Katsouranis e o corredor central
Tem-se falado muito da importância de Katsouranis na equipa do Benfica. Muitas vezes esta valorização da presença do grego é fundamentada com o argumento de que, entre todas as soluções possíveis, é ele quem melhor coordena a posse de bola. Sem discordar da sua importância nesse aspecto, eu vejo na sua cultura posicional e leitura dos espaços a virtude que realmente faz a diferença. Do ponto de vista defensivo isso é claro, sendo Katsouranis a grande atenuante para as lacunas tácticas da linha média do modelo de Quique Flores. Mas Katsouranis vai mais longe e extende as potencialidades da sua inteligência a toda profundidade do campo. Contra o Belenenses isso foi claro e decisivo.
Não é novidade a veia goleadora de Katsouranis. Jogando numa posição diferente, num modelo diferente, foi um assíduo goleador na sua época de estreia. Agora, mesmo que mais limitado tacticamente, continua a deixar claro que tal não acontece por acaso. Volto ao mesmo. Não é uma questão de velocidade ou mesmo de uma capacidade de execução de excelência. Tem tudo a ver com cultura táctica, leitura dos espaços e antecipação dos momentos.
Não há organização que resista
É preciso que a estatística o confirme para que a generalidade das pessoas se apercebam da qualidade organizacional do Sporting. É de facto um mérito que parte de Paulo Bento e que vem sendo imune a mudanças nos intérpretes da zona mais recuada do Sporting. Neste caso, como para quase tudo, há limites.
Frente ao Paços de Ferreira o Sporting sofreu finalmente um golo, mas tal não se deveu a qualquer tipo de lacuna organizacional. Foi, antes sim, o resultado de uma série de interpretações individuais absolutamente erradas para as circunstâncias de quem joga tão perto da sua própria baliza. Foi o caso, particularmente dos laterais utilizados. Pedro Silva, apesar da vontade e disponibilidade ofensiva, cometeu imprudências proibitivas para quem joga na sua posição. Já Ronny aliou algum desnorte táctico a uma recorrente apetência para o erro e para a má decisão. Vistos individualmente, cada um destes lapsos podem parecer apenas um pormenor nas respectivas exibições. Para quem tem a responsabilidade de jogar tão próximo da sua baliza, no entanto, estes são "pormaiores" bem relevantes para quem ser eficaz defensivamente.
Uma nota para o lance do golo. Ronny errou, evidentemente. Mas a situação é potenciada por Ricardo Batista que opta por recolocar rapidamente a bola em jogo, mas fê-lo sem verificar a distribuição posicional do Paços. Ao lançar Ronny, Batista permitiu que o Paços nem sequer tivesse de recuar posicionalmente, podendo iniciar, logo ali, a sua pressão.