Volto a um tema que parece já ter sido ultrapassado mas que me parece continuar a merecer uma reflexão, sobretudo num enquadramento diferente daquele que normalmente é feito, ou seja, o plano desportivo.
Tal como na época passada, o aproximar do final de temporada traz mais algumas incógnitas sobre o futuro daquele que foi o mais conceituado jogador português desde Eusébio e uma das principais referências do panorama futebolístico mundial da última década. O futuro de Figo parece passar pela continuidade no Inter ou pelo eclipse do futebol de alta roda, seja com o final de carreira, seja com uma integração numa liga menos exigente, mas bem mais apetecível em termos financeiros. No meio disto tudo, só posso estranhar – ou talvez não – o desinteresse do Sporting.
Parto com o recurso a um anúncio de uma marca de cervejas que, num mercado altamente competitivo, tem apostado enormemente no lançamento de um produto associando-o ao futebol, ao ponto de ter conseguido o patrocinio da principal competição nacional, batendo as casas de apostas até aqui sem rival no que respeita ao investimento desportivo. Ora, para cara do anúncio que actualmente vemos repetido vezes sem conta a preparar o Euro a aposta forte passou por... Luis Figo. Porquê? Porque Figo é e será durante mais alguns anos uma cara que os portugueses (e não só) associam ao sucesso desportivo e com a qual se identificam pela imagem que foi criando ao longo do tempo, quer dentro, quer fora do campo.
É também por tudo isto que vejo o aparente desinteresse do Sporting como algo estrategicamente errado, numa altura em que se fala tanto de receitas e da sua importância para aumentar a capacidade de investimento no futebol. Afinal o que os clubes, tardiamente, parecem já ter percebido é que o que traz receitas de forma sustentada é a ligação do clube aos seus sócios e adeptos, potenciando o valor dos patrocínios e as receitas de quotização e bilheteira (isto sobretudo num país onde as receitas televisivas são limitadas e não parece haver visão corporativa para alterar essa situação). O próprio Sporting que acordou mais tarde do que Benfica e FC Porto para esta necessidade, iniciou recentemente o lançamento de um objectivo no que respeita ao número de sócios, conjuntamente com a venda de um cartão. Ora, não vejo, talvez para além de Cristiano Ronaldo, rosto mais enquadrado com o mercado alvo leonino do que Luis Figo e a pergunta que faria ao gabinete de Marketing do Sporting é quanto valeria em termos de rentabilidade comercial uma época com Figo de leão ao peito? Talvez a Sagres possa dar uma ajuda...
Desconto, no meio de tudo isto, a mais valia desportiva que representaria Luis Figo – afinal, se o Inter o quer manter... – mas mesmo que esse fosse um argumento duvidoso, parece-me que pelo menos o Sporting deveria deixar claro que tudo fez para fazer regressar Figo (que, lembre-se, durante muitos anos afirmou querer terminar a carreira no clube onde se lançou). Aqui, ou há algo que me ultrapassa, ou não tenho dúvidas tratar-se de uma grosseira falta de visão de quem gere o clube.