muito fácil prever o que vai ser. Agora, tem todas as condições para se tornar num fenómeno, num verdadeiro fora-de-série.(...) Mas ainda não é um jogador capaz de liderar uma equipa como o FC Porto. E isto não é menosprezá-lo, é defini-lo como aquilo que é de forma clara.
(Sobre C.Rodriguez)
Acho que tem um potencial enorme, que transmite uma agressividade e uma profundidade ao jogo muito grande, não é um organizador, nem um jogador de passe. É um jogador à procura de identidade que deixa a equipa ainda um pouco na expectativa sobre qual a melhor forma de explorar as suas qualidades.
(Sobre a equipa)
Acredito que esta equipa ainda está à procura de uma identidade.(...) É uma equipa que perdeu alguma profundidade ao nível do jogo exterior, perdeu também alguma capacidade para gerir o jogo em relação ao ano anterior, mas em compensação é uma equipa com muito mais potência do que a anterior. É uma equipa que não defende tão bem como a anterior, e não me estou a referir apenas à defesa, mas a toda a equipa. Mas esta equipa não está a defender tão bem como a outra por questões que têm a ver com a adaptação de alguns jogadores e com o enquandramento dos equilíbrios defensivos, que ainda não estão perfeitamente alcançados. É uma equipa que, pela sua potência e capacidade de aceleração do jogo, quando conseguirmos que ela toda o faça em uníssono, acredito que será tão ou mais eficaz do que a equipa do ano passado.
Jesualdo, in Ojogo


Não é um treinador popular. O futebol tem destas coisas e se os adeptos já são normalmente crueis para qualquer que seja o técnico em causa, em certos casos uma má reputação pode mesmo resistir às mais evidentes provas de competência. É isso que se passa, um pouco, com Jesualdo. O seu trajecto no clube é, na minha opinião, excelente, e não só pelos títulos, mas ainda assim é quase sempre o primeiro alvo da critica quando as coisas não correm da melhor maneira. Perceber a competência do seu trabalho não é difícil para quem atente às evoluções que introduziu após a sua chegada (há quem tenha defendido a absurda tese de ter vivido do trabalho de Adriaanse, quando houve uma quebra clara com as ideologias de jogo do holandês).
A meio de uma época bem mais difícil e desafiante do que as anteriores, Jesualdo deu uma entrevista em que fala da equipa e de algumas das suas individualidades. Como qualquer líder, um treinador tem de ser capaz de ver para além do óbvio, perceber o bom e o mau do que é feito, independentemente das emoções provocadas pelos resultados. Não é surpresa, mas Jesualdo revela-se lúcido mesmo num momento crescente da equipa em termos de resultados.
Como aqui defendi, nem a “crise” era tão preocupante como foi pintada, nem, agora, o momento da equipa justifica uma expectativa de rendimento ao nível dos anos anteriores. Jesualdo sublinha bem essas lacunas em relação ao passado. Têm a ver não só com diferenças individuais mas também com os ajustamentos recentemente feitos no colectivo. Outro aspecto curioso é forma como se refere a alguns dos seus mais influentes jogadores. A confirmação de que a quebra de Lucho resulta muito de uma perda de liberdade ofensiva e da evolução táctica – não apenas goleadora – de Lisandro no último ano. Em relação aos novos, um grande pragmatismo sobre Hulk e Rodriguez, jogadores diferentes mas de quem se espera muito mais em termos potenciais do que em relação ao rendimento presente. Um aspecto ainda curioso nestes jogadores, é o facto de Jesualdo revelar incerteza em relação a qual sua evolução.
Sobre tudo isto, e para além de destacar a tal sobriedade muito importante num líder, volto a vincar o ponto que tenho defendido nos últimos jogos. Tal como reconhece Jesualdo, o rendimento de Lucho baixou também por motivos tácticos. Se é verdade que a equipa não procura ter em Hulk e Rodriguez líderes para o seu jogo, também me parece ser um facto que a forma como estão a ser enquadrados retira muito do efeito que Lisandro e Lucho conseguiam dar ao colectivo (ofensiva e defensivamente). Com esta entrevista fica no entanto claro que Jesualdo mantém grande lucidez sobre o caminho que está dar à equipa.

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