Vem a análise a propósito de um aspecto que este ano marca de forma inversa os trajectos de Benfica e Sporting no campeonato e que é para os estudiosos do desporto um mistério que permanece por explicar de forma objectiva, apesar de toda a evolução tecnológica e cientifica a que assistimos: o factor casa.
Por vezes assiste-se à tentativa de desmistificação deste aspecto por parte de treinadores, recorrendo à frieza do argumento de que se trata, em qualquer dos casos, de um jogo com condições idênticas para as duas equipas, sendo por isso indiferente jogar em casa ou fora. A verdade é que este tipo de argumentação (normalmente associada a uma tentativa de motivação das tropas) esbarra na estatística que revela de forma bem clara a tendência para uma maior probabilidade de vitória da equipa que joga em casa. Mas, afinal, a que se deve essa vantagem, tão misteriosa quanto factual?
Rapidamente qualquer um de nós é capaz de elencar uma série de factores que possam ajudar a explicar os números: apoio do público, habituação às condições/dimensões do terreno ou ausência de desgaste de deslocações são as razões que surgem intuitivamente. O que não há é uma quantificação do peso de cada um destes factores, ou, sequer, a certeza de que qualquer um deles se constitui de facto como uma vantagem para quem joga no seu terreno.
A arbitragem
Um estudo curioso conclui que um árbitro que pode ouvir as reacções do público tem tendência a assinalar mais faltas a favor da equipa da casa. Aceitando a conclusão, é ainda assim exagerado explicar tanta discrepância de resultados pela influência que o público possa ter nos critérios de arbitragem, sendo ainda possível contra argumentar com o facto de em vários campeonatos – como o nosso – haver equipas que usufruem de uma maioria de adeptos nas bancadas em quase todas as suas deslocações.
A distância
Outra teoria é de que a vantagem caseira (e partindo do princípio de que as condições são de facto iguais em todo o lado) é tanto maior quanto o desgaste provocado pela deslocação. Ou seja, quanto mais desgastante for uma viagem (e não havendo tempo para recuperação), maiores serão as dificuldades para quem se deslocou. Esta teoria está sustentada em alguns dados que indicam que equipas de localizações mais longínquas têm tendência para ter um factor casa mais acentuado.
A evolução em Portugal
No caso do campeonato Português, há uma evidente perda de importância do factor casa nos últimos anos, verificando-se a tendência de quebra desde o inicio da década de 90. Talvez este dado associado à melhoria das vias rodoviárias nas últimas décadas possa ir de encontro à teoria das distâncias, não que elas tenham reduzido, mas provocarão agora menor desgaste.
Fica a nota: 07/08, e apesar do contributo do Benfica, tem sido um ano em que o factor casa tem tido uma importância grande, como já não tinha desde a temporada 99/00.