Esperado mas não assim – Praticamente desde os primeiros jogos caseiros que vinha alertando para a perigosidade das exibições do Benfica. O problema seria a reacção a um jogo que não corresse bem e o Benfica vinha-se expondo muito, raramente resolvendo as suas partidas cedo e normalmente passando por alguns apuros em termos defensivos. Não deixa de haver alguma ironia no jogo em que este desfecho acabou por acontecer. É que, desta vez, o Benfica concedeu muito poucas oportunidades ao adversário que só por um golpe de inspiração e eficácia terá conseguido marcar na Luz. Esta ideia, no entanto, não concorre para a opinião deixada por Quique, de que o Benfica terá feito um bom jogo. Foi-o em alguns aspectos, é verdade, mas voltou a ser manifestamente fraco noutros.
O Vitória não foi o adversário acessível dos encontros no Afonso Henriques mas, é bom dizer-se, até havia feito um melhor jogo na Taça da Liga. O Benfica tentou ser dinâmico lesto a organizar, não dando tempo ao Vitória para se posicionar e isso, associado a alguma inspiração de Reyes e Di Maria, ajudou a levar a bola com muita frequência até às imediações da área de Nilson. O problema foi a definição no último terço. Poucas vezes o último de passe encontrou o destino ideal e nem sempre houve uma movimentação correcta para que tal pudesse acontecer. Por isso a escassez de oportunidades até ao 0-1. O Vitória foi, dito isto, essencialmente uma equipa que soube sofrer e aproveitar depois um lance em que expôs o tal problema do espaço entre linhas, obrigando os centrais encarnados a sair da sua zona. É importante que se diga, porém, que houve mais oportunidades para o fazer, sendo que várias vezes a opção de passe não terá sido a melhor.
Cardozo e Aimar – No Benfica, não posso deixar de referenciar 2 exibições pela negativa. Cardozo esteve francamente desinspirado, perdendo demasiadas bolas e dando pouca mobilidade ao ataque. A saída do paraguaio, apesar de tudo, não me pareceu muito acertada, dado o tipo de jogo que se previa acontecer, mesmo com 0-0, na última meia hora. O outro nome é Aimar. A sua utilização a receber bolas de costas para a marcação é um contra senso com o seu ponto forte. Aimar poderá render mais noutra função, mas no actual enquadramento não tem uma produção que represente uma mais valia regular para o futebol do Benfica, sendo até questionável até que ponto Nuno Gomes não seria uma melhor solução.
Quique – Esta derrota, naturalmente, retira grande parte das esperanças encarnadas na recuperação do título. Embora falte ainda muito tempo para que tal seja uma fatalidade, esse é o sentimento normal de quem precisa de recuperar terreno e acaba por ver mais do que duplicar a diferença para o Porto. Quique começa agora a ser uma figura mais amplamente questionada. Desde a pré época que venho apontando problemas tácticos no modelo do treinador espanhol. Da mesma forma que o faço, digo que nem a qualidade de uma equipa técnica se esgota na sua visão táctica, nem Quique é um treinador incompetente ou incapaz. Provavelmente não havia consciência deste perfil quando se escolheu o treinador, mas o futuro terá de ser encarado olhando para os pontos fortes e fracos do treinador e equipa técnica, tal como eles são e não ao ritmo das emoções de imprensa e adeptos que fizeram dele mais um exemplo do espaço curto que existe entre ser-se bestial e besta.