Não se pode dissociar o decurso do jogo do timing dos golos. Se o Benfica não tivesse marcado tão cedo, teria havido seguramente outra postura e o mesmo se pode dizer dos outros 2 golos. Serve esta introdução como atenuante para a exibição francamente modesta dos encarnados na Figueira da Foz, apesar da vitória. O golo madrugador ditou uma postura de expectativa que seria até inteligente não fosse a incapacidade para dar alguma sequência às transições. É certo que a Naval não conseguiu ser ameaçadora perante o bloco encarnado, mas quem permite tanto volume de jogo dificilmente pode pensar que não irá sofrer algum golo, por muito boa que seja a sua organização defensiva. É tudo uma questão de probabilidade. Mas a minha má apreciação ao jogo do Benfica estende-se também à reacção ao empate. É verdade que o Benfica subiu no terreno – como não? – e que criou 2 excelentes ocasiões, mas a sua organização ofensiva foi sempre um deserto de ideias, mantendo-se pouco ligada. Ao Benfica valeu o aspecto em que realmente é forte, as bolas paradas.
Bloco baixo – Percebe-se porque é que Quique gosta tanto de Suazo. Sem a sua profundidade, a estratégia que o espanhol prefere adoptar fora de casa ameaça tornar-se numa espécie de exercício de treino defensivo contínuo. A Naval teve o mérito de ter bastante certeza na sua construção ofensiva, evitando que o pressing do Benfica funcionasse na sua primeira fase e garantindo que o jogo se estabeleceria no meio campo contrário porque, depois, o Benfica mais não fazia do que tentar lançar Cardozo em condições muito difíceis para dar sequência às jogadas. O resultado foi o domínio territorial que se assistiu e, porque nem tudo é negativo, importa elogiar a forma como o bloco defensivo encarnado conseguiu poupar Moreira de qualquer situação de perigo.
Organização quase nula – Com o golo madrugador, a estratégia conservadora condicionou as possibilidades de assistirmos a um Benfica com maior responsabilidade de assumir o jogo. O golo de Marcelinho trouxe esse novo dado e o Benfica, de facto, subiu no terreno. A verdade, porém, é que a qualidade foi muito baixa. Raras foram as jogadas que tiveram sequência e se o Benfica teve 2 excelentes ocasiões antes do 1-2, importa dizer que uma foi na sequência de uma iniciativa individual de Cardozo e outra na única solução que parece funcionar no Benfica em organização ofensiva: Reyes. O espanhol andou por terrenos bem mais recuados do que é hábito mas foi a mesma garantia para a posse de bola, ora na forma como a segurava, ora na forma como lançou Di Maria em profundidade. Repetindo-me, exceptuando algumas soluções individuais com Reyes em evidente destaque, este Benfica tem o seu verdadeiro ponto forte em termos ofensivos nas bolas paradas.