20.6.08

Portugal-Alemanha: A frustração de uma derrota primária

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O primeiro comentário vai para o sentimento que me fica após esta eliminação. Esta derrota frente à Alemanha representa uma desilusão sobretudo pela forma como aconteceu. Portugal tem evoluído muito a nível internacional nos últimos anos e por isso exigia-se que tivesse outra maturidade e outra preparação para os detalhes do jogo. De repente, parece que voltamos aos tempos em que sabíamos como dominar um jogo, mas não fazíamos ideia de como os evitar perder. Esta é uma responsabilidade que deve ser atribuída, em primeiro lugar, a quem define as prioridades do jogo nacional e é bom que, na hora de virar a página, se pense nisto. Em ganhar. Porque se ainda vamos a tempo de aproveitar esta sucessão de gerações talentosas que têm saído ao nosso futebol, não é dado adquirido que elas durem para sempre...

Low havia referido a intenção de tirar partido da exposição portuguesa em posse. Para isso, primeiro, introduziu um surpreendente e inédito 4-2-3-1 que retirou a Portugal a possibilidade de usufruir da superioridade táctica. Ainda assim, esta alteração apenas forçava a um literal encaixe de forças no meio campo (Petit e Ballack; Moutinho e Rolfes; Hizlsperger e Deco), não impedindo que Portugal se apoderasse da iniciativa do jogo, condição essencial para o aproveitamento de que falava Low. Não foi imediato, demorou cerca de 15 minutos para que Portugal se adaptasse à estratégia alemã, mas mal isso aconteceu, Portugal ganhou confiança, criou a primeira oportunidade de golo e... abriu o espaço para que os alemães inaugurassem o marcador.

Tudo aconteceu em ataque organizado, com grande mérito para os alemães. A bola entrou na esquerda e para aí foram Ballack e Klose, levando Petit e Pepe para uma zona que já tinha Podolski e Bosingwa. Notável a troca de bola alemã a sair da zona de pressão – a lembrar algumas jogadas frente à Polónia – mas Portugal poderia ter tido outra resolução do lance. Primeiro, justificava-se o recuso à falta (e a um provável amarelo) perante a incapacidade de Bosingwa para segurar Podolski, numa jogada que envolvia demasiados defensores nacionais. Depois, Ricardo Carvalho e Paulo Ferreira deviam ter sido suficientes para controlar Schweinsteiger. O problema é que o único que acreditou no lance desde o inicio foi o alemão. Nem Carvalho definiu a posição conveniente ao primeiro poste, nem Paulo Ferreira conseguiu segurar o jogador do Bayern na marcação.

Entre os festejos alemães e a lesão de Moutinho não houve tempo para quase mais nada. Logo a seguir estava Schweinsteiger a bater um livre frontal que colocaria a bola na área. Falou-se de métodos zona e homem-a-homem antes do jogo, mas o que se passou neste e num outro livre do segundo tempo foi simples incompetência (com Ricardo a juntar-se à defesa no lance do terceiro golo). Claramente, e voltou à ideia que tinha à partida, o método é a mais irrelevante das discussões quando a interpretação dos lances é feita de forma tão primária.

O que se viu após o duplo golpe alemão foi apenas um reforço para a frustração da derrota. Portugal depressa adoptou um 4-4-2 com Deco numa das alas até à entrada de Postiga (penso que Scolari deveria ter colocado Deco no meio bem mais cedo, lançando mais um extremo), e Ronaldo nas costas de Nuno Gomes. A alteração é compreensível e pode dizer-se até que resultou. A Alemanha não teve facilidades em controlar Portugal e, por outro lado, raramente ameaçou Ricardo. A frustração surge precisamente aqui, na contradição entre a capacidade da reacção portuguesa e a forma primária como, ainda assim, se perdeu o jogo.

Individualidades
Como ponto negativo, e porque Portugal falhou essencialmente nos lances dos golos, ficam as acções decisivamente negativas de Bosingwa, Ricardo Carvalho, Ricardo e Paulo Ferreira (este, talvez, o mais negativo de todos e não só por ter estado em 2 golos).
Quanto às notas positivas: Deco, claro. Fantástico jogo do 20, que não merecia (nem ele nem quem gosta de futebol) que fosse privado de dar continuidade à sua performance neste Euro. Foi sempre a referência portuguesa para a posse de bola, mesmo quando actuava sobre um flanco, e não fez por menos, interpretando todas as jogadas com grande qualidade. Nota para o lance do primeiro golo. É ele quem lança a transição, libertando-se de forma notável de dois jogadores antes de lançar Simão.
Outro nome em destaque foi, também mais uma vez, Pepe. Outro que merecia ter continuado e, afirmo-o sem problemas: é o melhor central do Euro até agora.

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