Contas: Joga-se muito, mesmo faltando tanto
Começo por falar das contas do apuramento. Para mim, estes cálculos são feitos a 4 no que respeita às possibilidades de qualificação, surgindo a Albânia como o ‘joker’ que, tal como antecipou Queiroz antes do empate em Braga, não tendo hipóteses de se apurar, será importante nas contas do apuramento, pelos pontos que venha a tirar aos outros 4. Basicamente, portanto, não creio que os jogos de Malta contem para o que quer que seja em termos de contas finais. A isto há que juntar ainda a hipótese real do segundo lugar servir para um playoff de acesso à África do Sul. Pesando bem as contas, percebe-se que o caminho de Portugal é, agora, bem mais estreito do que aquilo que seria desejável, mas está longe – pelo menos para já – de estar tão fechado como vejo pintar por aí.
Olhando para a classificação e calendário (“extra-Malta”) percebe-se que a importância enorme deste jogo. Uma vitória coloca Portugal em melhor posição do que a Suécia e pode, em termos psicológicos, ser um momento muito importante para inverter o “clima” actual. A pressão ficará, claramente, sobre os suecos nesse cenário, mas a situação será completamente inversa em caso de uma não-vitória portuguesa. Uma eventual derrota, então, lançará, aí sim, Portugal para um cenário catastrófico podendo não chegar, sequer, ganhar todos os restantes jogos para chegar a um segundo lugar. Em resumo diria que, sendo os cenários ainda muito amplos nesta fase, o jogo com a Suécia tem uma importância enorme, diria mesmo próxima de uma decisão, tal a diferença entre as possíveis situações resultantes deste jogo.
Opções tácticas: Ainda à espera da mobilidade ofensiva
Há 2 formas de se olhar para as opções de Queiroz. A primeira é partir de uma compreensão das opções, a segunda é tentar elaborar cenários de opinião descontextualizados com aquilo que preconiza o seleccionador. Sobre as opções de médio-longo prazo já tenho falado mas, como antevisão para este jogo em concreto, parece-me mais útil uma análise a partir das ideias de Queiroz.
A colocação de Pepe a 6 tem a ver com 2 aspectos no meu entender. O primeiro é tipo de jogo dos suecos (que será o mesmo dos Dinamarqueses quando com eles jogarmos) e o segundo é a característica dos nossos laterais. Quer Duda, quer Bosingwa, são laterais muito ofensivos, capazes de dar profundidade ao seu flanco. Pepe pode servir de compensação a esta característica, sendo paralelamente um bom recurso para garantir um equilíbrio de forças no jogo aéreo. Sobre esta estratégia tenho, no entanto, algumas reservas.
Num 4-3-3 como o de Portugal, o “motor” deve ser a zona central do meio campo. A criatividade dos jogadores e a dinâmica dos seus movimentos devem ser elementos muito relevantes do jogo, que não pode recorrentemente entrar nos extremos quando o adversário está zonalmente preparado para bloquear essas zonas. Se pensarmos nos melhores momentos de Portugal nos últimos anos encontramos sempre a criatividade de Deco ou a dinâmica e inteligência das acções de Maniche como pilares mais importantes e nunca um recorrente apelo ao 1x1 dos extremos. Aqui surge outra preocupação. É que Deco está num momento mau em termos de intensidade de jogo (apesar de ser único actualmente na Selecção) e Maniche também não tem jogado com regularidade, não tendo a utilização de Pepe o objectivo de ajudar na dinâmica ofensiva do sector.
Depois, há o trio da frente que vem, desde há muito (antes de Queiroz), padecendo do mesmo mal. A falta de mobilidade. Várias vezes tenho referido esta como uma das características fundamentais para o sucesso de um futebol que cada vez mais é um jogo de espaços. Quando o tal “motor” do meio campo não funciona, Portugal fica limitado à previsibilidade posicional do seu trio ofensivo. O 9 dá uma referência de marcação fixa aos centrais e os extremos passam a ser o elemento previsível e não surpresa do jogo nacional, não lhes sendo criadas condições para que o 1x1 possa funcionar (esta é a razão pela qual Ronaldo ou Simão não rendem o mesmo na Selecção). Os laterais ofensivos podem ser uma boa solução ofensiva mas só se for para aparecerem no espaço criado pela mobilidade dos extremos. Se estes permanecerem fixos, o apoio dos laterais não será grande solução porque aparecerão em zonas povoadas, o que favorece sempre a acção de quem defende.
Por tudo isto, considero que, mesmo não discutindo o sistema ou mesmo as individualidades escolhidas, os problemas da Selecção em termos de dinâmica colectiva se mantêm, não passando pela inclusão de Pepe ou a utilização de Duda a sua solução. Esperemos, ainda assim, por uma exibição inspirada que possa, talvez com um golo que abra o jogo, esconder estes problemas, garantindo aquilo que afinal é o mais importante nesta altura. A vitória.