27.3.08

Selecção: reflexões do pós Grécia

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A Scolari faltarão definir dois aspectos para o Euro. Infelizmente, o jogo com a Grécia terá apenas servido para retirar algumas dúvidas em relação ao menos importante desses aspectos: a definição das alternativas individuais que acabarão por determinar os 23 nomes finais. No que respeita ao (incomparavelmente) mais relevante problema da definição de um modelo de jogo, tudo fica por definir, previsivelmente apenas no estágio final.

Alternativas para definir os 23
Mas vamos por partes, primeiro as individualidades: Scolari já demonstrou não ser um detector de talentos excepcional e, por isso, tem necessidade de “sentir” as possibilidades, dando-lhes tempo de utilização. Daí, no meu entender, a titularidade a Makukula frente à Itália e, agora, o mesmo prémio dado a Veloso, Meira e, sobretudo, Carlos Martins.

Paulo Ferreira – é uma opção que apenas deverá entrar nas contas pela titularidade à esquerda e parece-me ser dos “adaptados” quem melhor faz essa função.

Caneira – É mais um polivalente dentro das opções de Scolari. O facto de fazer qualquer função da defesa deve, na minha opinião, fazer dele um recurso que permite importante para emergências defensivas durante a prova. Tal como Paulo Ferreira, a sua única possibilidade de titularidade é à esquerda.

Fernando Meira – Se havia dúvidas sobre a sua exclusão das contas para a zona central da defesa, o jogo com a Grécia ajudou a dissipá-las. A função do “pivot” defensivo do meio campo está por entregar e Meira pode ser a solução ideal caso o modelo de jogo opte por ter a “6” um jogador mais próximo dos centrais (um pouco à moda do que era Costinha). Meira é, aliás, um médio de formação mas, repito, o seu enquadramento apenas me parece ser útil no caso de uma função estritamente posicional e que permita, por exemplo, fazer do lateral direito um jogador de vocação ofensiva.

Veloso – A “fazer” de Maniche – tal como contra a Finlândia, revelou que se há coisa que não falta no seu futebol é qualidade. Para mim, Maniche é ainda hoje a solução ideal para médio de transição, mas Veloso parece-me ser um recurso muito útil para Scolari.

Moutinho – Já o havia referido e a prestação frente à Grécia confirmou-o. É no momento a melhor alternativa a Deco. Mais, pode ainda fazer qualquer das outras funções do meio campo. Para mim, um desperdício se não estiver entre os 23.

Carlos Martins – As incidências do jogo não lhe foram favoráveis e acabou por passar a maior parte do jogo “amarrado” a uma das alas. Martins não tem as mesmas qualidades defensivas de Moutinho ou Deco e a sua convocação pode apenas ter como objectivo, fazer recurso às suas capacidades desequilibradoras em alturas muito específicas dos jogos.

Raúl Meireles – Não teve muito tempo e entrou numa fase difícil do jogo. Ainda assim, a convocatória de Meireles pode não fazer muito sentido caso se confirmem Maniche, Moutinho e Veloso entre os eleitos.

Jorge Ribeiro – Ainda estou por perceber quais as intenções de Scolari para Jorge Ribeiro, se estas não passam por uma possibilidade para a lateral esquerda. Actuou pouco tempo, mas como médio onde penso não existir espaço para ele. Estranho não ser testada a única solução “de raiz” para a lateral esquerda...

Modelo de jogo
Portugal nunca teve com Scolari um modelo de jogo muito trabalhado. O que existiu sempre foi um sistema (4-3-3) que recorria ao entrosamento e complementaridade das 3 unidades centrais do miolo, fazendo depois recurso das mais valias individuais existentes. Não se pode dizer que seja grande coisa, mas na realidade do futebol ao nível de Selecções é raro ver-se muito e melhor, dada a escassez de tempo existente para operacionalizar muitas rotinas. Actualmente, a meu ver, Scolari debate-se com 3 problemas em relação ao passado:

Meio campo – A saída de Costinha abre um vazio que pode ser superado de 2 formas. Ou se encontra uma alternativa com funções directamente equivalentes às de Costinha (que, como referi, pode passar por Meira), ou se procura algo novo, mexendo com a forma de jogador do próprio meio campo. Uma coisa é certa, o que se vem observando – e mais uma vez se repetiu contra a Grécia – é um meio campo incapaz de controlar o adversário, muito preso a referências individuais e com operando num espaço demasiado vasto, que vai entre a linha defensiva e o ponta de lança. Assim, facilmente as equipas encontrarão espaços para ultrapassar o nosso pressing.

Extremos – A saída de Figo abre uma vaga difícil de colmatar, o que não deixa de ser algo surpreendente. É complicado fugir à presença de mais um extremo para além de Ronaldo mas a verdade é que, por um lado Simão nunca revelou grande entrosamento na Selecção e, por outro, Quaresma é um recurso perigoso, independentemente da sua genialidade. No FC Porto, Quaresma tem uma equipa que procura potenciar as suas virtudes individuais mas na Selecção, nem isso acontece, nem, por outro lado, Quaresma se revela com maturidade para se adaptar a um jogo mais colectivo. Em termos de características, a melhor opção poderá passar por Nani – mais parecido com Figo na capacidade de integrar o jogo interior. No entanto, a definição da melhor solução passará, em primeiro lugar, por um melhor esclarecimento do que se pretende em termos de modelo e, depois, pela forma revelada por cada uma das opções na altura da competição.

Ponta de lança – O problema de sempre ganhou muito mais força com o abandono de Pauleta. Sou da opinião de que Portugal deve adoptar rotinas que promovam a aproximação de Ronaldo à zona de finalização e, nesse sentido, teria lógica a integração de um jogador móvel. Postiga parece-me o caso mais adequado neste cenário, mas parece-me que Hugo Almeida merece igualmente uma oportunidade. Makukula, já o disse, é um erro de casting (pelo menos para as necessidades da Selecção) e Nuno Gomes uma opção primária, apenas se inverter a crise psicológica em que o seu futebol parece ter mergulhado.

A tudo isto é preciso juntar algumas novidades positivas como a apetência ofensiva de Bosingwa, a capacidade de recuperação que traz Pepe e as características peculiares de Cristiano Ronaldo, que devem ser potenciadas.

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