15.6.08

O interesse táctico do Portugal-Suíça

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Ter mais de uma semana de intervalo entre a fase de grupos e os quartos de final, conhecendo de antemão aquele que será, com grande probabilidade, o seu adversário é um luxo que muito poucas equipas tiveram na história destes campeonatos. Pelo meio há um jogo que Portugal tem que jogar, mas que deve ser encarado como parte do “plano-Alemanha” e não como um jogo de competição ou mesmo com a obrigatoriedade de fazer uma rotatividade total dos jogadores. Esta oportunidade de usar o treino de forma mais intensa do que é comum para preparar o futuro vem numa altura óptima para Portugal. É que para além dos aspectos que há a melhorar (e que são normais para esta fase), prevê-se que Portugal vá agora enfrentar um novo desafio táctico nesta sua aventura no Euro 2008: jogar contra uma equipa com 2 avançados. Nesse aspecto em particular, a Suíça será um excelente teste já que tem uma matriz de jogo – tanto ao nível do sistema como dos princípios – muito semelhante à Alemanha (e, já agora, a Austria).

Assim, a questão que se coloca agora a Portugal é como é que vai lidar com a poderosa dupla de avançados dos alemães. Aqui há 3 hipóteses:

(1) Jogar com um 2 para 2 na zona central da defesa
(2) Colocar um lateral a jogar por dentro, libertando um dos centrais de acções de marcação directa
(3) Baixar o pivot defensivo para libertar um dos centrais da marcação directa

Dentro destas hipóteses, Scolari já deu uma ideia, nos treinos, de que a sua opção passará provavelmente pela hipótese (3). Nessa perspectiva, ganhará força a ideia de poder haver uma alteração no onze português, com Meira a entrar para a posição de médio defensivo (o que não quer dizer que seja Petit a sair).

Devo confessar, no entanto, que esta opção não é aquela que mais me agrada. Reconhecendo uma enorme qualidade nos avançados alemães (particularmente a inteligência dos movimentos de Klose), creio que Portugal não deve perder a oportunidade de se superiorizar na zona central, perante uma equipa alemã com apenas 2 homens nessa zona. Essa é uma situação que foi fundamental para o sucesso dos croatas frente aos alemães e, creio eu, devemos aprender com isso, nem que seja para obrigar os Low a fazer improvisações tácticas. Assim, admitindo uma maior proximidade do pivot de meio campo aos centrais, creio que é importante a presença de um jogador posicional nessa zona. Para controlar, quer os movimentos de Ballack no espaço entre linhas, quer o “baixar” de um dos avançados para essa zona.

Excluindo, por este motivo, a hipótese (3), creio ser ainda menos aconselhável optar pela (2), já que os alemães utilizam muito o ataque pelos médios ala que cairão sempre que possível na zona dos laterais. Sendo assim, e reconhecendo o risco de jogar 2x2 na zona central, creio que a solução (1) seria a mais adequada das soluções.

Para quem gosta destes debates tácticos, o jogo com a Suíça (que também joga com o 4-4-2 clássico) deverá servir para perceber um pouco melhor quais as opções de Scolari, quer em termos da persistência na solução (3) apresentada nos treinos, quer no que respeita à possibilidade de introduzir novas caras para um eventual ajuste táctico.

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