É um tema complicado e que, creio eu, deixa dúvidas em quase todos. O surgimento desta questão tem a ver sobretudo com a evolução do mundo em que vivemos e, em particular, do futebol. Isto é, hoje há muito mais casos de pessoas e jogadores que não têm apenas uma “pátria”. Quer por motivos de ordem genética, quer por aspectos culturais. Sou, antes de mais, um apreciador do futebol de Selecções que considero ser hoje, e salvo algumas excepções ao nível de clubes, o que resta da “pureza” da identificação cultural entre adeptos e jogadores.
Reflectindo bem sobre a matéria, só posso chegar a uma conclusão. Se um país reconhece uma pessoa como seu cidadão não pode de forma nenhuma ser o futebol a discriminar esse cidadão que tem os mesmos direitos que os outros. Aqui, o que me parece importante é não inverter a ordem lógica das coisas. Ou seja, um jogador deve ser seleccionável porque é (e quer ser) cidadão desse país e não, ser cidadão do país porque quer ser seleccionável. Aqui há 3 eixos importantes a ter em conta: genes, cultura e vontade. A vontade é o único que deve ser omnipresente em todos os casos, já que só faz sentido uma pessoa ser cidadã de um país, ou representante de uma Selecção se o quiser ser. Depois tem de haver pelo menos um ligação forte em termos culturais ou genéticos. Aqui, normalmente coloca-se a questão apenas em relação aos casos em que não há ascendência genética da mesma nacionalidade, mas eu coloco a pergunta ao contrário. Então e nos casos em que não há qualquer ligação cultural? Por exemplo, em Portugal temos os casos de Pepe, Deco e em breve Liedson. Mas também temos os casos de Amaury Bischoff ou Manuel da Costa que são descendentes de portugueses, mas têm uma ligação cultural praticamente nula ao país, não dominando sequer o português. Quem é “mais português”, uma pessoa que fala a lingua do país e que nele vive há 5 ou mais anos, ou alguém que tem ascendência portuguesa mas que não fala português, nem nunca viveu no país?
Percebe-se qual a posição para a qual Queiroz está mais inclinado, lamentando-se que não a clarifique de forma mais objectiva. O que se lamenta também é que ainda exista tanto preconceito em torno de um tema que, por dizer respeito ao futebol, não deixa de ser uma questão social muito sensível. Havendo vontade e enquadramento legal para ser cidadão de um país e jogador de uma Selecção, não pode ser o futebol a dar um exemplo de discriminação entre pessoas com os mesmos direitos.